Ventiquattro.

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Damiano David

Eu acordei naquela manhã com uma sensação de peso no peito, um peso que não era só físico, mas também emocional. A quimioterapia tinha acabado comigo, cada sessão parecia me drenar mais um pouco de vida, mas a esperança de um transplante de medula óssea me mantinha firme. Enquanto estava deitado, observando os primeiros raios de sol entrarem pela janela, tentei reunir forças para enfrentar mais um dia.

Lola estava ao meu lado, como sempre, segurando minha mão com uma força e ternura que só ela podia ter. Seu sorriso era um bálsamo para minha alma, mesmo quando eu sabia que por trás dele havia preocupação e medo.

— Bom dia, — eu disse, minha voz saindo mais rouca do que o normal.

— Bom dia, — ela respondeu, sua voz suave como uma brisa matinal. — Como você está se sentindo?

— Estou aqui, — eu disse com um suspiro, tentando sorrir. — Isso já é alguma coisa, não é?

Antes que Lola pudesse responder, a porta se abriu e o médico entrou, acompanhado por uma enfermeira. Havia algo na expressão dele, uma seriedade misturada com uma ponta de esperança que me fez endireitar na cama, apesar da dor.

— Bom dia, Damiano, — disse o médico, se aproximando da cama. — Tenho boas notícias para você.

Meu coração deu um salto. Boas notícias. Fazia tanto tempo que eu não ouvia essas palavras que, por um momento, pensei que estava sonhando.

— Encontramos um doador compatível, — anunciou o médico, seus olhos brilhando com satisfação.

As palavras dele ecoaram no quarto, cada sílaba parecendo iluminar o ambiente. Lola apertou minha mão, e eu senti uma onda de alívio e gratidão inundar meu corpo.

— Isso é... isso é incrível, — eu disse, sentindo as lágrimas começarem a brotar nos meus olhos. — Quem é o doador?

O médico olhou para Lola por um momento antes de voltar a me encarar.

— O doador pediu para permanecer anônimo, — respondeu ele. — O importante é que agora temos a medula necessária para o transplante.

Eu olhei para Lola, notando algo estranho na expressão dela. Havia cansaço, sim, mas também algo mais, algo que eu não conseguia identificar.

— Você está bem? — perguntei, preocupado. — Parece... dolorida.

Ela sorriu, um sorriso que não chegava aos olhos.

— Ah, é só a cadeira do hospital, — ela mentiu, tentando me tranquilizar. — Não se preocupe comigo. O importante é que você vai ficar bem.

Eu queria acreditar nela, mas havia algo na maneira como ela evitava meu olhar que me deixava inquieto. No entanto, o alívio de saber que eu tinha um doador compatível era tão grande que decidi deixar isso para depois. Apertei a mão dela com mais força, sentindo uma gratidão profunda.

— Obrigado por estar aqui, — eu disse, minha voz embargada. — Não sei o que faria sem você.

— Sempre estarei aqui para você, — ela respondeu, sua voz tremendo ligeiramente. — Agora descanse. Você precisa estar forte para o transplante.

Fechei os olhos, sentindo uma paz que não sentia há muito tempo. Sabia que ainda havia um longo caminho pela frente, mas pela primeira vez em meses, eu sentia que havia uma luz no fim do túnel. E tudo graças à mulher ao meu lado, lutando comigo a cada passo do caminho.

Enquanto começava a adormecer, uma última dúvida pairava na minha mente. Quem seria o meu doador? Quem tinha feito esse sacrifício por mim? Mas por agora, estava grato por ter essa chance de lutar, de viver. E isso era tudo o que importava.

Trastevere - Damiano David Onde histórias criam vida. Descubra agora