Lola Valentini
O salão da escola estava decorado com balões coloridos e desenhos feitos pelas crianças, cada um com uma mensagem especial para o Dia dos Pais. Líris estava animada, correndo de um lado para o outro, mostrando seus projetos para os outros pais. Eu sorria, mas por dentro meu coração estava apertado. Esta seria a primeira vez que veria Damiano desde aquele dia doloroso em que ele deixou meu apartamento.
Quando finalmente o vejo entrando no salão, sinto um nó se formando no meu estômago. Ele está diferente, está mais forte, mas ainda com aquele brilho nos olhos que sempre me encantou. Ele manteve seus cabelos raspados por um tempo mas posso ver que estão começando a crescer novamente. Líris corre até ele, e o abraço deles é tão cheio de amor que me faz querer chorar. Por um momento, parece que nada mudou. Mas então, ele olha para mim, e a realidade bate de novo.
— Lola, oi — ele diz, sua voz tensa, mas educada.
— Oi, Damiano — respondo, tentando manter a compostura.
— Papai! — Líris grita, puxando-o para ver um desenho que ela fez de todos nós juntos. — Olha só! Somos nós!
Ele sorri, um sorriso verdadeiro e genuíno, mas quando seus olhos encontram os meus novamente, há uma tristeza ali que não passa despercebida. Ele não parecia com alguém que estava feliz por ter sobrevivido a uma doença fatal.
— Está lindo, amore mio — ele diz, abaixando-se para beijar a testa de Líris.
— Você está bem? — pergunto, incapaz de segurar a preocupação na minha voz.
Ele hesita por um momento antes de responder. — Sim, estou bem. E você?
Assinto, mas é uma mentira que ambos reconhecemos. — Estou bem.
A tarde continua com apresentações das crianças, pequenos discursos dos professores e muita correria dos pequenos. Damiano e eu nos esforçamos para parecer normais, conversando sobre as coisas triviais e rindo das travessuras de Líris. Mas a tensão entre nós é palpável.
Quando finalmente nos encontramos sozinhos, enquanto Líris está ocupada com seus amigos, ele se aproxima de mim.
— Lola, sobre tudo... — ele começa, mas eu levanto a mão para interrompê-lo.
— Não, Damiano. Não hoje. Vamos apenas aproveitar o dia com nossa filha, ok?
Ele parece aliviado e assentiu.
— Claro, você tem razão. Hoje é sobre Líris.
Passamos o resto da festa tentando manter as coisas leves, mas é impossível ignorar o elefante na sala. No final, quando a festa está terminando, Líris se aproxima e puxa nossas mãos juntas, nos forçando a nos olhar.
— Mamãe, papai, podemos ir tomar sorvete? — ela pergunta, seus olhos brilhando de esperança.
Damiano e eu trocamos um olhar e, por um momento, o mundo parece certo de novo. Honestamente? eu pagaria todo o meu salário anual para não precisar sentar em uma mesa junto a Damiano. Mas não queria que Líris me visse como a chata que não pode ficar no mesmo lugar que o papai.
Nos últimos meses ela pergunta frequentemente porque eu e Damiano não estamos mais nos vendo e não temos mais "programas em família". Eu sempre invento alguma mentira e espero que ela acredite. Mas hoje não há como fugir, eu só consigo pedir que Damiano entenda minha expressão fácil e diga não a pequena...sei lá, diga que está cansando ou algo do tipo.
— Claro, princesa — ele diz, apertando minha mão de leve antes de soltar. — Vamos todos tomar sorvete.
Enquanto saímos juntos, sinto que, mesmo que seja só por hoje, estamos tentando ser uma família novamente. E, por mais que doa vê-lo, é um pequeno consolo saber que ainda podemos criar momentos felizes para nossa filha, apesar de tudo.
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Trastevere - Damiano David
RomanceAté onde você iria para a pessoa que você ama alcançar seus sonhos? A resposta de Lola Valentini pode ser longe demais... Após mais uma de suas noites casuais com seu melhor amigo, uma vida entra em jogo e cabe a Lola contar a ele e acabar com seu...