Trastevere - Damiano David

Quindici

Lola Valentini

Cheguei em casa após o almoço com Damiano, Martina e Líris. O ambiente estava carregado de tensão durante toda a refeição, e agora, entrando no apartamento, a presença de Vic e Donatella trouxe um pouco de alívio. Elas estavam sentadas na sala, esperando por mim.

— E aí, como foi o almoço? — Vic perguntou, levantando uma sobrancelha.

Suspirei e me joguei no sofá, ao lado delas.

— Martina não foi muito afetuosa — comecei, tentando encontrar as palavras certas. — Na verdade, ela passava o tempo todo tentando falar sobre como a vida deles em Los Angeles é perfeita. Vira e mexe, ela jogava alguma indireta sobre o quão bem eles estão lá.

Donatella franziu o cenho, claramente incomodada.

— Eu sabia que tinha algo estranho nela. Nós conversamos ontem, na casa dos meus pais, e ela me passou um ar de superioridade. Estava julgando tudo com o olhar. Quando meus pais estavam longe, ela tirava a máscara de boazinha e ficava insuportável.

Vic concordou com um aceno de cabeça.

— Ela é sempre meio vaca quando vai aos shows. Fica no mundinho dela, olhando a todos com desdém. Nunca faz a menor questão de se misturar. Vive sempre rodeada pelas amigas modelos, como se fosse melhor do que todo mundo.

Suspirei de novo, sentindo um nó no estômago.

— É exatamente essa sensação que eu tive. Não acho que ela seja uma boa pessoa para Damiano. Mas ele não consegue ver isso.

Donatella tocou meu ombro, oferecendo algum conforto.

— Ele está cego, Lola. Não sei o que ele vê nela, mas está claro que ela não é o tipo de pessoa que queremos por perto, especialmente perto de Líris.

— Isso me preocupa tanto — admiti, a voz tremendo. — Quero que Líris cresça cercada de pessoas que a amem e cuidem dela. Não alguém que a veja como um obstáculo.

Vic olhou para mim com seriedade.

— Vamos fazer o possível para proteger Líris. E também Damiano, mesmo que ele não perceba agora. Ele precisa entender que essa mulher não é boa para ele.

— Eu só espero que ele perceba antes que seja tarde demais — murmurei, sentindo as lágrimas ameaçando cair.

Donatella me puxou para um abraço.

— Vamos ficar de olho, Lola. Estamos todos juntos nessa. Para proteger Líris e garantir que Damiano veja a verdade. Ele merece alguém que realmente o ame e que ame Líris também.

Assenti, agradecida pelo apoio delas. Precisávamos estar unidos mais do que nunca. Para o bem de Líris, para o bem de Damiano, e talvez, até para o meu próprio bem.

{...}

Um mês se passou desde aquele tenso almoço com Martina. As coisas começaram a se ajustar lentamente, de uma maneira que eu jamais imaginaria. Damiano e eu conseguimos estabelecer uma rotina para Líris, revezando os dias em que ela fica com cada um de nós. Ele ainda está profundamente chateado comigo, e nossas conversas não vão muito além do necessário para lidar com nossa filha. No entanto, a cada dia que passa, sinto que as coisas estão se tornando um pouco mais leves entre nós.

Eu tinha muitas dúvidas sobre como seria essa nova dinâmica. Temia que a raiva de Damiano e minha própria culpa tornassem tudo insuportável, mas ver o esforço dele para se conectar com Líris tem sido um alívio. Ele é um pai incrível, algo que sempre soube que ele seria se tivesse tido a chance desde o início.