abismo

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Caminhei calmamente entre os corredores enormes do estádio, nunca sequer pensei que poderia ser tão grande quanto hoje. Meus patins estavam com a proteção de borracha, e tinha a intenção de encontrar um lugar tranquilo para retirá-la e pegar meus sapatos no armário de Childe. O barulho dos meus pés ecoava no corredor vazio, uma cadência quase hipnótica que me ajudava a acalmar os pensamentos turbulentos.

Nesse meio tempo, havia me acalmado. Minhas roupas apertavam e minhas coxas estavam pressionadas pela meia calça de frio. Havia suado o bastante, pelo esforço. A frieza do estádio contrastava com o calor do meu corpo, criando uma sensação estranha e incômoda.

— Droga. — disse para mim mesma, a voz ecoando suavemente pelo corredor.

Eu sequer entendia o porquê de ele ter sumido tão de repente. Depois da separação, Dainsleif tinha desaparecido de vez das mídias. Seus planos tinham ido de água abaixo, de roubar uma carreira e engatar por minhas costas. Nunca fiquei feliz nem triste por tal coisa. Sinceramente, não queria ligar a TV e ver seu rosto enquanto eu limpava uma mesa em nosso café, ou então estampado nas revistas e jornais da cidade como um troféu.

Chegando um pouco mais à frente, empurrei a porta com os ombros, dando pulinhos enquanto tirava um dos patins. Quando finalmente sentei, retirei a borracha do ferro e passei um pano pelos restos de gelo que ali ainda tinham. A sensação do gelo derretendo lentamente nas minhas mãos trazia uma estranha paz, uma distração temporária do turbilhão de emoções.

Um barulho veio da porta, e lá estava o ruivo.

— Você devia estar jogando, não acha? — disse, tentando parecer casual.

— Pra isso que existe reserva, loirinha. — ele sorriu, e eu também. — Estava preocupado, não sabia que o filho da puta estaria ali.

— Relaxa, eu tô bem. — tentei tranquilizá-lo, embora minha voz traísse uma leve insegurança.

— Verdade? — ele perguntou, seus olhos fitando os meus, cada vez mais perto.

— Claro que sim.

— Então me beija. — ele disse. — Me beija pra eu ter combustível o suficiente pra quebrar a cara do desgraçado no campo.

Me senti estremecer, seu rosto agora estava no meu pescoço, sua respiração fazia cócegas a cada vez que ele respirava mais fundo. Suas mãos geladas tocavam as coxas cobertas pela meia calça, sem muito esperar tomei seus lábios para perto, puxando suas mechas laranjas e aprofundando cada vez mais o beijo.

— Pega leve, gata, não quero ir de pau duro pro jogo. — ele murmurou entre os beijos, um sorriso travesso nos lábios.

— E se eu quiser? — provoquei, mordendo suavemente seu lábio inferior.

— Também não me importo. — ele respondeu, a voz rouca de desejo.

Ele mais uma vez se aproximou, nossas línguas explorando-se quase como se quisessem estar juntas o tempo inteiro. Eu não entendia a situação bem. Eu deveria estar triste porque meu ex do caralho está ali fora? Não. Eu tô molhada.

— Lumine, eu... — ele pareceu se engasgar com as palavras.

— Você... — incentivei, curiosa e um pouco ansiosa.

— Eu preciso que vá a um jantar comigo. Preciso fazer isso certo.

Meus olhos arregalaram.

— Como?

— Eu não consigo, não consigo me conter sabendo que essa mulher tão linda já esteve nos braços de outra pessoa.

— Céus, deixe de falar besteira e vá para o jogo. — repliquei, tentando disfarçar o turbilhão de emoções que suas palavras haviam despertado em mim.

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