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Coimbra - Queima das fitas 2023

Artur acabava de assistir juntamente com sua esposa Alice à bênção das pastas na Universidade frequentada por se filho Rodolffo.

Desde criança sempre foi seu sonho ser médico pediatra e hoje esse sonho era real.

Preparava-se então o desfile dos finalistas dos vários cursos.

(Este foi o video que encontrei mais representativo apesar de ser deste ano)

Rodolffo assim como os colegas de curso estavam eufóricos por terem terminado tão àrdua tarefa.  Uns já tinham trabalho e outros viviam na expectativa de emigrar para o Reino Unido onde médicos e enfermeiros portugueses são bem aceites e bem remunerados.

Não era o caso de Rodolffo.  Seu pai, homem bem posicionado na sociedade portuguesa já tinha mexido os pauzinhos e arranjado um emprego numa renomada clínica com centros abertos em quase todo o País.

Não era o caso de Juliette.   Jovem humilde, foi a custo de muito trabalho que conseguiu concluir o curso também de medicina.

Filha única do casal Pedro e Bárbara já com uma certa idade, veio ao mundo quando a mãe julgava já não ser possível.
Com a ajuda de uma vizinha conseguiu vir para Coimbra e instalar-se na casa de uma senhora idosa a quem servia de companhia e prestava alguns serviços.   Conseguia assim alguns trocados para os seus alfinetes, como se diz por cá.
A faculdade ficava por conta da bolsa de estudo que conseguiu.

Estava feliz por ter terminado o curso, mas apreensiva quanto ao futuro.  Ponderava emigrar, mas não queria deixar os pais já com idade avançada.

Hoje é dia de festa, pensou.  Amanhã logo se vê.
Desfilou como todos os outros.  Rolava muito álcool na festa.  Havia artistas a actuar nos vários palcos instalados na cidade mas o mais aguardado era a serenata nocturna.  Esse era o ponto alto.

Depois do cortejo de de se despedirem dos familiares começaram a dirigir-se para a Sé velha.

A noite caía e dos estudantes só se via o rosto.  Tudo o resto estava envolto pelas capas negras.

Com umas canções mais tristes outras mais animadas a festa fazia-se até altas horas.

Eu estava muito emocionada e as lágrimas corriam pela minha face.  Era noite, a visibilidade não era muita, mas a meu lado um jovem alto olhava atento para mim.

Sorri quando os nossos olhares se cruzaram e ele limpou-me as lágrimas com um lenço que retirou do bolso.

- Hoje é dia de alegria, não de tristeza,  disse-me enquanto guardava o lenço.

Dei-lhe um beijo no rosto e ali ficámos até ao final da serenata.

Quando terminou, olhou para mim e disse:  não vás ainda.

O povo foi dispersando e nós ficámos a conversar até amanhecer, sentados na escadaria da Sé.

A dúvidaOnde histórias criam vida. Descubra agora