XVIII

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Preparei o almoço e enquanto comíamos eu olhava para Rodolffo ainda incrédula por ele estar ali.

- Que foi?  Porque me olhas assim?

- Custa a acreditar que largaste tudo para vir.

- Trabalhos com mais ou menos dificuldades a gente arranja.  Não podemos é deixar escapar a felicidade e eu já vacilei uma vez.

- E se um dia te arrependeres de vir?

- Supero desde que estejas comigo.  Tu não te arrependeste.

- As circunstâncias eram diferentes.  Eu nem tinha trabalho na altura.

- O almoço estava óptimo.   Parabéns à cozinheira.

- O vinho também.   Anda, vamos desfazer a tua mala e arrumar as tuas coisas.

- Não vou incomodar?  Posso ficar no hotel.

- Tu não és doido, não Rodolffo?  É ruim que eu vou deixar o meu homem solto por aí.

- Teu homem?  E é?

- Não foi para estar comigo que vieste?

Dias depois Rodolffo assumiu funções no hospital.  Optou por inicialmente fazer um contrato de seis meses.
Vai que não se adaptasse.   Teria sempre a hipótese de regressar.  Não quis pensar muito nisso embora a promoção que recusou ainda estivesse na memória.

Foi apresentado à equipe e logo surgiram as primeiras fofocas.  Rodolffo era um jovem alto, porte atlético, moreno, bem diferente dos profissionais asiáticos e Ingleses que compunham o staff do hospital.

A mulherada vivia suspirando pelos cantos e invejava a proximidade dele com Juliette.

Juliette sempre foi alvo de inveja por parte de algumas colegas e tudo se intensificou quando foi homenageada.

- Good morning, doctor.  Do you like a coffee?

- No, Thank you.

Isto perguntou uma das enfermeiras.  Entretanto Juliette chegou junto dele com dois cafés na mão entregando-lhe um.

- Estas inxiridas que não me irritem?
Ainda lhes atiro com o café para a tromba.

- What?  Questionou a mesma enfermeira.

- Nothing.  My husband d'ont like another coffee.  Simple the mine.

- Husband?

- Yes.  Doutor Rodolffo is my husband.

- Sorry.  I did'nt Know.

E saiu dali que nem foguete.

- Agora sim!  Queimaste o meu filme para sempre.  Teu marido?

- Eu que veja alguma dar em cima de ti.  Sou capaz de lhe arrancar os olhos e a ti nem sei o que faço.

- E eu tenho culpa de ser gostoso?

E  nada convencido.  Sabes o que dizem lá na minha terra?

- presunção e àgua benta, cada um toma a que quer.

Agora vamos trabalhar, que é para isso que estamos cá.

Rodolffo roubou-lhe um selinho de fugida sem ninguém ver.  Esta semana estavam nos mesmos turnos, mas tinham consciência de que haveria dias em que mal se iam ver.

Foi uma semana um pouco difícil para Rodolffo.   Os métodos de trabalho eram bem diferentes de Portugal,  mas valia que a interacção com os pacientes era igual.  Ele sendo pediatra tinha um jeitinho especial com as crianças que precisavam dos seus cuidados.

A dúvidaOnde histórias criam vida. Descubra agora