VII

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Passei quatro dias fantásticos com Rodolffo. 

Como disse Mariazinha, se o arrependimento vier, logo lidamos com ele.

Não prometemos nada um ao outro, mas de uma coisa estava certa.  O que vivi nestes dias não esquecerei nunca.

Rodolffo reservou o hotel para mais o fim de semana pois o pai tinha reservado apenas até sexta. 
Chegou segunda feira.  Era hora de despedidas e ninguém queria falar sobre isso.

Juliette fazia as malas quando Rodolffo a abraçou por trás.

- Já estou com saudades.  Não vás.

- É preciso.  A vida segue o seu curso.  Preciso começar a trabalhar e os meus pais esperam-me.

- Eu já levei bronca da minha mãe por ter ficado mais estes dias.

- Mas tu já tens a vida ganha e trabalho garantido, agora eu?

- Prometemos nos ligar de vez em quando?

- Prometo, agora vamos senão perco o autocarro.

- Vem cá.  Foi muito bom, passar estes dias contigo.  És uma mulher fantástica e nunca deixes que te digam o contrário.

Deram um beijo já com sabor de saudade e foram colocar as malas no carro.  Rodolffo depois de deixar Juliette seguiria para Viseu.

Três horas depois, Juliette entrava em casa dos pais.

- Há uma semana que te esperamos.  Por onde andaste?

- Tinha coisas a fazer, mas já estou aqui, disse abraçando e beijando meus pais.

- A minha querida filha doutora.  Estamos orgulhosos de ti.  Vamos ver se te arranjam lugar aqui perto.

Nunca tinha comentado com eles sobre emigrar, mas cada dia fazia mais sentido para mim.  Os salários em Portugal são pequenos e correndo o risco de ir para longe vai ser gasto em renda de casa e alimentação.

Já tinha feito candidatura para três hospitais nacionais e três no Reino Unido.  Agora era esperar.

Encontrei-me no café da aldeia com alguns emigrantes.  Rosa era enfermeira e contava o quanto estava satisfeita por ter tomado a iniciativa de emigrar.

- Já lá vão dez anos, mas foi a minha melhor escolha.  Voltará a tomá-la e se queres um conselho, arrisca Juliette.  Não há nada melhor que sentir o nosso esforço recompensado.  Aqui vais ser mais uma médica.  Lá te garanto que vais ser a médica.

- Só tenho receio de não acompanhar os meus pais.  Eles não são novos.

- E se fores colocada longe daqui.  Em Braga, Lisboa ou Algarve,  que acompanhamento lhe dás?

No dia seguinte, Rodolffo ligou.  Juliette preparava-se para dormir.

- Já ia dormir.  E tu, estás onde?

- Em casa.  No meu quarto.

- Não acredito.  Na farra!

Rodolffo que estava em chamada de vídeo girou o telemóvel pelo quarto todo, focando algumas fotos dele.

- Não preciso mentir.  Estou nervoso.  Amanhã vou pela primeira vez à clínica.

- Que bom.  Já eu não sei.  Hoje estou melancólica.   Precisava de um abraço amigo.

- Recebe o meu virtual.

- Não é a mesma coisa. Posso confessar uma coisa?

- Diz.

- Roubei o teu perfume e a tua blusa azul.

- Eu julguei que tivesse ficado no hotel! Podias ter pedido.

- Fiquei com vergonha.  Vou dormir com ela para me lembrar de ti.

- Pestinha.  Vai lá dormir e sonha comigo.

A dúvidaOnde histórias criam vida. Descubra agora