XVI. Seu Cheiro é Tão Bom

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William:

Em outra ocasião, em um mundo onde não existisse Emily, eu teria resistido. Mas minha obsessão pelo seu sangue perfeito fez tudo decair, fez o sangue de Marília se tornar repugnante, fez minha fome se tornar devastadora, e meu autocontrole desaparecer.

Aquele William sensato de antigamente não existia mais, a ira se transformou em frenesi e eu precisava provar o sabor da desconhecida.

Sem pensar direito, avancei para a cama, agarrei a sua cintura com um braço, enfiei os dedos da outra mão entre os fios de seu cabelo e puxei. Fiz ela inclinar a cabeça para a lateral, e passei a extensão de minha língua com vontade pelo sangue que descia cálido e lento no pescoço. Colhi, com minha saliva, a seiva vermelha de sobre a pele morena e abocanhei o corte próximo da jugular, sugando faminto.

Fechei os olhos e senti seu corpo pequeno agonizando, se debatendo. Gemia nervosa, com medo. Coloquei força no abraço para mantê-la quieta. Mordisquei e voltei a chupar, arfando baixo e satisfeito por finalmente receber o liquido vital delicioso que superava o sabor de Marília, afastando o gosto horrível ingerido na noite anterior.

Alguns goles depois, percebi que não chegava aos pés do sangue de Emily. Não tinha jeito... Eu jamais encontraria alguém que a superasse. Como a desconhecida chorava e contestava, eu a larguei e me coloquei de pé.

Limpei a boca com o dorso da mão e olhei para Marília. Ela dividia a atenção entre eu e a outra, com seu sorriso louco. A garota morena pendeu a cabeça pra trás, quase desmaiando, tomada por fraqueza.

- Gostou, senhor Skarsgård?? - Marília perguntou, acariciando os cabelos da jovem. - Por que não bebe mais? Ela é mais gostosa que a Emily, não é??

- Ela está sob trauma. - avisei, com a respiração intensa. - Você não deveria ter feito isso... ter trazido pra cá...

- Por que não?? Ninguém vai saber! Ela é nossa agora, senhor, ela é sua!

- Onde você a pegou, Marília?

- Na rua... ninguém viu, eu juro! Marília foi muito discreta!

- Cuida dela, cuida desse corte no pescoço dela, ainda tá sangrando... É sua responsabilidade agora. - avisei, preocupado e apreensivo por ter aquela menina em casa e sem ideia do que fazer agora.

- Pode deixar! - exclamou feliz como se ganhasse uma boneca nova. - Marília vai cuidar direitinho da... da...

- Inventa um nome. - murmurei e virei as costas, decidido a sair dali porque a situação ficava mais estranha a cada segundo.

- O senhor gostou do presente?? - ouvi Marília gritar antes que eu atravessasse a porta aberta. Fechei sem responder.

Desci as escadas caracol e voltei para a biblioteca com uma sensação estranha. Toda minha vida agora parecia tecida em inconsequência e incoerência.

O impacto daquele sangue não me fez bem, era familiar, com um resquício de Emily, no entanto, sem o mesmo efeito, sem causar a mesma reação.

Eu precisei ficar sozinho e parado por horas no escuro, sentado à poltrona, degustando o vestígio no meu palato, para me dar conta que o verdadeiro prazer não estava na composição do sangue de Emily, e sim no que eu sentia por ela.

Era isso que o tornava especial. De qualquer maneira, era imprescindível que não tivéssemos contato.

Decidi que tentaria me aproximar da prisioneira daqui uns dias, quem sabe com paciência, ela se tornasse amigável e servil como Marília.

Obsessão de Sangue || Bill Skarsgård ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora