Juliette estava sem disposição para sair de casa. Tinha dormido pouco, mas tinha marcado de almoçar com Rodolffo.
Enviou-lhe uma mensagem com a morada e pediu que ele fosse ter ao seu apartamento.
Encomendou o almoço no restaurante já seu conhecido e acabavam de o entregar. Ligou o forno do fogão e colocou lá o almoço para se manter quente.
Rodolffo chegou logo de seguida. Trocaram um beijo no rosto e Juliette levou-o até à sala.
- Bem legal este apartamento. Vives cá desde sempre?
- Não. No início vivi no alojamento do hospital.
- E aqui tem isso?
- Sim. Para os médicos e enfermeiros emigrantes ou de mais longe da cidade. Enquanto não arranjam casa eles proporcionam dormida.
- És feliz aqui?
- Sim. Dentro do possível sinto-me bem.
- Sentir-se bem não tem nada a ver com ser feliz.
- Qual a diferença no teu entender?
- Por exemplo: eu sinto-me bem em Vila Real, gosto do meu trabalho, mas não estou feliz.
- Estás em Vila Real? O que te falta então?
- Uma companhia. Uma pessoa que me ouça quando chego a casa, uma pessoa que me motive a voltar para casa.
- Pensei que tinhas isso tudo quando tão depressa começaste a namorar.
- Não quero falar desse período. Nem sei onde tinha a cabeça quando me envolvi com a Ana.
- Foi logo que voltaste a Viseu?
- Quando comecei a trabalhar.
- Por isso deixaste de me ligar?
- Tu também deixaste e depois bloqueaste-me. Porquê?
- Tu próprio disseste que namoravas. Eu só não quis atrapalhar. Acabou porque?
- Ela estava grávida por isso assumi o namoro. Ela abortou e depois houve traição da parte dela.
- As vezes que transaste comigo sempre te protegeste, porque com ela não foi assim?
- Foi. Não sei como aconteceu.
- Poupa-me Rodolffo. Se há quem saiba és tu. Nunca foste inocente.
- E não sou. A princípio duvidei, mas com o tempo fui aceitando. A minha mãe finalmente dava-se bem com uma das minhas namoradas.
- Vamos almoçar. Não quero dizer o que estou pensando.
- Mas eu preciso falar, Juliette. E ouvir também. Lamento pelos teus pais. Eu só soube no dia da entrevista para a TV.
- A única coisa que me prendia a Portugal. Depois deles partirem decidi não voltar mais.
- Nunca pensaste em mim?
- Várias vezes, mas depois do último telefonema, perdeu-se o encantamento.
- Estou aqui para reatar tudo.
- Reatar o que não havia? Nós não éramos nada. Conhecíamo-nos há uma semana e transámos umas três ou quatro vezes. Isso não rotula nada.
- Podemos fingir que acabámos de nos conhecer.
- Não sinto confiança em ti. Sabes de verdade o que penso?
Caí rápido no teu papinho de conquistador. A virgem que deixou de ser na primeira cantada e por isso pensou que tinha encontrado o seu príncipe. Só que o príncipe depressa virou sapo e eu deixei de acreditar em histórias de princesas.- Eu não forcei nada, disso não me podes acusar.
- Não. O que aconteceu foi porque eu quis e não me arrependo, mas hoje vejo tudo diferente.

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A dúvida
Fiksi PenggemarDuvida que possa esperar? Duvida que possa partir e recomeçar? Fica então "A dúvida"