Cap-17

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— A que horas vamos embora? — rosnei, interrompendo qualquer coisa que ele estivesse tentando falar.
— Saímos às sete da manhã — ele me informou baixinho.
Fechei os olhos; agora eu tinha apenas horas com Poppy. Em oito horas, eu a deixaria para trás. Deixaria tudo para trás, menos essa raiva. Eu ia garantir que ela viajasse comigo.
— Não será para sempre, Rune. Depois de um tempo vai ficar mais fácil. Você por fim vai conhecer outra pessoa. Você vai seguir em frente...
— Não! — eu gritei e me virei bruscamente, jogando a luminária da mesa de cabeceira para o outro lado do quarto. A lâmpada se despedaçou com o impacto. Eu respirava intensamente, com o coração disparado no peito, enquanto encarava meu pappa. — Jamais diga uma coisa dessas de novo! Eu não vou deixar Poppy para ficar com outra. Eu a amo! Você não entende? Ela é tudo pra mim, e você está nos arrancando um do outro.
Observei o rosto de meu pai empalidecer. Dei um passo para a frente.
Minhas mãos tremiam.
— Não tenho escolha a não ser ir com vocês, eu sei disso. Eu só tenho quinze anos. Não sou estúpido a ponto de acreditar que poderia ficar aqui sozinho. — Fechei os punhos. — Mas eu vou odiar vocês. Vou odiar vocês dois a cada dia até a nossa volta. Você pode achar que só porque tenho quinze anos eu vou me esquecer da Poppy assim que uma vagabunda de Oslo me der bola. Mas isso não vai acontecer nunca. E vou odiar vocês cada segundo, até estar com ela novamente.
Pausei para respirar e completei:
— E, quando eu a reencontrar, ainda vou odiar vocês por terem me tirado dela. Por causa de vocês, vou perder anos ao lado da minha garota. Não pensem que por eu ser jovem não reconheço o que tenho com Poppy. Eu a amo. Eu a amo mais do que vocês podem imaginar. E vocês estão me levando embora sem dar a mínima para os meus sentimentos.
Eu me virei, fui até o armário e comecei a puxar minhas roupas.
— Então, de agora em diante, eu não ligo para os sentimentos de vocês a respeito de qualquer coisa. Eu nunca vou perdoar vocês. Os dois. Especialmente você, pappa.
Comecei a arrumar a mala que minha mamma havia colocado sobre minha cama. Meu pappa ficou onde estava, olhando para o chão em silêncio. Por fim ele disse:
— Durma um pouco, Rune. Vamos acordar cedo.

Cada fio de cabelo no meu pescoço se eriçou com a irritação por ele desconsiderar o que eu tinha a dizer, até que ele continuou, em voz baixa:
— Sinto muito, filho. Eu sei quanto a Poppy significa para você. Demorei para contar a você para poupar semanas de dor, porém isso não ajudou. Mas assim é a vida real, e estamos falando do meu emprego. Você vai entender um dia.
A porta se fechou atrás de mim, e me joguei na cama. Arrastei a mão até o rosto, e meus ombros caíram quando olhei para o armário vazio. Mas a raiva ainda estava lá, queimando no estômago. Se bobear, queimando mais que antes.
Eu tinha certeza de que ela estava ali para ficar.
Joguei a última das minhas camisas na mala, sem ligar para o quanto ficariam amarrotadas. Fui para a janela e vi que a casa de Poppy estava na escuridão, com exceção da luz noturna dizendo que a barra estava limpa.
Depois de trancar a porta do meu quarto, eu me esgueirei pela janela e corri através da grama. A janela estava levemente aberta, esperando por mim. Deslizei por ela e fechei bem.
Poppy estava sentada no centro da cama, com o cabelo solto e o rosto recém-lavado. Engoli em seco ao ver como ela estava linda de camisola branca, com os braços e as pernas nus, e a pele tão suave e macia.
Cheguei mais perto e vi o porta-retratos em sua mão. Quando ela olhou para cima, percebi que tinha chorado.
— Poppymin — eu disse suavemente, e minha voz falhou ao vê-la tão chateada.
Poppy colocou o porta-retratos na cama e deitou a cabeça no travesseiro, dando tapinhas no colchão ao lado dela. Eu me deitei junto a ela o mais rápido que pude, ajeitando-me até que houvesse apenas centímetros entre nós.
Assim que vi os olhos vermelhos de Poppy, a raiva dentro de mim pareceu se inflamar.
— Querida — eu disse, cobrindo minha mão com a dela —, por favor, não chore. Não suporto ver você chorar.
Poppy engoliu em seco.
— Minha mãe me disse que vocês vão embora de manhã bem cedo. Baixei os olhos e assenti.
Os dedos de Poppy correram por minha testa.
— Então só temos esta noite — ela disse.
Eu senti um punhal atravessar meu coração.

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