29 - Coração estúpido

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— Você pode por favor parar de agir como a droga do estudante de psicologia e ser apenas o meu primo essa noite?

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— Você pode por favor parar de agir como a droga do estudante de psicologia e ser apenas o meu primo essa noite?

— Não falei nada.

— Mas fica me olhando desse jeito esquisito e analítico.

João Paulo tem duas versões: o estudante de psicologia que sempre parece analisar tudo e todos, e o cara descontraído e fuxiqueiro que às vezes perde a paciência comigo e me pressiona a falar as coisas de um jeito meio indelicado.

— Vou tentar parar. Mas é difícil, quando o estudante de psicologia e o seu primo querem a mesma coisa: saber porque você está tão morgado.

Bufo.

— Já disse: a Barbie me deu um pé na bunda.

— Por motivo nenhum?

Rio sem humor.

— Eu sou um idiota estupido que abriu o coração. Acontece que ela não queria o que tinha dentro.

— Sangue e veias? — Faço cara feia para ele. — Tudo bem. Você não tá de bom humor, já entendi. Pode ser mais claro? O que exatamente aconteceu? O que levou ao término?

Ergo as sobrancelhas, irritado.

— Estou perguntando como seu primo.

Tomo mais um gole da cerveja e pouso a garrafa na mesa. Observo uma gota de água escorrer pela superfície verde, como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

— Guga?

Suspiro.

— Eu me declarei e sugeri que a gente oficializasse o relacionamento, mas ela me rejeitou. Disse que sou novo demais e que nossa diferença de idade é grande demais. Ela já tem a vida feita e eu... Bem, eu tô apenas começando. Aparentemente ela não se importa de dormir comigo sendo tão mais novo, mas me namorar não dá — uso um tom meio venenoso sem querer, a mágoa muito presente em minha voz.

Tomo outro gole, antes de continuar.

— Eu nunca me importei com nossa diferença de idade, isso não atrapalhou nossa relação em momento nenhum. Eu percebia que isso a incomodava e até conversei sobre isso algumas vezes, obviamente foi em vão. Mas sabe o que é pior, JP? Ela em momento algum disse que não sentia nada por mim, porque ela sente algo. Ela gosta de mim apenas se recusa a abrir mão dos próprios preconceitos.

Esfrego as mãos no rosto, totalmente frustrado.

— Talvez não seja nem resistência em abrir mão dos preconceitos, talvez ela esteja com medo do julgamento. O mundo é uma merda para as mulheres, Guga. Uma mulher mais velha com um cara jovem é vista como papa anjo ou coisas piores, mas uma menina com um homem mais velho não choca tanto. Nós temos o que Hellen costuma chamar de pênislégio.

Abro o primeiro sorriso em dias.

Eu adoro Hellen e as doidices dela.

Acho que o nome é auto explicativo. Pênislégio, segundo Hellen, é basicamente o privilégio que nós homens temos por nascermos com pênis. Segundo ela, nós já chegamos ao mundo queimando a linha de largada.

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