É incrível como uma só mensagem é capaz de mexer com o psicológico de alguém, e como ouvir um simples apelido é capaz de trazer-nos tantas memórias.
-Laura?—Me viro e enxergo Dr. Lino parado na porta do seu consultório, me encarando.—Finalmente de volta ao mundo.—Tudo indica que ele já havia chamado por mim antes...—Desculpe o atraso, tive um imprevisto e...
-Tudo bem, estou aqui há menos de 10min.—Explico.—Bom dia, Dr.
-10min foram o suficiente para te tirar de minha sala, ainda cá estando.—Volto a minha atenção para ele, e parece que não num dos melhores momentos, mas também, de certeza que não o pior; ele está trocando sua polo por uma camisa, mas mudo minha direção antes mesmo que ele note que estou prestando atenção à ele.
-Apenas distração.—Respondo e ele se mantém calado, pressuponho que ainda esteja se ajustando e me viro para confirmar, mas agora, ele está por trás de um biombo.Após 2min de espera, Dr. Lino me cumprimenta novamente como se estivesse chegando agora, e pergunta-me sobre como estou. "Como estás", uma pergunta simples, o que dói é explicar o sentimento, então começo pela parte "menos" dolorosa.
-Depois de quase 4 meses, voltei a receber uma notificação de meu pai. Ontem, ele mandou-me uma mensagem no final do dia. Ontem, foi o meu aniversário.—Dou um suspiro assim que termino de falar.
-E o que essa mensagem te fez sentir? Consegues explicar?—Questiona já começando com suas anotações.
-Esperei o dia todo por ela, e apenas no momento em que eu estava prestes a me desligar, que recebo ela. Tem o ditado: "antes tarde do que nunca", mas não sei se foi bom receber ela no final do dia, pois eu passei o dia todo esperando por um sinal, ele é o meu pai, ele me devia isso! No ano passado, eu não recebi nada, porém, ainda tive esperanças nesse ano. E recebi, mas não me deixou feliz, acredito que mesmo se ele tivesse mandado mais cedo, não deixaria, mas já significaria muito. Mas significou totalmente o oposto do esperado, ele me quer confundir, é intenção dele me ver louca, e ele vai conseguir.—Dou uma pausa para recuperar o fôlego, e observo Dr. Lino me observar, se mantendo calmo e tentando me transmitir paz com seu olhar.—"Feliz aniversário, Laurinha!", disse ele. Laurinha, é assim que ele me chamava quando ainda morávamos juntos, quando eu era a sua menina...ele deixou de me chamar assim desde o dia em que saiu de casa, por que voltar a me chamar assim agora? Por quê voltar a me felicitar? E por quê tão tarde?-Realmente isso torna as coisas mais confusas para si, pois temos duas opções: primeira, seu pai pode estar bastante ocupado e confuso, e assim, te confundindo também com suas atitudes; segunda, seu pai pode estar arrependido, e é possível que ele queira recuperar o carinho que tu tinhas por ele, tratando-te pelo apelido de sua infância. Talvez ele só não esteja sabendo como agir contigo, por culpa e medo de ser rejeitado.—Ele dá uma curta pausa para ler o que escreveu.—Tu estarias pronta para perdoar seu pai e dar-lhe uma outra oportunidade?
-Meu pai já teve várias oportunidades, e acabou desperdiçando todas, comigo e com minha mãe!—Respondo pensando em tudo que meu pai já fez.
-Posso saber qual foi a sua resposta para ele?—Questiona de seguida.
-Nenhuma, eu fui dormir, ou tentei dormir pelo menos...—Declaro e Dr. Lino ergue uma sobrancelha e abre um sorriso, mas logo o pretende. É raro ele demonstrar alguma expressão facial durante nossas sessões.
-Por que não deste uma resposta à ele?—Pergunta enquanto escreve em sua agenda.
-Recebi tarde a mensagem, dr.
-Não pretendes responder-lhe?
-Não pensei em responder...
-Tu querias muito receber uma felicitação por parte dele, acabaste recebendo bem no final do dia e vejo claramente a sua insatisfação com isso. Será que não deixaste de responder em forma de punição? Tu te sentiste ignorada durante o dia, estavas pronta para descansar quando ele decide dar um sinal, e por mais que quisesses receber essa mensagem (não só no teu aniversário, mas em dias comuns), tu sentiste que não foste valorizada por ele, e quiseste que ele sentisse um terço daquilo que você sentiu, ignorando a sua mensagem mesmo contendo o apelido que para si, podia ser tudo! É isso?— Incrível sua capacidade de ouvir um pouco de mim, e saber interpretar toda a situação.
