IX. Livros e Vinho

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Emily:

Lá estava eu, toda caídinha pelo William, sendo levada para a casa dele! Meu Deus, o que deu em mim? O que esse cara estava me causando?? Nunca antes eu fiquei desse jeito por homem nenhum, em um período tão curto de tempo. Certeza que ele usava seus "dons vampíricos" para me hipnotizar, não era possível... ou talvez eu só fosse emocionada mesmo.

Me sentia envergonhada de ter surtado e invadido o consultório, gritado com o doutor. Tive medo que William me achasse louca. Porém, ele pareceu compreender.

Debaixo dessa camada de vergonha, estava tensa também por ser "fácil", quero dizer, ele mal me chamou para ir à sua casa e eu prontamente aceitei. No caminho, me perguntava o que acontecia comigo.

Eu não conseguia colocá-lo no patamar de um homem comum, desses que só querem sexo e pronto. Ele era tão elegante, culto, diferente... Como eu o colocaria nesse nível? Ainda assim, existia um receio em mim, o medo de me tornar descartável, o medo trágico de ser abandonada. Isso seria horrível! Me conhecendo como conheço... certeza que enlouqueceria. E só de pensar na possibilidade, ficava devastada.

Afastei esses pensamentos  e por via das dúvidas, só para não parecer muito acessível, disse que eu teria uma reunião no dia seguinte bem cedo, com os organizadores do teatro. Eu não mentia, realmente haveria uma reunião. Mas a minha vontade era de desligar o celular e esquecer o mundo. Na presença dele, eu só queria ele. E o melhor, na casa dele não haveria Alfred para nos interromper, nem me assustar.

Quando chegamos, eu estava ansiosa e tensa como uma adolescente, me sentia meio idiota. Porém, não havia me preparado para o que veria, nem para o que me esperava.

Meu ânimo virou adrenalina ao me deparar com o local. A sua casa parecia ter sido retirada de um filme de terror clássico, era um sobrado alto com torres e um jardim imenso à fachada. Naquela noite sem Lua, as nuvens pairavam baixas e opressoras no céu, o aspecto chegava a ser assustador.

Os portões eram pretos e antigos, descascados de ferrugem, amarrados por grossas correntes, e se não fosse o detalhe de as correntes serem novas, eu teria certeza que era um lugar abandonado, porque o mato crescia sem disciplina, para todos os lados, em emaranhados ameaçadores.

Como era possível atravessar aquele matagal? Imaginava a quantidade de bichos. Aranhas, escorpiões, lagartos, lacraias, ratos, baratas, cobras... Como ele vivia naquela casa? Era um ambiente insalubre, nocivo. Só então eu percebi a dimensão de sua insanidade. Observei-o retirando as correntes.

Uma espécie de mau pressentimento tardio me assolou. William deve ter notado minha cara. Ao abrir o portão, me olhou e sorriu.

- Não se preocupa, sei que parece assustador por fora, mas lá dentro é seguro.

Dei um sorriso relutante e o acompanhei, reunindo coragem. Como o escuro me trazia insegurança, apanhei o celular e acendi o flash para iluminar o caminho. Me dei conta que havia uma pequena trilha em meio às altas árvores anêmicas com troncos esbranquiçados.

Enquanto caminhava, ouvia as folhas secas se partindo sob a sola do sapato, quebrando o silêncio. Olhava pra cima e via os galhos altos e retorcidos se entrelaçando. Levantei o flash para a mansão e contemplei o panorama que se erguia adiante de mim. Suas paredes soturnas, suas janelas com vãos que pareciam olhos vazios, seus juncos esparsos, os minúsculos fungos que revestiam todo o exterior, as calhas pendendo em emaranhados de teias de aranha... era um conjunto sinistro, um verdadeiro quadro alheio à realidade.

- Preciso te pedir uma coisa. - ele disse quando alcançamos o hall de entrada, com uma careta de agonia devido à iluminação do flash.  Imediatamente abaixei o aparelho, apontando pro chão. - Preciso que você fique aqui, só alguns minutos. Eu já volto.

Obsessão de Sangue || Bill Skarsgård ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora