XIII

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Rodolffo viu o quanto ela estava sentida e não lhe tirava a razão, mas ele não ia desistir.

Enquanto jantavam deixaram de falar sobre sentimentos e passaram ao lado profissional, mas era inevitável,  o assunto voltava ao mesmo.

- Afinal, conta-me porque foste para Vila Real, bem perto da minha terra.

- Queria afastar-me de tudo.  Pedi transferência ao meu director e por sorte havia vaga na Clínica de Vila Real.  Já não suportava ouvir a minha mãe falar em dar nova chance à Ana.

- A norinha perfeita.

- Não entendo o que têem as duas que ela vive enchendo a minha paciência.
Fiquei contente por ser Vila Real.  Tive esperança de um dia regressares e te encontrar.

- Sem chances.  Não vou regressar.

- Tenho esperança de te fazer mudar de ideias.  Por um grande amor regressavas?

- Um grande amor não tem que ser vivido lá.  Pode surgir aqui.  Quem sabe anda para aí um inglês que é a metade da minha laranja.

- Porque nunca tiraste o fio?

- Eu gosto dele e tem um significado especial para mim.  Também usaste sempre o teu?

- Não. Durante um tempo não usei, mas ninguém me proibiu de usar.  Fui eu que quis não usar.

- Porquê? Ninguém sabia da nossa história.   Era só não contares.

- Ninguém sabe, mas ele tinha um significado especial.  Eu preferi não usar.  Voltei a usar quando troquei de cidade.

- Vais ficar quanto tempo?

- Tenho um mês de férias.  Depende.

- De quê?

- De me dares uma chance.  Eu quero tentar.  Apesar da distância.

- Não tem como, Rodolffo.   Não ia dar certo.

- Porquê?

- Eu não tenho confiança em ti. Desculpa, mas tenho que ser sincera.
Vão ser mais umas transas, vais embora e é mais do mesmo.

- Tenho pena de ter sido essa a imagem que deixei de mim.
Não foram só umas transas.  Houve muito sentimento.

- Que depressa se dissipou.  Logo assumiste outra, mas não te estou a condenar.  Separámo-nos sem sequer conversarmos sobre o assunto.

- Hoje ainda vais trabalhar?

- Só amanhã às 7 da manhã.  Estamos com falta de pessoal.  Não sei quando vou sair.  Aqui o salário é bom, mas trabalhamos muito.

Trocaram informações sobre os valores salariais e Rodolffo estava abismado com as diferenças.

- E olha que eu estou no sector privado, Ju.  No público o salário é bem menor.

- Foi uma das grandes motivações que me fizeram vir. Claro que como já falava inglês ajudou muito.

- É.  Isso é vantajoso.

- Ju!  Sais comigo para jantar?

- Pode ser, mas quero voltar cedo.  Preciso descansar que esta noite dormi muito mal.

- Coração inquieto?

- Cansaço apenas.  O coração está bem sereno.

A dúvidaOnde histórias criam vida. Descubra agora