XV. Um Presente para o senhor Skarsgård

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William:

Passou uma semana desde que eu entreguei Emily com hemorragia para o taxista levá-la às pressas pro hospital. Durante esse tempo, me resguardei para uma espécie de abstinência, porque precisava superar a compulsão pelo seu sangue. Foi extremamente difícil, tanto chegar a essa conclusão quanto me adaptar com a ideia, mas eu sabia que era o melhor, pra mim e pra ela.

Eu era um risco, quase a matei, esgotei o sangue de seu corpo por puro apetite, e era notável que quanto mais nos mantivéssemos próximos, pior seria, porque ela também não tinha limites.

Aproveitei esse período em que Emily estava internada, para evitar Marília, porque desde que ela me viu com a mulher em casa, entrou em um surto de ciúmes interminável e eu preferia me esquivar. Dessa forma, terminei por não ingerir o sangue dela também, o que acredito ter sido melhor. Não queria, de jeito nenhum, me colocar em prova.

Era óbvio que, todos esses dias com sangue de animais, fiquei fraco e esfomeado. Era necessário suportar, eu precisava aprender a domar a criatura que Emily despertou em mim. Se eu não fosse capaz de ter autocontrole, não seria capaz de nada.

Foi com extremo pesar que me dei conta que não poderia me reaproximar de Emily, ou acabaria não resistindo. O gatilho para machucá-la e tomar seu sangue de forma desregrada era nosso contato físico. Então o sensato seria não vê-la nunca mais. Isso me aborrecia profundamente, me naufragava em uma melancolia enorme, e toda a fraqueza que me dominava aumentava de dimensão refletindo meu estado de espírito.

Maior parte do tempo eu dormia, seja de dia ou noite; e quando estava acordado, tentava me concentrar no trabalho pra manter a mente ocupada.

Apesar de destruído, tomei algumas providências por precaução. Imaginava que o estado que Emily chegou no hospital chamaria a atenção, caso investigassem a origem de seus ferimentos, certamente chegariam até o taxista. E a possibilidade de ele me entregar e me prejudicar eram enormes.

Decidi ligar para o detetive que eu costumava contratar os serviços e falar com ele.

- Boa noite, tenho um assunto urgente. - disse pelo aparelho celular.

- Pode falar. - ele respondeu.

- Tem um taxista que eu chamei pra me acudir esses dias, e eu tive alguns problemas com ele. Preciso que o investigue pra mim. De preferência, que encontre algo que o incrimine.

- Qual o nome?

- Mark Kavinsky.

- Certo, vou reunir o máximo de informações que eu puder e te ligo novamente.

- Espera, tem outra coisa. Você conseguiu informações sobre o Alfred Herbert? Que eu te pedi há umas semanas.

- Sim, posso te entregar hoje.

- Não... - falei, porque apesar de curioso, não fazia sentido eu sondar o passado de Emily agora, já que pretendia evitá-la. - Pode me entregar depois quando tiver em mãos a pasta do Mark Kavinsky.

- Combinado.

Ao desligar a ligação, reparei que Marília me observava escondida, à porta do escritório-biblioteca. Eu estava de pé ao lado da mesa presidencial, repousei o celular e a olhei de volta. Era a primeira vez, desde que ela viu Emily em casa, que não gritou comigo nem proferiu ofensas.

- Quer conversar? - chamei com cautela.

- Não, Marília ainda está muito brava e decepcionada com o senhor Skarsgård.

- Vou continuar meu trabalho, se quiser falar comigo, já sabe... - avisei voltando a atenção pra caixa com livros recém publicados da minha editora.

Obsessão de Sangue || Bill Skarsgård ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora