VIII. Faminto

492 37 18
                                    


William:

Eu evitei Marília durante o fim de semana inteiro porque prezava por ela. Se fosse um aproveitador como maioria dos homens, teria usufruído da sua inocência e não só tomado seu sangue como costumava fazer, como também acalmado meus demônios a corrompendo, mas acontece que não sou um homem normal... sou um vampiro e como tal, preciso manter o nível e me controlar.

Depois de três dias me alimentando com sangue de animais, alcancei a terça-feira com a sensação que definhava gradativamente e minha vida dependia de Emily, eu precisava reencontrá-la.

Não tive como ir até sua casa e procurar por ela porque Marília em seu surto de ciúmes havia queimado as informações, então a única opção foi contar com a sorte de revê-la no consultório como costumava acontecer.

Eu cheguei na sessão de terapia com a impressão que, se ela não aparecesse, eu teria que chegar em casa e atacar Marília. Mal me concentrava nas palavras do doutor e mal conseguia conversar, e muito do que eu falava não fazia sentido também. E então aconteceu o inesperado. Alguém simplesmente invadiu o consultório! Quando olhei pra trás, avistei justamente Emily em pessoa, exaltada e ansiosa. O doutor a fitou perplexo e assustado.

- Boa noite! - exclamo ela, com um sorriso forçado e constrangido pro terapeuta, depois voltou sua atenção pra mim, os olhos muito abertos e as orbes azuis faiscando. - Desculpa interromper! Eu tava passando mal de ansiedade, cheguei aqui correndo e percebi que você já tinha entrado na consulta, não aguentei esperar! Eu preciso falar com você, William! Eu quero te pedir perdão por fugir na sexta! Saiba que não foi sua culpa! - falava rápido, a expressão de aflita desanuviou para ser substituída por um olhar de súplica. - Eu.... me perdoa mesmo... eu tava sendo persegu....

- Mas que falta de educação é essa! - o doutor exclamou de repente, interrompendo e se levantando da poltrona. Apontou a porta. - Que insolência! Faça o favor de se retirar!

- É só um minuto, por favor...

- Eu quero que a senhora se retire, imediatamente! - ele prosseguiu. - Onde já se viu? Invadir a consulta assim, gritando?? E se eu estivesse em uma sessão de hipnose? Imagine as consequências!

Emily inspirou ar enchendo os pulmões e em seguida soltou pelas narinas dilatadas, furiosa.

- Cala a sua boca, seu velho idiota! - disse ameaçadora raspando os dentes um ao outro para o terapeuta, deixando-o boquiaberto. - Eu não tô falando com você! Eu preciso falar com o William, é urgente!

Até então eu estive apenas assistindo sentado no divã, quase sem piscar, com a testa enrugada e uma expressão inerte, admirado de ela estar tão necessitada de me encontrar quanto eu estava de encontrá-la. No entanto, ao xingar o doutor, eu me levantei para interromper. Envolvi o seu braço com os dedos, conduzindo-a para a saída.

- Calma, Emily. Está tudo bem, a gente precisa mesmo conversar, isso vai acontecer lá fora, pode ser? Na recepção. - abri a porta. - A minha consulta vai acabar em... - observei o relógio. - vinte minutos e eu já saio.

Emily se retirou e me fitou exausta, haviam lágrimas se acumulando na pálpebra inferior. Dei um sorriso tranquilo para passar conforto e ela assentiu, abaixando a cabeça.

- Desculpa... - murmurou envergonhada. - Sinto muito... eu me exaltei.

- Me espera. Com licença... - pedi e fechei a porta, voltando para a sessão. O doutor ainda estava chocado.

Que merda foi essa? Eu estava abismado também, um pouco assustado. Percebia que a sua urgência  de solucionar nosso desencontro e me rever era quase tão semelhante ao apetite que eu tinha por ela.

Obsessão de Sangue || Bill Skarsgård ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora