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Duas semanas se passaram e Mon estava acompanhada do pai no hospital. Era uma tarde de quinta feira e ele conseguiu licença no trabalho para cuidar da filha.

_O senhor não vai ganhar. -Mon olhou bem para o tabuleiro de damas posto na mesa. Seu pai estava sentado na beirada da cama e pensava em uma estratégia para virar o jogo.

_É o que veremos.

Mon sorriu de canto, estava com a perna operada para cima com um apoio que Kimhan, namorada de Wan, havia levado até o hospital como um presente. Haviam várias estampas de pompons que as líderes de torcida usavam.

_Dama! -Mon gritou e seu pai bufou frustrado. _É papai, não sei não...

_Não vou me dar por vencido.

Não adiantou absolutamente nada, Mon ganhou disparada.

_Oi, boa tarde. -A voz era de um médico claramente estrangeiro, ele cumprimentou o pai de Mon com um aperto de mão após a reverência. _Meu nome é Arnold, sou ortopedista e vou acompanhar seu caso mais de perto junto da doutora Samanun. Quero que façamos um teste rápido, por favor.

Mon assentiu e se virou na cama, colocando as pernas para fora como orientado pelo médico.

Balançou as duas, a perna operada com mais dificuldade. Arnold fez diversos testes rápidos, notou a dor no rosto de Mon e decidiu que era hora de parar.

_Acho que acabou pra mim, pai. -Mon falou assim que o médico saiu. _Não vou mais competir.

_O que? -O homem levantou abruptamente. _É o seu sonho.

_Não é mais. Vou aceitar a bolsa de estudos em Londres e ir estudar Direito por lá.

_Mas filha...

_Eu só queria que soubesse, pai. Ainda vou avisar mamãe. -Mon cruzou os braços ao suspirar.

Não havia o que fazer, seu sonho estava morto. Teria de passar a maior parte do tempo no hospital fazendo coisas do colégio junto do tratamento que a faria ficar boa novamente, mas não a tempo de competir.

_Boa tarde. -Samanun apareceu, dessa vez com cabelos presos num coque e roupa azul usada na área cirúrgica ao invés do típico jaleco branco sobre uma roupa na cor vinho.

_Doutora, só um minuto da sua atenção, por favor. Temos duas opções de acesso -o rapaz mostrou algo no tablet para Sam. Ela explicou algumas coisas das quais Mon e o pai sequer ouviram falar e ele se foi apressado.

_Olá, senhor. Olá Mon. Como você está hoje? -Sam sorriu lindamente para os dois.

Mon sentiu aquele formigamento estranho na barriga ao ver o sorriso da médica. No começo pensou que estava surpresa pela beleza dela, mas com o passar dos dias, Mon concluiu que não era bem isso.

_Bem. Quero ir logo pra casa.

_A mãe dela e eu não vemos a hora dela voltar. O irmão ainda não conseguiu vir de Londres e está ficando perturbado. -O pai fez um carinho na testa de Mon.

_Bom, diga ao seu filho que ele verá a irmã em breve porque eu vou me encarregar pessoalmente do seu tratamento junto do doutor Arnold. -Sam disse e só então Mon reparou as pastas que ela segurava. _Este é o formulário com todos os processos do tratamento. Estou dando-o a vocês.

_O valor excede o que podemos pagar e-

_Estou dando-o a vocês. -Sam repetiu. _Tudo que o senhor precisa fazer é assinar. Mon ainda é menor de 21 anos, que é nossa idade mínima sugerida, por isso eu peço que leiam com atenção e se houver algo que desagrade, me fale e verei o que posso fazer.

_A senhorita está dizendo que vai arcar com tudo? Estamos lhe causando problemas! -O homem disse ao abrir a pasta.

_O hospital é da minha família, então não vai ser problema algum. -Sam descobriu a perna de Mon após olhá-la como se pedisse licença. Os olhares estavam ficando frequentes, mais do que Sam gostaria de admitir. _Pense com cuidado, sim?

_Obrigada, doutora. -Mon disse olhando fixamente para o rosto de Sam. A médica sorriu enquanto tocava a perna da garota.

_Eu já volto. -O pai de Mon discava um número no celular quando saiu às pressas.

_Ele resolve sair bem quando preciso usar o banheiro! Droga. -Mon bufou e começou a se virar para tentar descer da cama.

_Você não ouviu nada do que eu disse essa semana? Nada de apoiar o pé no chão.

_Então vou pular igual o saci-pererê. -Mon se equilibrou em uma perna. _Eu sou uma atleta. Relaxa.

E foi nesse pensamento que Mon quase caiu de cara no chão não fosse a doutora Sam a segurar pela cintura, sustentando seu corpo com o dela.

_Por que você precisa ser tão teimosa?

As duas estavam bem próximas agora. Mon encarou a médica mais de perto e conseguiu sentir o perfume dela. Marcante, como imaginou. Sam não usava muito perfume para não importunar os pacientes e então, para sentir, alguém teria que chegar bem perto.

_Além de ser a mulher mais linda que já vi, também é a mais cheirosa. -Mon comentou se agarrando a médica.

_Eu estou cheirando a cirurgia. -Sam fez uma careta. _Mas agradeço a tentativa. Você não costuma tentar flertar com seu pai por perto, não é?

_Nah, ele não entenderia.

_Você dando em cima da sua médica?

_E ela parecer estar gostando? -Mon olhou sapeca para Sam e a viu com o rosto vermelho feito um tomate. _Perto assim, eu diria até que eu poderia implorar por um beijo.

_Você é uma boba. -Sam entrou com Mon no banheiro do quarto e a ajudou antes de se virar para que ela tivesse mais privacidade. _Você é bem mais nova do que eu, sabia?

_E desde quando idade define alguma coisa? E não é como se você tivesse 40 anos.

_Eu tenho 29, vou fazer 30 em breve e você tem 19. Ainda é jovem e tem muitas opções por aí.

_Se está considerando nossas idades é porque cogitou me levar pra sair quando eu estiver fora daqui. -Mon foi ainda mais além. _Estou certa?

_Você é sempre assim com as pessoas que considera lindas?

_Só com você.

Sam sorriu com a língua entre os dentes.

_Como você jamais me chamaria pra sair, me deixe levar você pra sair como agradecimento por ter salvado minha vida.

_Jamais é uma palavra muito forte. -Sam sentiu quando Mon segurou em seu braço e pôde se virar para ajudá-la.

_Você precisa dizer sim ou não. -Mon se apoiou totalmente na médica.

_Sim.

_Sim? Então... você quer sair comigo?

_Sim, Mon. Eu quero sair com você.

E naquele momento, Mon quase se esqueceu da perna operada e deu um salto. Quase... não fosse o braço firme daquela médica extremamente linda a segurando com tanta força.

O encanto quase se desfez quando o pai de Mon voltou sorrindo dizendo que assinou os papéis.

A quinta garota | MONSAMOnde histórias criam vida. Descubra agora