-Se pensares em mudar de profissão, poderás ser um leitor de mentes!—Comento.
-Ahaha, isso significa que até agora, estou fazendo bem o meu trabalho, então não pretendo mudar! Vou deixar uma tarefa para si, gostaria que fosses praticando o perdão, eu sei, seu pai nunca se desculpou, porém, tu podes precisar perdoar para poderes te curar dessa dor, dessas memórias. Tu não precisas de o punir, faça apenas aquilo que deixará o seu coração mais leve e a sua mente em paz. Às vezes perdemos nosso tempo esperando que pessoas que erraram conosco, se toquem e se desculpem, mas nem sempre isso irá acontecer, e nós devemos saber seguir mesmo sem receber um pedido de desculpas! Tentas fazer isso, querida?—Parece que fui pega de surpresa pelo Doutor...
-Sim, tentarei sim!—Aceito a sua tarefa.-Conte para mim o que mais te inquieta.
-Diego.—Processo o que falar, mas a voz simplesmente não vem.—Quis se casar.
-Se acalme, inspire e expire.—Ele faz gestos com as mãos, me incentivando a fazer o exercício da respiração.
-Diego quis se casar comigo. Diego estava planejando me pedir em casamento.—Finalmente me expresso, assim que me sinto mais calma e pronta a falar sobre esse assunto, e explico detalhadamente o desenrolar de toda a situação.—Acabei o entendendo mal.
-Ou talvez entendeste apenas o que ele decidiu revelar para si. Laura, Diego não quis te preparar para o casamento, Diego quis se preparar para o casamento, tu sempre estiveste pronta para isso, tu demonstravas à ele, ele sabia. Nada disso é culpa sua. E quanto à Tânia, recomendaria vocês a conversarem, é possível que ela só não sabia como agir e também tenha sido pega de surpresa, mas talvez ela não ter te contado, não mude o facto dela gostar de ti e se importar. Recomendo-te a conversar inclusive com Diego, mas quando ambos sentirem-se confortáveis, e com Fernando também, tente ser transparente o máximo possível, e não tenhas medo de suas reações, seja apenas aquilo que você é! A comunicação é importante em qualquer relacionamento, eu consigo te entender porque tu te abres comigo, então não descarte ainda isso, nem com seu pai. Verás que as coisas ficarão mais leves depois de uma conversa, mas não estou dizendo que as coisas correrão do jeito que queremos, só terás tudo mais esclarecido!
-Mais uma tarefa para mim?—Pergunto.
-São tarefas que deves levar para toda a vida!—Responde Dr. Lino.—Estamos encerrados por hoje.
-Levarei sim, muito obrigada.—Abro um sorriso e ele abre sua gaveta, parecendo estar procurando algo, e então se ergue, entregando uma sacola pequena para mim.
-Feliz aniversário, querida Laura!—Eu o olho desconfiada, recebendo o que parece ser meu presente.—Espero que gostes!
-Isso sim é uma surpresa!!!—Digo sem me preocupar em esconder o meu sorriso, abro a sacola e retiro um diário.
-Isso pode te ajudar com algumas das tarefas que vou mandando, para além de refletires, poderás anotar também aquilo que for importante.—Explica seu presente.
-Estou realmente agradecida! Até a próxima, Dr. Lino—Digo me levantando, mas paro antes de alcançar a porta, pois ele chama por mim.
-Respondeste todas as perguntas de hoje, e foram sobre o seu pai. Estou bastante orgulhoso de ti!
-Ouvindo isso também fico orgulhosa, obrigada.
-Até à próxima, querida Laura!—Despede-se e eu abandono a sua sala.Não começou sendo um dos melhores dias, mas estou feliz agora por encerrar bem a sessão de hoje, e também por me lembrar que tenho um encontro marcado com Fernando. Chamo um táxi privado e vou de volta à casa, tenho de me apressar pois só já tenho 2h horas para estar pronta para Fernando.
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Entre linhas e beijos: Arquitetando o Amor
RomanceLaura Montenegro, uma jovem de 19 anos aspirante à arquitetura, cheia de sonhos, ambições e procurando o seu primeiro estágio profissional, cruza o caminho de um arquiteto renomado de 30 anos, cuja experiência e presença magnética a cativam instanta...