XI. Até a Última Gota

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William:

Eu havia desferido dois cortes em Emily, um na coxa direita e outro no seu pescoço - próximo do ombro. E ela se cortou pra mim, na coxa esquerda e no lábio inferior. A cada instante que eu ingeria seu sangue, algo louco acontecia dentro de mim... e eu me sentia um deus. Era sublime!

O sangue dela... O que tinha nele... nunca saberei dizer... mas, com certeza, tinha algo que me entorpecia, que me causava alvoroços, me dava um frio na barriga como jamais tive, e também me aquecia, me acalmava, me acalentava, me abraçava. E os poucos instantes sem consumi-lo, me sentia como prestes a descer de uma montanha-russa, a ansiedade me atormentava, eu precisava de mais, e mais, e mais!

Ferir a pele lisa, branca e macia, ver sua seiva vermelha surgindo, e tomar direto do corte, era como estar no paraíso; e essa ferocidade que crescia no meu interior me tornava poderoso, intenso, capaz de tudo.

Não conseguia parar. Eu poderia mergulhar no seu sangue e viver disso. Não saberia dizer se era o sabor doce e viciante, que enchia meu paladar, como um mel que dava vontade de me lambuzar inteiro... ou a textura quente, excitante, melhor que o prenúncio de um orgasmo.

Estremecia dos pés à cabeça de respirar seu cheiro... Nossa, o perfume de sua pele misturado ao aroma de seu sangue. Selvagem e delicado ao mesmo tempo. Afrodisíaco e especiado. Quase como um animal, eu estava perdendo o controle, eu temia pelo o que aconteceria, porém, era tão bom, que eu só me deixava levar.

E o mais surpreendente, eu contei à ela todos meus segredos, confissões do passado e relatos que ninguém sabia além da minha família. Fatos que nem Marília imaginava.

Falando em Marília, antes de receber Emily, fui até o quarto dela e injetei uma dose pesada de Diazepam intravenoso, para que dormisse até o dia seguinte e não nos incomodasse. Não sei o que faria se as duas se topassem pela casa.

Após aplicar um beijo intenso  em Emily, degustando por inteiro o sangue que saia do lábio cortado, eu procurei recuperar meu fôlego e a encarei de perto, para mergulhar nas íris azuis límpidas. Ela me encarou de volta enfraquecida, com feição de súplica, como se implorasse por compaixão.

Sem resistir, peguei-a no colo, erguendo da poltrona. Passei o braço por debaixo de suas coxas e rodeei suas costas, me coloquei de pé. Emily girou a cabeça, surpresa e confusa por ser retirada do lugar.

- O que tá fazendo?? - perguntou ao se ver ao meu colo. - Onde tá me levando?

Caminhei para fora da biblioteca, saindo para o corredor. Fomos recebidos pelo frio e pelo escuro. Ela envolveu os braços no meu pescoço.

- Estou te levando pro meu quarto. - respondi.

- William... -  sussurrou, havia insegurança em seu tom. - Fala a verdade pra mim... Você faz com as outras garotas o que tá fazendo comigo...

Alcancei o saguão principal da casa e comecei a subir as escadas para o andar superior.

- O que eu estou fazendo com você?

- Me persuadindo a te alimentar...

- Não. Você acha que eu fico seduzindo mulheres pra beber o sangue? Eu te falei que você é a primeira pessoa que me visita. Teve uma época quando eu cheguei aqui, que eu era novo e saia com pessoas com fetiche estranho. Mas parei de fazer isso. Te contei, também.

Cheguei no corredor do segundo andar e virei de costas para a porta do dormitório principal, empurrando para abri-la.

- Isso que você tem, é um fetiche? - ela indagou.

Obsessão de Sangue || Bill Skarsgård ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora