XVII

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Não tenho a certeza de ter feito o correcto, mas não avisei a Juliette da minha mudança.

Ultimamente temos conversado muito sobre nós e vejo que ela está mais flexível.  Menos duvidosa.
Ontem a noite conversámos em chamada de vídeo e ela pareceu-me feliz.

- Tu não tens férias?  Desde que nos voltámos a falar é só trabalho.

- Vou tendo uns dias quando me sinto cansada.

- Isso não é nada.  Férias a sério.  De ir passear, conhecer outros lugares, vir visitar-me.

- Gostavas, não?

- Ia amar estar contigo, Ju.  Sabes disso.

- Vem cá.

- Vem cá.  Falas como se estivesses aqui na aldeia ao lado.  E se estivesses não me chamavas.

- Chamava.  Estou com saudades.

- Que avanço.  Só falta um eu te amo.

- Vem cá que eu digo.

- O quê?

- Isso mesmo.  Digo pessoalmente.

- Olha que eu vou.  Podes marcar o hotel.

- Ficas comigo.

- Vou amanhã.   A que horas estás em casa?

- Amanhã estou de folga.  Preparo o almoço e trazes o vinho.

- Aceito.  Gostas de judiar.   Se eu pudesse não estavas com essa conversa.

- Estou a ser muito sincera.  Como há muito não era.

- Falas sério.  Ainda tenho chances?

- Tens-me conquistado com a tua paciência.  Só a distância é que atrapalha.  Como é que se namora à distância?

- Não faço ideia.  Nunca namorei.
À distância,  claro.

- Será que os amores resistem à distância?

- Alguns sim, mas é difícil. O que vais preparar para almoço?  Eu falo sério.  Vou almoçar contigo.

- Não brinques, Rodolffo.

- Pronto, agora estou a brincar.  Quando vais levar-me a sério?

- Nunca, seu brincalhão.   Vai dormir.  Tens plantão cedo.

- Pois tenho.  Bem cedinho.  Beijo, amor.  Até amanhã.

- Até amanhã,  beijo.

...

Triiiimmm, triiiimmm.

Juliette abriu a  porta e ia tendo um treco ao ver Rodolffo de mala na sua frente.

- Chegou o vinho, senhora.

- Rodolffo!  Tu és doido?  Como assim, estás aqui?

- Eu não quero mais mentiras entre nós.  Eu disse que vinha e vim.

- Entra.  Deixa-me acalmar senão vou ter um treco.

- Podes acalmar nos meus braços. - disse ele enquanto a abraçava.

Abraçou-a e beijou-a pois as saudades eram muitas.  Ela correspondeu e levou-o até ao sofá.

- Conta-me lá como é essa história que eu não estou entendendo nada.

- Vim para ficar.  Aqui contigo ou no hotel, a escolha é tua.  Não quis avisar-te porque queria que fosse surpresa.  Vim para trabalhar no mesmo hospital que tu.

- Mas tu gostavas de trabalhar na clínica.  E quando te candidataste?

- E não deixei de gostar, só que não estavas lá comigo.  Entreguei a candidatura quando estive cá de férias contigo.

- Largaste tudo para estares comigo?

- Foi.  Só por isso mesmo.  Não fazia sentido para mim e agora é contigo.

- Eu não sei o que dizer, Rodolffo!  Estou sem palavras.

- O que ias dizer-me pessoalmente.  Já estou aqui, podes dizer.

- Eu te amo e estou cheia de saudades.

- Também te amo e o meu lugar é contigo se me quiseres.

Juliette respondeu sentando-se no colo dele e tomando os seus lábios num beijo cheio de desejo.

A dúvidaOnde histórias criam vida. Descubra agora