Adeus ao fim do começo

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Eu bebi tudo que há para beber
Eu pensei tudo que há para pensar
Eu desaparecerei para sempre
Se você quiser que eu o faça
Anyone But You - Hinder

...

Naquela noite há dez anos atrás, o ar estava impregnado de uma tensão palpável quando S/n empurrou as portas do bar da vila. A luz âmbar emitida pelas velas dançava nas paredes de madeira envernizada, criando sombras intrincadas que pareciam dançar ao ritmo da música animada que ecoava pelo ambiente. Os murmúrios das conversas misturavam-se com o tilintar dos copos, criando uma sinfonia peculiar que enchia o ar com uma sensação vibrante de vida.

S/n avançou pelo salão, seu coração batendo mais rápido à medida que se aproximava da mesa onde Shanks costumava se sentar. Seus olhos varreram a multidão, procurando por aquele rosto familiar, mas o que encontraram fez seu estômago se contorcer em uma mistura de raiva e desespero.

Lá, no canto escuro do bar, estava Shanks, tão próximo de outra mulher que seus corpos pareciam quase se fundir em um só. A mulher sorria para ele, seus olhos brilhando com uma cumplicidade que S/n não podia ignorar. Uma onda de emoções contraditórias a atingiu, desde a incredulidade até a fúria avassaladora.

S/n não confrontou o homem naquele momento, apenas virou as costas e se dirigiu ao navio, seu coração martelando no peito enquanto se lembrava de todos os momentos que passou do lado homem que um dia a fez se sentir completa. Benn foi quem correu atrás dela, deixando o seu capitão por responsabilidade de Yasopp.

— S/n! - o imediato gritou pela rua tentando acompanhar os passos rápidos dela.

Ela se virou em direção ao amigo e Benn sentiu o coração apertar ao vê-la daquele jeito. As lágrimas que caiam denunciavam tudo que seu coração sentia naquele momento.

— Se você veio me dar alguma explicação, saiba que eu não preciso de uma. O que eu vi já é o suficiente.

— S/n... se acalme, nós não sabemos o que estava acontecendo.

A mulher estava atordoada, incapaz de processar totalmente as palavras cortantes de seu melhor amigo. Uma sensação de déjà vu a envolveu, como se estivesse revivendo uma dor antiga que pensava ter superado. Ela virou as costas, deixando para trás o que antes era seu refúgio pessoal, agora transformado em um cenário de desolação. Cada objeto no quarto carregava consigo uma lembrança de Shanks, lembranças que antes lhe traziam felicidade, mas que agora a atormentariam pelo resto de seus dias. Cada risada compartilhada, cada momento de ternura, tudo isso parecia tão distante agora, como se pertencesse a outra vida. Ali, naquele espaço que antes era seu santuário, ela percebeu que tudo havia chegado ao fim. Com o coração pesado, ela começou a arrumar suas coisas, preparando-se para partir, sabendo que não havia mais lugar para ela ali.

Do lado de fora do quarto, Benn e Lucky Roux trocaram olhares preocupados ao ouvirem os soluços abafados e os gritos contidos de S/n. Eles conheciam bem a força de sua amiga, sabiam que ela não se permitiria fraquejar em público, mas também sabiam que por trás da máscara de bravura havia uma alma ferida. Um pressentimento sombrio se instalou em seus corações, uma sensação de que algo terrível estava prestes a acontecer, algo que mudaria para sempre o curso de sua tripulação.

Quando Shanks voltou ao navio, ela não perdeu tempo em confrontá-lo, suas palavras carregadas de dor e decepção.

— O que diabos estava acontecendo, Shanks? - S/n exigiu, sua voz tremendo ligeiramente com a intensidade de suas emoções. Seus olhos ardiam com uma mistura de raiva e tristeza enquanto observava o homem que um dia pensou ser o amor de sua vida.

Shanks ergueu os olhos para encontrá-la, uma expressão de surpresa cruzando seu rosto antes de ser substituída por uma máscara cuidadosamente elaborada de calma. Ele tentou explicar, suas palavras tropeçando enquanto lutava para encontrar uma desculpa plausível para sua proximidade com a outra mulher.

