E eu sempre guardarei você comigo
Você sempre estará em minha mente
Mas há um brilho nas sombras
E eu nunca saberei se não tentar
Home - Gabrielle Aplin...
A dor do luto é indescritível, um sentimento que parece perdurar pelo resto da vida. Acompanha de dia, à noite, à tarde, nos sonhos, pesadelos, memórias e pensamentos. De repente, tudo vira lembrança. Você conversa normalmente, e de repente sente vontade de chorar. Anda pela rua movimentada e de repente sente vontade de parar e gritar. Depois de muito tempo, acostuma-se a ficar sem. Sem a presença, convivência, risadas, choros e brincadeiras. Apenas torcendo para que tudo vire lembrança boa. A dor do luto é algo que nunca passa, e ela dói pelo resto da vida.
Naquela noite, foi a primeira em que S/n conseguiu dormir de verdade por pelo menos 5 horas, pela primeira vez não acordou assustada com um pesadelo. O sol nascia, a luz entrava pela janela avisando que o dia seria lindo. A mulher levantou da cama e se alongou, tomou um banho e colocou um vestido verde que combinava com seus olhos.
Preparou uma xícara de café e tentou ao máximo parar de pensar e se concentrar no livro que havia começado, mas não demorou muito para ouvir batidas contínuas na porta.
— Já estou indo! - gritou, para que as batidas cessassem.
S/n calçou suas pantufas e marcou a página onde parou; seu palpite era que Benn ou Yasopp estivessem atrás da porta, e quando abriu, viu que mais uma vez estava certa.
— Cheguei muito cedo? - Benn disse sorrindo.
— Como nos velhos tempos - Ela o abraçou e abriu espaço para que ele entrasse.
S/n e Benn se conheceram na infância, em uma pequena ilha onde a mãe de S/n se encontrava todos os anos com sua melhor amiga, que coincidentemente, era a mãe de Benn. Foi ele quem apresentou Shanks a ela.
— Como você está? - Benn perguntou depois de aceitar uma xícara de café e se sentar.
— Em... choque. Mas vou ficar bem. E como você está?
— S/n. Eu sinto muito por tudo que aconteceu. Tentei te escrever para avisar, mas já era tarde demais.
— Tudo bem, Benn. De verdade, não se preocupe com isso.
— Vou precisar de mais tempo para parar de me preocupar com você.
— Você não respondeu minha pergunta de antes.
— Estou bem... na medida do possível. Com certeza já tive dias melhores.
— Qual seria a graça da vida sem os altos e baixos?
— Você tem razão - ele sorriu — Shanks esteve aqui, não esteve?
— Droga, Benn. Achei que você demoraria mais para tocar no assunto - ela ironizou, servindo mais café para os dois.
— Desculpa... desculpa, mas alguém precisava colocar juízo na sua cabeça. E quem melhor do que eu para isso? Te conheço desde eu tinha cinco anos e você mal havia saído das fraldas.
Ela riu alto, não via Benn há um ano e meio. Não tinha percebido que sentia tanta falta de conviver com uma amizade tão próxima.
— É claro, eu já esperava por isso.
— S/n, agora estou falando sério. É a melhor opção para você no momento. Talvez voltar a desvendar o mar e seus mistérios seja bom para manter sua mente ocupada. Todos da tripulação sentem sua falta, ficaríamos honrados em te apoiar nesse momento. Você esteve lá por nós quando ninguém mais estava, se achar melhor, leve como uma troca de favores.
— Benn... nós dois sabemos como acabou da última vez...
— Não use isso como parâmetro, você e Shanks eram imaturos demais. A situação é completamente diferente agora.
— Não é tão fácil assim.
— Eu entendo que você ainda precisa colocar um ponto final em certas coisas, mas isso não quer dizer que se você aceitar terá que fazer de imediato. Shanks respeita o tempo que precisar, você sabe disso. Se quiser esperar um ano ou dois, tudo bem. A prioridade de todos é te manter segura e confortável.
— Odeio como vocês são sempre tão compreensivos.
Foi a vez de Benn rir — Queremos o melhor para você, pense com carinho. Shanks disse que ficaríamos dois dias na ilha, mas você sabe que se precisar ele fará com que ficássemos mais um mês, nem que tenhamos que rodar a ilha mil vezes para fugir da marinha. Estaremos te esperando para que volte de onde nunca deveria ter saído.
S/n ficou em silêncio observando Benn sair pela porta, deixando-a com um turbilhão de emoções e memórias afetivas da vida na tripulação e a saudade de navegar. A emoção das batalhas. A felicidade genuína de conhecer novos lugares. Novas pessoas. Novas experiências.
A dúvida e a insegurança envolviam S/n como uma neblina densa, obscurecendo seu raciocínio e dominando seus pensamentos. Aceitar a proposta de Shanks de se juntar à tripulação novamente era como caminhar sobre brasas, incerto e perigoso.
As lembranças dolorosas do passado ressurgiam, como fantasmas que assombravam seus sonhos mais profundos. Ela recordava vividamente os dias turbulentos, os conflitos não resolvidos, as palavras não ditas que pairavam no ar, pesadas como chumbo. A cicatriz da última vez em que se aventurou com a tripulação de Shanks ainda latejava em sua alma, uma lembrança constante de que nem todas as jornadas têm finais felizes.
A incerteza era sua companheira constante, sussurrando dúvidas em seu ouvido e fazendo-a questionar cada passo que dava em direção a essa nova oportunidade. Ela se perguntava se era capaz de enfrentar os desafios que certamente viriam, se tinha forças para encarar os demônios internos que a assombravam desde então.
A voz de Benn ecoava em sua mente, tentando dissipar suas preocupações com palavras de encorajamento e apoio. Mas mesmo suas palavras reconfortantes não conseguiam dissipar completamente as sombras que pairavam sobre sua decisão.
S/n ansiava por clareza, por uma visão do futuro que lhe desse confiança para seguir em frente. Ela sabia que a escolha que fazia agora moldaria seu destino, determinaria o curso de sua vida nos próximos anos.
No entanto, em meio à turbulência de suas emoções, uma chama de esperança ainda ardia dentro dela. Era a lembrança das risadas compartilhadas, dos laços que os uniam como uma família improvável, das aventuras que os aguardavam além do horizonte.
E assim, apesar do medo que a consumia, S/n tomou uma decisão. Ela escolheu enfrentar seus receios, abraçar a incerteza e seguir adiante, sabendo que, embora o caminho pudesse ser árduo, as recompensas valeriam a pena. Pois no final, a verdadeira coragem não reside na ausência de medo, mas sim na capacidade de avançar apesar dele.
E ao fechar a porta, S/n sentiu que estava prestes a embarcar em uma jornada que não apenas desvendaria os mistérios do mar, mas também os segredos de sua própria alma.
No meio de tantos pensamentos e decisões, se lembrou da carta que estava escondida no fundo de sua gaveta. Estivera evitando ler o que ali estaria escrito. A última carta de seu pai. Mas sabia que ali estaria a resposta que precisava. Procurou por semanas o momento ideal para enfrentar o medo que corroía seus pensamentos, e não poderia achar momento melhor que agora. Estava na hora de ler a carta, assim poderia seguir em frente.
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Heartstrings - Shanks, o ruivo
RomanceA razão pela qual a despedida nos fere tão profundamente é a conexão inquebrável de nossas almas. Talvez essa ligação tenha existido desde sempre e para sempre. Talvez tenhamos percorrido mil vidas antes desta, e em cada uma delas, nos reencontramos...