XV

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Rodolffo foi ter com o pai, deu-lhe um beijo e pediu para ele entrar em casa que precisavam conversar.

- Vou já filho.  Deixa-me só regar estas mudas de flores.

Rodolffo regressou à sala.

- Filho! O que ela viu foi só um beijo.  Não tive nada mais com ele.

- Quem era?

- Um senhor que trabalhava no centro de saúde.  Já não mora cá há mais de três anos.
Ela tinha ido lá com uma amiga, logo depois de ficar contigo e viu-nos no carro dele trocando um beijo, mas juro que foi só isso.  Depois disso inventou a gravidez e arranjou o resultado positivo.

- Para esconder o teu erro deixaste que ela me enganasse e infernizaste-me a vida.

Vais contar isso ao pai.  Acabou, aquela mulher circular por aqui por causa de uma chantagem.

- Vai acabar com o nosso casamento.

- Paciência.   Melhor isso que viver este inferno.  O pai julgará.

- Diz filho, o que querias conversar?

- Não sou eu, é a mãe.  Fala, mãe.

Alice contou tudo em pormenor e as vezes que se encontrou com o amante que ao fim e ao cabo foram três.  

- Foi naquela altura em que nos zangámos.   Estivemos quase um mês sem falar e aconteceu.

- Quem era ele?

- O José do centro.

- Sacana.  E dizia-se meu amigo.

- Eu desabafei com ele e ele foi muito atencioso.  Aconteceu.

- E porque é que se zangaram, pai?

- Porque o teu pai não quer sair daqui para lado nenhum.  Na tua formatura foi a última vez que saímos.  Nós temos posses, podemos passear e ele nunca quer ir.  Vive naquela estufa.

Eu queria ir fazer umas férias ao Gerês e ele mandou-me ir sózinha.   Fiquei irritada e discutimos.   Eu não casei para andar sózinha.
Quando ele participava em pescarias eu sempre o acompanhei e pesca nunca foi coisa a que eu desse importância ou gostasse.

- Aí também estou do lado da mãe, pai.  Não precisam viver aqui fechados em casa.  Tu gostas da estufa e sentes-te bem lá, mas cada um tem que ceder um pouco.

- Eu não sinto vontade de passear.

- Mas nem sempre tem que prevalecer a nossa vontade.

Eu vou sair.  Acho que vocês precisam ficar sózinhos e resolver esses vossos problemas.  Sem gritos e com conversa.  Volto mais tarde.

Rodolffo saiu.  Não se ia intrometer entre os dois e depois veria o que fazer.  Já estava a ver-se a levar um deles para Vila Real.

Aproveitou e ligou para Juliette que logo atendeu, pois estava em casa.

- Oi minha linda!

- Como estás?

- Aqui no meio de um furacão.

- Estás em Viseu?

- Sim.  Depois quando estiver no meu quarto ligo de novo e conto-te.  Agora tive que vir tomar um café.  Os meus pais precisavam estar a sós.

- Que aconteceu?  Algo grave?

- Pode ser que sim, ou não.

- Está bem.  Só trabalho amanhã.   Liga quando quiseres.  Tchau.

- Beijo, meu bem.

A dúvidaOnde histórias criam vida. Descubra agora