Mas as desculpas de Shanks caíram em ouvidos surdos enquanto S/n enfrentava a dura realidade de sua hipocrisia. Com o coração pesado, ela tomou uma decisão impulsiva naquele momento, uma decisão que mudaria o curso de suas vidas para sempre.

— Eu estou indo embora, Shanks - ela anunciou, sua voz ecoando no bar silencioso — Eu vou me juntar à tripulação de Barba Branca novamente, e se você não tiver mais nada para me falar, eu não voltarei.

As palavras pairaram no ar entre eles, carregadas de um significado profundo que nem mesmo S/n entendia completamente. Ela olhou nos olhos de Shanks, buscando por qualquer sinal de hesitação, mas encontrou apenas resignação.

— Se é isso que você quer - Shanks murmurou, sua voz tão baixa que mal era audível.Uma sensação de desolação tomou conta de S/n enquanto ela virava as costas e saía do navio, deixando para trás tudo o que um dia conheceu e amou.

— Espero que nossas despedidas sejam um eterno reencontro - ele sussurrou para si mesmo.

E assim, naquela noite fatídica há dez anos atrás, uma brecha se abriu entre S/n e Shanks, separando-os por uma distância insuperável. O erro de Shanks ao deixá-la partir assombraria seus pensamentos nos anos que se seguiram, uma sombra escura sobre o que um dia foi um amor tão intenso e verdadeiro.

Shanks estava mergulhado em uma profunda desolação após a partida de S/n. Tudo ao seu redor parecia ecoar a ausência dela, cada canto do navio, cada brisa marinha, tudo trazia à tona lembranças vívidas de sua presença. Seu sorriso contagiante, seu toque suave, cada momento compartilhado agora se transformava em uma ferida aberta em seu coração. A cada dia que passava, a dor da perda parecia se intensificar, como se a ausência dela se tornasse mais insuportável com o tempo.

Benn, seu melhor amigo, também estava lidando com suas próprias lutas internas. Um mal-entendido entre ele e Shanks os afastou, deixando uma tensão palpável entre os dois. Meses se passaram sem que trocassem mais do que algumas palavras curtas e tensas. Benn estava magoado, sentindo-se traído pela atitude de Shanks em relação a S/n, enquanto Shanks estava cego pela dor de sua própria perda, incapaz de perceber o impacto que suas ações haviam causado em seu amigo mais próximo.

À medida que os dias se transformavam em semanas e as semanas em meses, a distância entre eles parecia crescer cada vez mais, como se estivessem em lados opostos de um abismo. Shanks se afundava ainda mais em sua solidão, enquanto Benn lutava com o peso de suas próprias mágoas. A amizade que antes os mantinha unidos agora parecia frágil e quebradiça, à beira do colapso.

Shanks sabia, no fundo de seu coração, que S/n ficaria melhor ao passar alguns anos com o pai. Ele reconhecia a importância desse tempo para que ela pudesse crescer, aprender e fortalecer os laços com sua família. No entanto, essa decisão não tornava a separação mais fácil para ele. Pelo contrário, era uma fonte constante de angústia e dor.

Cada notícia que recebia sobre S/n, mesmo que fosse de outras pessoas, apertava seu coração com uma força avassaladora. Ele se encontrava em um estado de constante agonia, imaginando como ela estava, o que estava fazendo, se estava segura e feliz. A ausência dela era como uma ferida aberta que nunca cicatrizava, uma dor persistente que o acompanhava a cada momento do dia.

Por mais que tentasse se convencer de que era o melhor para ela, a verdade é que a falta de S/n em sua vida era uma tortura que ele não conseguia suportar. Cada dia que passava sem tê-la ao seu lado era uma eternidade de sofrimento silencioso. Ele se via consumido pela saudade, pelo desejo avassalador de tê-la de volta em seus braços, onde ela pertencia.

Mesmo que soubesse que era necessário, Shanks se culpava por não ter ido ao encontro de S/n mais cedo. Ele se torturava com pensamentos de que poderia ter feito mais, que poderia tê-la convencido a ficar, que poderia ter evitado essa dor insuportável que agora o consumia. Mas no fundo, ele sabia que estava fazendo o que era melhor para ela, mesmo que isso significasse sacrificar sua própria felicidade.

Heartstrings - Shanks, o ruivoOnde histórias criam vida. Descubra agora