Cap-15

563 8 0
                                    

Engolindo em seco, fiquei de joelhos na frente dela, e minha cabeça pendeu para a frente, em derrota. Lutei contra o aperto em meu peito. Por fim, levantei a cabeça. A apreensão estava clara nos olhos de Poppy, como se ela soubesse que o que saísse de minha boca ia mudar tudo.
Mudar a gente.
Mudar a nossa vida inteira.
Acabar com nosso mundo.
— Nós vamos embora — finalmente consegui desengasgar.
Observei seu rosto empalidecer.
Olhando para o outro lado, consegui um fôlego curto e completei:
— Amanhã, Poppymin. De volta para Oslo. Pappa está me tirando de você. Ele nem está tentando ficar.
— Não — ela sussurrou em resposta e então se curvou para a frente. — Podemos fazer alguma coisa? — A respiração de Poppy acelerou. — Talvez você pudesse ficar com a gente? Morar com a gente? Nós podemos dar um jeito. Podemos...
— Não — interrompi. — Você sabe que meu pappa não permitiria. Eles sabem há semanas; já me transferiram de escola. Só não me contaram porque sabiam como eu reagiria. Preciso ir, Poppymin. Não tenho outra escolha. Preciso ir.
Observei uma pétala de cerejeira soltar-se de um galho que pendia baixo. Ela flutuou como uma pena até o chão. Eu sabia que, a partir daquele momento, a cada vez que visse uma flor de cerejeira, eu pensaria em Poppy. Ela passava todo o tempo ali naquele bosque, comigo ao seu lado. Era o lugar que ela mais amava.
Fechei os olhos enquanto a imaginava no bosque, sozinha depois de amanhã – ninguém para acompanhá-la em suas aventuras, ninguém para ouvir seu riso... Ninguém para lhe dar beijos de garoto de explodir o peito.
Sentindo uma dor cortante atingir meu peito, eu me virei para Poppy, e meu coração se partiu em dois. Ela ainda estava parada em seu lugar contra a árvore, mas seu lindo rosto estava inundado de fios e fios de lágrimas silenciosas, e suas mãos pequenas estavam fechadas em punhos que tremiam sobre os joelhos.
— Poppymin — eu disse com voz áspera, finalmente libertando minha dor.
Eu me aproximei dela e a aninhei em meus braços. Poppy desabou sobre mim, chorando contra meu peito. Fechei os olhos, sentindo cada pedaço da sua

dor.
Aquela dor também era minha.
Ficamos daquele jeito por um tempo, até que Poppy finalmente levantou a cabeça e colocou a palma da mão trêmula em meu rosto.
— Rune... — ela disse, com a voz falhando — ... o que eu vou... o que eu vou fazer sem você?
Balancei a cabeça, dizendo silenciosamente a ela que eu não sabia. Eu não conseguia falar; minhas palavras estavam presas no fundo da garganta. Poppy se encostou de novo em meu peito, e seus braços apertaram com força a minha cintura.
Não falamos enquanto as horas se passaram. O sol deixou para trás um céu laranja-queimado. Logo as estrelas apareceram, e a lua também, brilhante e cheia.
Uma brisa fria açoitou o bosque, forçando as pétalas a dançar ao nosso redor. Quando senti Poppy começar a tremer em meus braços, soube que era hora de ir.
Passei os dedos no cabelo grosso de Poppy e sussurrei: — Poppymin, temos que ir.
Ela apenas me apertou mais forte em resposta.
— Poppy? — tentei novamente.
— Não quero ir — ela disse de modo quase inaudível, sua voz doce agora áspera.
Olhei para baixo no momento em que seus olhos verdes se fixaram nos meus.
— Se deixarmos o bosque, vai significar que está quase na hora de você me deixar também.
Passei as costas da mão por suas bochechas vermelhas. Elas estavam geladas ao toque.
— Sem despedidas, lembra? Você sempre diz que despedidas não existem. Porque sempre vamos nos ver em nossos sonhos. Como com a sua avó.
As lágrimas caíam dos olhos de Poppy; enxuguei as gotas com o polegar.
— E você está gelada — eu disse, suavemente. — Está realmente tarde, e preciso levar você pra casa, assim você não terá problemas por perder o horário de voltar.
Poppy forçou um sorriso fraco em seus lábios.

— Pensei que os vikings da vida real não seguissem regras.
Soltei uma única risada e encostei a testa na dela. Depositei dois beijos suaves em cada canto de sua boca e respondi:
— Eu vou te levar até a porta, e na hora em que seus pais estiverem dormindo vou entrar em seu quarto pela última noite. Que tal isso para quebrar as regras? Viking o suficiente?
Poppy riu.
— Sim — ela respondeu, afastando meu cabelo longo da frente dos meus olhos. — Você é o viking de que eu preciso na vida.
Tomando as mãos dela, beijei a ponta de cada dedo e me obriguei a ficar de pé. Ajudei-a a se levantar e puxei-a para meu peito. Eu a envolvi em meus braços, mantendo-a perto. Seu perfume doce entrou pelo meu nariz. Jurei que me lembraria exatamente de como ela se sentia naquele momento.
O vento ficou mais forte. Soltei nosso abraço e peguei a mão de Poppy. Em silêncio, começamos a andar pelo caminho forrado de pétalas. Poppy encostou a cabeça em meu braço, inclinando-a para trás para receber o céu noturno. Beijei o topo de sua cabeça e a ouvi suspirar profundamente.
— Você já notou como o céu é escuro em cima do bosque? É mais escuro que em qualquer outro lugar da cidade. Parece bem preto, a não ser pela lua e pelas estrelas cintilantes. Contra o rosa das cerejeiras, parece algo saído de um sonho.
Inclinei a cabeça para trás para ver o céu, e um sorrisinho brotou no canto da minha boca. Ela estava certa. Parecia quase surreal.
— Só você para notar uma coisa dessas — eu disse, baixando de novo a cabeça. — Você sempre vê o mundo de um jeito diferente de todos. É uma das coisas que amo em você. É a aventureira que conheci quando tinha cinco anos.
Poppy apertou minha mão mais forte.
— Minha vovó sempre dizia que o céu é do jeito que você quiser que seja. A tristeza em sua voz fez meu ar parar na garganta.
Ela suspirou.
— O lugar predileto da vovó era debaixo da nossa cerejeira. Quando me sento ali e olho para essas fileiras e fileiras de árvores, e então para o céu tão preto, às vezes me pergunto se ela estará sentada naquela mesma árvore lá no céu, olhando para as cerejeiras floridas exatamente como nós, observando o céu negro tal como eu agora.
— Tenho certeza de que ela está, Poppymin. E está sorrindo de lá para você, como ela prometeu que faria.

Mil beijos de garoto Onde histórias criam vida. Descubra agora