08 - Chá de lingerie

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— Por que as coisas com glitter rosa sempre sobram pra mim?

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Por que as coisas com glitter rosa sempre sobram pra mim?

Reclama, colando a última letra da frase “Chá de lingerie”.

JP desfere um tapa na cabeça dele.

— Deixa de ser reclamão, cara, é uma surpresa pra sua melhor amiga.

Bufa e esfrega os braços.

— Sabe o que não será uma surpresa? Se no casamento eu ainda estiver brilhando — resmunga e tenta roubar uma trufa em formato de rosa que eu fiz com chocolate branco e corante vermelho. Dou um tapa em sua mão e ele me olha indignado.

— Não tenho direito nem a um docinho?

— Ué, achei que você não gostasse de glitter — zombo, me referindo ao brilho dourado que coloquei sobre o doce.

Cerra os olhos para mim.

Sorrio debochada.

Nossa relação está esquisita desde aquele abraço estranhamente erótico. Evito a todo custo ficar sozinha com ele porque estou verdadeiramente preocupada com as reações do meu corpo e do meu coração a ele.

Obviamente Gustavo percebeu e isso parece instigá-lo, tornando suas investidas mais frequentes. Uma indireta aqui, um sorriso malicioso ali, vez ou outra começa a cantar a música que cantou outro dia, que descobri se chamar Relógio Parado. Nem vou falar sobre o que os olhares intensos fazem comigo.

Gustavo se inclina sobre mim, me obrigando a me inclinar para trás. Olho para os lados meio assustada, mas Letty e JP estão ocupados discutindo se é melhor forrar a mesa de presentes com a toalha rosa ou a vermelha.

Mais aliviada, volto minha atenção para Gustavo. Ele sorri e sai correndo, só percebo o porquê quando a trufa escorrega da sua mão, se abrindo toda ao se chocar contra o chão. Dou risada enquanto ele xinga.

— Bem feito. Agora limpa isso aí e vaza daqui, desde que eu cheguei você já deu um grande desfalque nos doces.

— Não nas trufas.

— Gustavo, deixa a mesa de doces em paz e vai opinar na bendita toalha de mesa antes que Letícia agrida seu primo.

— Um doce. Só um — pede manhoso.

Suspiro rendida. Pego um dos doces e ele se aproxima com a boca aberta, antes que eu absorva que ele quer que dê o doce em sua boca, seus lábios macios envolvem meus dedos, ofego quando sua língua os acaricia lentamente.

Assisto e sinto tudo em choque.

Depois de derreter meu cérebro, Gustavo pisca o olho direito e se afasta, o sorriso safado moldando os lábios rosados. Pega um guardanapo na mesa, recolhe o cadáver da trufa no chão e sai, se aproximando de Letty e João Paulo.

Após longos segundos de inércia, viro meu corpo para a mesa, me esforçando para lembrar o que estava fazendo. Mas não consigo, meu cérebro ainda parece ter a consistência de um mingau.

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