XXII

69 11 8
                                    

Um ano depois...

Estamos numa consulta de pré natal. Juliette está grávida de 5 meses. Foi numa das minhas viagens a Londres que transámos sem protecção. As saudades eram muitas e nem me lembrei das camisinhas nem deu tempo de tirar antes da ejaculação.

Os meses que foram precisos para ela regressar, foram uma tortura para mim, mas quando finalmente a vi no aeroporto, respirei aliviado.

Os meus pais fizeram questão de nos oferecer uma casa que nós decorámos ao nosso gosto.

A minha mãe deu-se logo bem com Juliette. Eu sei que o facto dela tomar a iniciativa de regressar, ajudou e muito.
Meu pai e mãe estão ansiosos pela chegada do neto ou neta. Nós não vamos querer saber o sexo. Vamos fazer o enxoval em tons pastel e cinza e o que vier que venha perfeito.

Eu assumi a directoria da clínica e Juliette tem lá o seu lugar também.

Levei-a um dia à terra dela. Ainda tem lá alguns parentes, tios e primos, mas sem muita relação de proximidade.

Fomos ao cemitério levar umas flores à campa dos pais.

Vila Real é uma cidade de interior, pequena, mas bem estruturada. Apetrechada com os mais variados serviços, nada aqui falta. Nada não... faltam alguns empregos para os mais jovens, e um pouco mais de diversão.

Para os mais idosos e casais jovens como nós, não há melhor lugar para constituir família.

Juliette estava deitada no sofá. Acordou um pouco indisposta. Hoje era domingo, nenhum dos dois trabalhava. Saí para comprar pão e trouxe também umas cerejas que ela adora.

Ao vê-la ali deitada, tive a certeza de ter feito a melhor escolha ao deixar tudo para ir atrás dela.

Recordei a noite em que nos conhecemos e a nossa primeira vez. Nunca tive dúvidas do meu amor por ela, mas perdi-me no percurso.

Estou aqui sentado do lado dela segurando a sua mão.

- Já voltaste? Porque não me acordaste?

- Estava lembrando tudo o que passámos. Amo-te muito.

- Também te amo, mas isso não chega.

- Qual é a dúvida, Ju?

- Não chega porque o teu filho está com fome.

- Ah, pronto! Julguei que era outra coisa. Anda lá. Comprei cerejas.

- Nhammm! Muitas?

- Não exageres. Podem fazer-te mal.

- Mas também me apetecem figos.

- Figos? Não vi no mercado. Pode ser secos?

- Não. Directamente da figueira.

- Vai comer e depois vamos caminhar um pouco. Talvez encontremos alguma figueira com figos maduros. Vem aí o S. João, pode ser que haja.

Saímos e caminhando pela cidade vimos um quintal com uma figueira. Só que estava longe. Da rua não podíamos chegar lá.

Uma senhorinha regava as suas flores e eu cheio de vergonha fui pedir-lhe dois figos para Juliette.

- Entrem e apanhem os que quiserem. São os primeiros. Estejam à vontade.

Eu fui apanhar os figos enquanto Juliette ficou de conversa com a senhora.

Saímos de lá com uma cesta de várias frutas, legumes e folhas verdes. Agradecemos e regressámos a casa.

- Por isso eu amo esta cidade, cada dia mais, Rodolffo. E não me arrependo da escolha que fiz.

FIM

A dúvidaOnde histórias criam vida. Descubra agora