XII

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Juliette estava sem disposição para sair de casa.  Tinha dormido pouco, mas tinha marcado de almoçar com Rodolffo.

Enviou-lhe uma mensagem com a morada e pediu que ele fosse ter ao seu apartamento.

Encomendou o almoço no restaurante já seu conhecido e acabavam de o entregar.  Ligou o forno do fogão e colocou lá o almoço para se manter quente.

Rodolffo chegou logo de seguida.  Trocaram um beijo no rosto e Juliette levou-o até à sala.

- Bem legal este apartamento.   Vives cá desde sempre?

- Não.  No início vivi no alojamento do hospital.

- E aqui tem isso?

- Sim.  Para os médicos e enfermeiros emigrantes ou de mais longe da cidade.  Enquanto não arranjam casa eles proporcionam dormida.

- És feliz aqui?

- Sim.  Dentro do possível sinto-me bem.

- Sentir-se bem não tem nada a ver com ser feliz.

- Qual a diferença no teu entender?

- Por exemplo:  eu sinto-me bem em Vila Real, gosto do meu trabalho, mas não estou feliz.

- Estás em Vila Real?  O que te falta então?

- Uma companhia.  Uma pessoa que me ouça quando chego a casa, uma pessoa que me motive a voltar para casa.

- Pensei que tinhas isso tudo quando tão depressa começaste a namorar.

- Não quero falar desse período.  Nem sei onde tinha a cabeça quando me envolvi com a Ana.

- Foi logo que voltaste a Viseu?

- Quando comecei a trabalhar.

- Por isso deixaste de me ligar?

- Tu também deixaste e depois bloqueaste-me.  Porquê?

- Tu próprio disseste que namoravas. Eu só não quis atrapalhar.  Acabou porque?

- Ela estava grávida por isso assumi o namoro.   Ela abortou e depois houve traição da parte dela.

- As vezes que transaste comigo sempre te protegeste,  porque com ela não foi assim?

- Foi.  Não sei como aconteceu.

- Poupa-me Rodolffo.  Se há quem saiba és tu.  Nunca foste inocente.

- E não sou.  A princípio duvidei, mas com o tempo fui aceitando.  A minha mãe finalmente dava-se bem com uma das minhas namoradas.

- Vamos almoçar.  Não quero dizer o que estou pensando.

- Mas eu preciso falar,  Juliette. E ouvir também.  Lamento pelos teus pais.  Eu só soube no dia da entrevista para a TV.

- A única coisa que me prendia a Portugal.  Depois deles partirem decidi não voltar mais.

- Nunca pensaste em mim?

- Várias vezes, mas depois do último telefonema, perdeu-se o encantamento.

- Estou aqui para reatar tudo.

- Reatar o que não havia?  Nós não éramos nada.  Conhecíamo-nos há uma semana e transámos umas três ou quatro vezes.  Isso não rotula nada.

- Podemos fingir que acabámos de nos conhecer.

- Não sinto confiança em ti.  Sabes de verdade o que penso?
Caí rápido no teu papinho de  conquistador.  A virgem que deixou de ser na primeira cantada e por isso pensou que tinha encontrado o seu príncipe.  Só que o príncipe depressa virou sapo e eu deixei de acreditar em histórias de princesas.

- Eu não forcei nada, disso não me podes acusar.

- Não.  O que aconteceu foi porque eu quis e não me arrependo, mas hoje vejo tudo diferente.

A dúvidaOnde histórias criam vida. Descubra agora