outra vez.

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— por acaso...eu te conheço? — me fiz de desentendida, colocando minhas mãos esbranquiçadas de farinha no balcão. — não lembro de você, perdão.

— como assim? Nós dormimos juntos ontem a noite. — se aproximou de mim, colocando o próprio queixo em sua mão. — seu rosto diz que está mentindo.

— não é verdade.

— que seja. — revirou seus olhos. — desde ontem eu não consigo parar de pensar em você.

Em um pequeno gesto enrolou uma de minhas mexas em seus dedos longos, pude sentir o cheiro amadeirado vindo dele, era bom, viciante.

— ok, eu menti. — confesso me virando de costas para tirar os bolinhos do forno. — Mas por que veio atrás de mim novamente? Não foi apenas uma noite?

— eu já lhe disse, eu não paro de pensar em você. — inclinou um pouco seu corpo, aparentemente se espreguiçando. — dos meus dedos lhe tocando.

— Céus.

— não diga que não me quer, ontem a noite você fez o oposto. — deu um pequeno sorriso de lado, tateando seus dedos no mármore. — e minha proposta é que faça de novo.

— não tô afim.

Fiz uma cara nada agradável para ele encarando seus olhos oceânicos sem brilho, inclinei meu rosto para lhe fitar melhor e senti ele estremecer.

— não me olhe assim fofa, tenho tesão em marrenta. — soltou uma risada sínica me fazendo cortar o contato visual.

— vaza.

— Já está me expulsando linda?

— se não é meu cliente, não deve ficar dentro da minha cafeteria. — respondi dando um sorriso gentil e falso para ele.

— seus clientes ganham tratamento especial? — olhou em volta do lugar. — então vou me tornar um, enquanto não sou seu parceiro de foda.

— aliás quem é você?! — bati a bandeja contra o balcão irritada. — olha seu cabeça de ferrugem, não sei nem seu nome desgraçado então vaza e para de me falar essas coisas obscenas! Se não vou chamar meu irmão e não vai ser nada legal!

Peguei o meu celular discando o número de Aether segundo ele estaria a poucos metros caso eu precisasse, foi fazer um trabalho nos dormitórios.

— opa, opa. — ele colocou suas mãos pra cima. — comecei com o pé esquerdo com você loirinha.

— Lumine.

— eu sei seu nome, todo mundo sabe.

— céus, você é teimoso.

— meu nome é Childe, jogador de hóquei do time fatui. — beijou uma de minhas mãos.

— grande merda. — limpei a mesma mão em meu vestido, vendo o rastro de farinha no tecido preto se espalhar.

— oh fofura, sei que está tímida. — me provocou novamente. — mas não se preocupe irá me ver constantemente.

— eu passo, obrigada. —  dei de ombros. Passei a manteiga em uma torrada e comecei a come-la, encarando o ser hostil a minha frente. — não gosto de ser marmita dos outros e estou procurando um namoro sério.

— posso te dar a certeza que te faço mais feliz em cinco minutos na minha cama do que três anos em um relacionamento com um cara. — soltou uma risadinha novamente. — eu vou insistir até te ter em minhas mãos Lumine.

— pois espere sua própria morte, nunca que irá me tocar novamente.

— isso que veremos então. — caminhou até a porta. — te vejo amanhã linda.

— espero que morra dormindo, Childe.

— eu acho excitante esse seu jeitinho fofo de ser Lumi, me amarro.

...

Assim que ele saiu meu corpo relaxou.
Parecia que meus nervos estavam a flor da pele de tanta raiva que estava agora, como pude cometer um erro tão grande de ir dormir com alguém que nem sequer conheço? Respirei fundo e me acalmei, tornei a fazer meu trabalho novamente pensando e engolindo tudo que havia acontecido a cerca de cinco minutos.
— sua imbecil!
Tratei de me descabelar com raiva de minha própria pessoa, seria esse um castigo de Deus por cada pecado meu?

— Deus sou eu de novo.

Juntei minhas mãos e inclinei minha cabeça pra cima, sendo interrompida no ato por Aether que soltava uma gargalhada encostado a parede.

— está rezando por que maninha? — fez uma cara de puro deboche.

Pensa Lumine, você não pode falar o motivo. Se Aether souber do que acabou de rolar ele vai caçar esse garoto até o quinto dos infernos pra ralar a cara dele no asfalto e passar com o carro em cima, isso já aconteceu quando estávamos no fundamental mas ao invés do carro era uma bicicleta sem freio, no qual o freio foi o corpo do moleque.

— eu estava rezando para que os croissants queimados não tivessem um gosto ruim.

Ele levantou uma de suas sobrancelhas desconfiado com minha resposta, passou para a cozinha e verificou os salgados.

— eles não parecem queimados, nem muito menos com um gosto ruim. — continuou desconfiado. — está escondendo algo Lumine?

— nossa, poxa, já estão prontos os bolinhos de chuva. — comentei colocando as luvas para tirar as coisas do forno, claramente estava tentando fugir do assunto.— meu Deus, tá muito quente.

Minhas mãos tremem e infelizmente coincidentemente caem no pé direito do meu irmão, fazendo uma cara de dor  na mesma hora. Aether começou a dar pulinhos enquanto girava, digno de estar em um show da Britney porque com essa guela derruba vidro conseguia ser ouvido até mais alto que a própria cantora no microfone.

— vou pegar a maleta de assaduras — começo a rir no percurso. Isso não foi totalmente proposital, eu mirei no meio de suas pernas para não queimar, infelizmente minha matemática estava errada.

— tá ficando vermelho! — começou a choramingar na cadeira almofadada do centro. — e eu ainda tenho que voltar pra casa do meu amigo, mas que porra.

— olha a boquinha. — coloco minha mão na cintura fingindo ser uma mãe decepcionada. — coisa feia mocinho.

— como se você não falasse pior. — retrucou emburrado, mas no fundo sentia dor por estar sendo enfaixado.

Desde pequenos nós sempre estamos juntos, não importa a circunstância.
Talvez seja aquela merda de superstição que as pessoas acreditam a famosa  "conexão de gêmeos", nunca liguei pra isso mas agradeço por Aether estar sempre do meu lado, independentemente do que aconteça.
Este ano Aether iria estudar em uma nova faculdade, mas nós primeiros dias de adaptação passou muito mal. Depois de um tempo descobrimos que era uma febre emocional, uma febre que ele não sentia nem mesmo por nossos pais. Desde então moramos juntos.

— eu te amo. — depois de enfaixar suas mãos dou um leve beijinho no machucado. — tome cuidado da próxima vez, já é a quarta vez que se queima Aether.

— Não sou uma criança. — ele começa a rir, enquanto observava seu machucado perfeitamente enfaixado. — mas também te amo.

— como foi seu dia?

— foi irritante. — ele respondeu enquanto pegava um croissant ainda na bandeja.

— eu poderia saber o motivo? — perguntei apenas para continuar nossa conversa agradável diária, sabia que ele sairia daqui alguns minutos já que vi ele colocar os lanches em uma sacola.

— um cara, ele me parou na faculdade de manhã e me pediu seu número. — ele começa a batucar seus dedos na mesa, pensativo. — mas ele...ele não parece amigável.

— Já conversamos isso antes né?

— "eu sei me cuidar sozinha, não se meta na minha vida amorosa".  — fez aspas com as mãos revirando os olhos — pra mim tanto faz, só não quero ser cunhado de um moleque nem tão cedo.

Revirei meus olhos vendo ele se despedir de mim, já era nove da noite e já tinha terminado tudo. Era a hora de ir pra casa e relaxar.

Amanhã é outro dia.

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