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Espero que gostem!

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_Oi, cunhada. -Aneung cumprimentou Sam assim que a viu na recepção do hospital naquele sábado à noite. _Sua irmã pediu que eu trouxesse uns sanduíches pra ela. Comprei pra você também. -Estendeu uma sacola pra Sam.

_Obrigada. -Sam abriu um sorriso cansado. O plantão de 12 horas foi estendido para mais 12 por conta da pediatria. Sam iria monitorar o andar durante a noite e atender quaisquer casos de crianças acidentadas ou com algum outro problema de saúde. _Onde está Neung?

_Na galeria. Está terminando o design de um cliente. -Aneung digitou algo no celular. _Não quero estragar seu descanso, mas Kirk está vindo logo ali. Vou encontrar sua irmã.

_Aneung... -Sam a chamou, mas já era tarde.

Kirk, o rapaz que se dizia completamente apaixonado por Sam, apareceu usando roupas casuais.

_Soube que estendeu seu plantão e pensei em trazer algo para te dar energia. -Kirk sorriu abertamente ao estender uma caixa de bombons com recheio de morango. Um dos favoritos de Sam.

_Obrigada, Kirk.

Por sorte, o aparelho da doutora apitou dizendo que era hora de ir para a emergência. Sam se despediu do rapaz que ficou tristonho pra trás.

_Criança baleada na cabeça, o projétil entrou e não tem marca de saída.

_Cirurgia agora. -Sam correu e apertou o botão vermelho. Deixou seu lanche e os chocolates com um residente que sequer conhecia e correu para o elevador junto do paciente baleado.

A noite seria longa.

Depois de quase três horas tentando remover a bala sem demais complicações, pela terceira vez desde que pisou numa sala de cirurgia pela primeira vez, Sam perdeu um paciente. E pior: dessa vez era uma criança de apenas 6 anos.

Depois de declarar a morte cerebral junto ao neurocirurgião, Sam saiu da sala com as mãos sujas de sangue. Iria dar a notícia aos pais que esperavam aflitos na companhia de um agente policial e também explicaria sobre os trâmites para doação de órgãos.

Os gritos ecoaram por todo o andar do pós operatório que foi onde Sam os pediu para aguardar.

_Eu sinto muito.

O pai, em meio a toda a dor, tratou logo de resolver a questão da doação de órgãos e Sam ficou encarregada de retirar todos assim que olhassem a fila de espera.

Nesse intervalo, aproveitou para olhar uma senhora que operou a coluna, outra idosa que havia operado o nariz para remoção de um câncer e com mais algumas sessões de químio, ela estaria livre da doença. Algo bom em meio a dor que se instalou na cabeça de Sam.

Quando o relógio marcou uma da manhã, Sam sentiu seu corpo rígido, a vontade de chorar veio com tudo e por mais que tentasse não chorar, acabou perdendo a luta. Foi para a sacada exterior onde alguns acompanhantes estavam e chorou quieta em um canto.

_Ei.. -A voz suave a despertou do transe.

_Ei.. -Sam enxugou o rosto rapidamente. _O que está fazendo fora da cama? É repouso absoluto.

_Qual é, a enfermeira disse que eu podia sair da cama na cadeira de rodas. Nop me ajudou. Agora ele está roncando. -Mon deu de ombros enquanto empurrava a cadeira até a beirada. _Você quer falar sobre isso?

Sam não podia acreditar no absurdo daquela situação.

_Volte para o quarto. Melhor, eu te levo...

_Nada disso, doutora. -Mon afastou-se com a cadeira. _Eu sou uma atleta. Tenho mais velocidade e força que você, não adianta tentar me levar a força.

_Acabou de operar a perna.

_Já faz alguns dias, na verdade. -Mon gargalhou. _Eu só quero que você fique sorrindo. Não gostei nada de ver você chorando, mesmo você ficando linda de todos os jeitos.

