Diciannove

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Os raios do sol matinal filtravam-se pelas cortinas da minha cozinha, criando padrões dançantes no chão enquanto eu me arrastava até a cafeteira. Os últimos dias haviam sido um turbilhão de emoções e responsabilidades, e eu estava começando a sentir o peso de tudo isso. Meus pensamentos voltaram para Lola e Líris, especialmente Líris, que agora ocupava cada canto da minha mente.

Comecei a preparar meu café da manhã, esperando que a rotina me trouxesse algum conforto. Porém, ao dar a primeira mordida na torrada, senti uma onda de náusea e tontura me atingir com força. Apoiei-me no balcão, tentando recuperar o equilíbrio, mas a sensação não passou. Ao contrário, só piorava.

Minhas mãos tremiam e um suor frio escorria pela minha testa. Meu coração acelerou, e por um momento, pensei que ia desmaiar. Respirei fundo várias vezes, tentando me acalmar, mas a sensação persistia.

"Isso não é normal", pensei.

Já fazia algumas semanas que me sentia assim, mas sempre encontrava uma desculpa para ignorar. O estresse, a falta de sono, as preocupações constantes... mas agora, parecia que meu corpo estava me forçando a prestar atenção.

Com um esforço tremendo, fui até o meu celular e marquei uma consulta com o médico. Eu não podia mais adiar isso. Precisava estar bem para Líris. Ela dependia de mim, e eu não podia falhar com ela.

Enquanto esperava a confirmação da consulta, meus pensamentos vagavam. Lembrei-me do dia em que prometi a Lola que sempre estaria presente para nossa filha. Que a protegeria e cuidaria dela. Mas como poderia fazer isso se eu mesmo estava desmoronando?

Peguei minhas chaves e saí de casa, dirigindo-me ao consultório médico. Cada minuto no trânsito parecia uma eternidade. Minha mente estava um caos, imaginando todos os cenários possíveis. E se fosse algo grave? E se eu não pudesse estar lá para ver Líris crescer?

No consultório, preenchi os formulários com mãos trêmulas. Quando entrei no consultório médico, um frio percorria minha espinha. Não era só o ar condicionado gelado; era a incerteza do que estava por vir. Sentei-me na cadeira, tentando parecer mais calmo do que realmente estava.

— Bom dia, Damiano. O que está acontecendo? Como você está se sentindo?

Suspirei, sabendo que era hora de ser honesto.

— Tenho me sentido exausto ultimamente. Não importa o quanto eu durma, a fadiga não passa. Minhas articulações e ossos doem constantemente, e tenho calafrios que vão e vêm. Além disso, tenho notado algumas manchas avermelhadas na minha pele e perdi peso sem nem tentar.

O médico franziu a testa, anotando tudo em seu bloco.

— Você mencionou manchas avermelhadas. Pode me mostrar?

Levantei a manga da camisa, revelando algumas manchas na parte superior do braço. Ele as examinou cuidadosamente, franzindo ainda mais a testa.

— Tem tido algum tipo de sangramento? Sangramentos nasais, talvez?

Assenti, sentindo um nó na garganta.

— Sim, tenho tido sangramentos nasais frequentes. Às vezes, acontecem do nada.

O médico fez mais algumas anotações, depois se recostou na cadeira, me encarando com uma expressão séria.

— Damiano, os sintomas que você está descrevendo são preocupantes. Vamos precisar fazer uma série de exames para entender melhor o que está acontecendo. É importante não pularmos nenhuma etapa aqui.

Senti um calafrio percorrer meu corpo novamente, mas dessa vez não era por causa da sala gelada. Era medo. Medo do desconhecido, medo do que isso poderia significar.

Trastevere - Damiano David Onde histórias criam vida. Descubra agora