❄️CAPÍTULO 17: Como voltar ao normal?❄️

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Nadja

Esse rapaz chegou aqui na semana passada e estava mais roxo do que uma beringela de tanto apanhar. Ele resistiu três dias a mais dos que os outro que se recusaram a trabalhar, eu esperava que ficasse vivo, parecia querer sobreviver com todas as forças.

Eu tentei ignora-lo até então, já vi muita gente chegar e ter um fim nessas celas, era como o destino, sempre empurrando a lama para dentro da boca, deixando todo o mal dentro, se não matava por fora, morria por dentro.

"Não faça isso." — Oscar me alertou.

Já convesarmos a respeito do garoto, mas eu não conseguia resistir. Toda vez que eu olhava para ele sendo chutado e e xingado, pensava que poderia ser o meu próprio filho, que deveria ser tão bonito como ele.

"É só um pouco de comida." — Comuniquei, não iria me demorar, até porque todas as pessoas não duravam muito nessas celas, mas eu me sentiria mal por nunca fazer nada.

Talvez isso fosse vontade e desejo e ter algo com que me preocupar, algo para me puxar para a realidade, de que eu precisava fixar viva pelo bem do meu filhotinho, mesmo quando muitas vezes parecesse que o mundo já tinha acabado.

A Menezes montou um acampamento num antigo presídio desativado. Sabíamos que era alguma instalação abandonada pelo governo e provavelmente em algum país corrupto o suficiente para deixar com que essa louca utilizasse cobaias humanas.

Os grupos variavam de shifters e humanos que estavam no corredor da morte, a maioria das cobaias sem ser da nossa espécie, só servia como carne e corpo fresco para estudos. Esse menino poderia ser só mais um deles, mas no momento estava com fome, machucado e sozinho.

— Comida. — Falei baixinho. Me abaixei e tirei bolo de macarrão cozido amassado de dentro do bolso da minha calça, eu tinha deixado enrolado em pedaço de trapo limpo, já não bastava que estivesse machucado, não precisava ter uma intoxicação alimentar. — Está frio e não tem cheiro, mas vai servir. Comer. — Apontei para a minha boca.

Ele estava amarrado na parede, as correntes eram grossas o suficiente para conter um grande urso pardo. Talvez ele fosse um, apesar do corpo pequeno. Bem, era só um filhote.

— Você... você finalmente veio falar comigo. — Disse em hindu, me surpreendendo. Ele deveria ser algum mestiço de coreano ou tailandês, eu não sabia diferenciar, ele nem mesmo tinha sotaque. — Obrigado.

— Coma, não pense no gosto. — Enfiei metade da pasta dentro da sua boca, olhando ele mastigar de bochechas cheias.

Como eu não poderia me importar? Esse sentimento que a muito tempo foi tirado de mim, queimava.

— Qual o seu nome?

— Cheng... é Cheng Rui.

Cheng?

Isso me era familiar.

— Seu sobrenome é chinês, como veio parar aqui?

"Nadja, volte! Isso é perigoso!" — Oscar me alertou, me olhando ao longe em completo desespero.

— Vim por causa do meu irmãozinho. — Falou para mim e olhou na direção em que o meu marido estava vigiando a gente e a saida do corredor. — Vá, você pode acabar se machucando, obrigado, não irei me esquecer disso.

Enfiei o resto da comida em sua boca e sai apressada, mesmo que fosse impossível de correr estando mancando da minha perna.

Eu fechei a porta por fora e voltei a patrulhar junto com o meu marido, olhando vez ou outra para trás, eu não queria deixar esse rapaz sozinho.

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