Sam balançou a cabeça. Olhou para a vista adiante depois de desistir de argumentar com Mon e respirou fundo.

_Acabei de perder um paciente na mesa de cirurgia.

_Eu sinto muito, Sam. -Mon disse como se já fosse íntima dela, sentiu o peso daquilo.

_Eu também. Ele só tinha 6 anos. Levou um tiro na cabeça e pelo que entendi foi bala perdida. -Sam precisou de um segundo. Imersa naquela informação que machucava seu peito, sentiu o calor da mão da garota na sua, segurando, tentando transmitir alguma segurança para a médica.

_É senso comum que tiro na cabeça tende a terminar assim. Eu sei que não é fácil pra você como profissional, responsável por tentar salvar a vida de todos que entram nesse lugar, só que eu tenho certeza que você e todos os médicos fizeram o possível.

Sam assentiu ao ouvir aquilo, a maneira calma de falar deixou seu coração mais aquecido. Contudo, jamais esqueceria o olhar de dor dos pais, nem do rosto daquele menino.

_Filha. -A voz era de Aron, o homem estava um caco depois do plantão. _Os trâmites estão resolvidos. Precisamos que remova os órgãos para que possamos levar até o heliporto.

_Claro. -Sam enxugou os olhos e só então se deu conta de que estava segurando a mão de Mon. _O senhor pode levar ela de volta para o quarto?

_Claro.

Mon balançou a cabeça de nervoso quando o médico alto e bonito se aproximou para empurrar sua cadeira. Trocou um olhar com Sam antes de ser levada pelo médico.

_Você é a mocinha do colégio nacional, não é?

_Sim, senhor. -Mon estava nervosa da cabeça aos pés.

_Eu acompanhei o último campeonato por causa da minha sobrinha. Não sabia que você era a responsável pelo pico da torre até ter acesso aos vídeos e ver você aqui. Vocês são muito boas!

_Obrigada, senhor. Doutor... senhor...

_Pode me chamar de Aron. -O homem disse tranquilamente.

_Aron. Obrigada. Sua sobrinha compete?

_Ela é apenas fã. Mas eu fiz parte da equipe em Yale. Éramos quatro rapazes no meio das garotas, foi lá que conheci minha esposa. Ela era líder da turma de medicina e acompanhava os jogos onde nós nos apresentávamos.

_Que incrível! Eu nunca conheci ninguém que deixou de competir, você é o primeiro. Chegou a competir a nível nacional?

_Eu cheguei aos nacionais dos Estados Unidos, mas um desgaste ósseo me fez parar e então decidi que era hora de mergulhar de cabeça na medicina e me mudei de vez para Bangkok, me casei e agora estou aqui. Pleno e feliz.

Entraram no quarto onde Nop dormia tranquilamente no sofá para acompanhantes. O doutor fez um "shh" com o dedo e pegou Mon no colo com todo cuidado para colocá-la na cama.

_Obrigada por me trazer. -Mon sussurrou ao ser colocada na cama. _Era meu sonho chegar as nacionais.

_Era? -O homem cruzou os braços.

_Sim. Vou perder a competição final por causa disso. -Apontou a perna. _Então não faz sentido continuar.

_Não será a última chance. Haverão outras oportunidades.

_Só ano que vem e eu não tenho esse tempo. -Mon suspirou pesadamente.

_O tempo dirá se você o tem ou não. -Aron a cobriu e ajeitou a cama para Mon. O celular em seu bolso apitou. _Preciso ir... -ele leu o informe. _Parece que temos dois pacientes com queimaduras. Depois passo para conversarmos mais.

_Bom trabalho, doutor Aron.

Ele já tinha saído quando Mon acabou a frase. Algo dentro dela estava apreensivo em relação a competição, mas preferiu não pensar muito nisso. O fato de Sam e o pai dela trabalharem ali já era algo bem mais interessante para se pensar.

A quinta garota | MONSAMOnde histórias criam vida. Descubra agora