William:Na sexta-feira, decidi assistir a peça de Emily. Precisava ver com meus próprios olhos a obra teatral dela e ter minhas próprias conclusões. Inevitavelmente, criava altas expectativas, com certa ansiedade de conhecer melhor a mente dessa mulher intrigante.
A apresentação se chamava "Na companhia dos Ratos" e contava com pequena equipe de atores e organizadores para o espetáculo. Era a noite de estreia então eu imaginava que a plateia estaria lotada, porém ao chegar, encontrei muitos lugares vagos e pouca gente. Me recordei das críticas quanto ao drama exagerado de suas obras recentes, talvez agora as peças de Emily Hartzler fossem para um público em específico.
Tratava-se de uma noite enluarada, a névoa suave serpenteava baixa pelas ruas e o frio estava agradável. Comprei meu ticket e me sentei no lugar à frente. Quando as luzes se apagaram e os atores entraram no palco, o ambiente foi sobrecarregado de uma atmosfera sinistra. As sinfonias, diálogos e expressões corporais dos atores eram o conjunto intrínseco de uma obra complexa sobre sentimento, morte e culpa. Contava sobre um homem alcóolatra que foi abandonado por todos, injustamente sentenciado à morte por um crime que não cometeu, e assim passou seus últimos dias aprisionado na masmorra lutando contra demônios do passado que envolviam culpa, vícios, medo, horror e penitência; em monólogo com a única companhia, os ratos, até finalmente ser enforcado em praça pública.
Na Companhia dos Ratos me emocionou e me aterrorizou, me despertou reações inesperadas e me arrebatou. Era inacreditável que, mesmo com poucos atores e pouca produção, foi a peça com diálogos mais profundo que já assisti.
Ao terminar, me levantei para aplaudir, com lágrimas nos olhos. Definitivamente, Emily Hartzler era uma dramaturga esplêndida, e de certo que nem todos possuíam estômago pra apreciar.
Na saída, à porta do edifício, eu a vi de costas. Seus cabelos negros eram compridos passando da altura do quadril, imensos e lisos, facilmente reconhecível. Usava vestido preto e longo.
Conversava entusiasmada com um grupo de pessoas, provavelmente a parabenizavam. Me aproximei devagar com as mãos no bolso do sobretudo e parei às suas costas. De onde estava, pude sentir o perfume doce dos seus cabelos, que lembravam especiado quente e algo de floral branco. Emily parou de falar e virou-se para mim, uma vez que as pessoas à sua frente me olharam.
Sua feição de surpresa encheu meu coração de algo que não saberia descrever. Ela definitivamente não esperava me ver ali. Colocou a mão delicadamente sobre o peito, em sinal de espanto.
- William!! - exclamou, boquiaberta. O rosto arredondado e as bochechas cheinhas logo avermelharam. - Que... surpresa... como...
- Boa noite. O que você faz aqui? - perguntei.
- Como assim? Eu sou a autora dessa peça... você assistiu??
Mudei minha expressão, de sorriso calmo para espantado.
- Está brincando?? - apanhei o folheto da apresentação do meu bolso, que nos entregam com ticket à entrada. Abri e encontrei as informações a respeito da peça, como direção, atores e autores. Até alcançar "escrito por: Emily Hartzler" - Essa Emily é você, então?
Ela estava rindo para minha surpresa. Seu riso era delicioso e espontâneo, e as covinhas que se formavam na bochecha eram encantadoras. O grupo de pessoas com quem conversava dispersou, agora éramos só nós dois à calçada.
- Sim! Essa Emily sou eu! Não acredito, você veio assistir, isso é incrível! Me diga, o que achou??
- Eu costumo sempre ir ao teatro, sempre que sei de alguma estreia, então... - expliquei, guardando o folheto. - Foi incrível. É difícil isso acontecer, mas me emocionou bastante, o sofrimento do Domenico é intangível. E é tudo tão etéreo, a dor dele flutua e nos alcança, como se, mesmo sendo inocente, nos fizesse pensar e repensar na nossa própria culpa, nos nossos próprios erros. É clara e pesada a reflexão e a amargura, a angústia e a morbidez do homem que se vê incapaz de enfrentar o destino certo a todos os seres vivos: a morte. Ah, é claro, os atores também foram maravilhosos!
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Obsessão de Sangue || Bill Skarsgård ✓
VampirDARK ROMANCE+18 William acredita ser um vampiro, essa condição se chama Síndrome de Renfield. Desde que foi diagnosticado, tem vivido uma constante ambiguidade entre a realidade e fantasia. Ao conhecer Emily, uma mulher intensa e sensível, cheia d...