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Julho, 2024

Dias e dias se passaram e Mon seguia internada. Agora, porém, conseguia fazer suas lições do colégio, estudava para as provas finais e recebia visitas dos colegas de turma e equipe de torcida, afinal, não estava mais na ala do pós operatório.

A transferência para o quarto ocorreu após quase um mês da cirurgia. Nenhuma outra crise convulsiva foi registrada e Mon continuava gozando de plena saúde.

_Como se sente? -Nop estava fazendo companhia para a amiga na sexta à tarde, iria embora antes do anoitecer. _Os garotos querem que você vá assistir a apresentação.

O mês de julho começou a mil com os preparativos para a competição e Mon, mesmo após desistir, continuava sendo atualizada pelos companheiros.

_Eu não sei não, Nop. Ainda não absorvi tudo isso, estou mal pra caramba em ficar de fora e mesmo que seja o melhor a se fazer, desistir me destruiu. -Jogou sua sinceridade pra fora.

_Me coloco no seu lugar e tento compreender dentro do possível, Mon. O atual momento é delicado, só que é tudo que é: um momento. Chegará o momento em que você estará boa, daí pensará: terá valido a pena desistir?

_Por que você precisa ser tão racional e correto? -Mon jogou um pedaço de biscoito nele.

_É a verdade. -A risada de Nop ecoou. _De qualquer maneira, não vou insistir em tentar mudar sua decisão.

_Obrigada. -Mon gesticulou ironizando.

Nop se foi após mais uma conversa sobre as provas antes do pequeno recesso que teriam e também falaram sobre uma chance de Mon ter alta mesmo que tivesse que voltar toda semana ao hospital para o tratamento que Sam lhe deu.

E por falar em Sam, naquela noite quando Mon a viu rodeada de residentes, esperou até que ela estivesse sozinha em seu quarto e começou com os joguinhos que vinha fazendo nos últimos dias. Flertavam sem trocar uma palavra, só que Mon precisava de uma coisa mais concreta.

_Já que estou perto de receber alta, você aceita jantar comigo na segunda noite que eu estiver fora daqui? -Mon perguntou com certa ansiedade, viu Sam desviar os olhos do iPad para olhar nos seus.

_Claro. Você prefere sair ou comer em casa?

_Podemos ir a um restaurante de comida japonesa e comer bombons com recheio de morango. -Mon animou-se. Finalmente algo incrivelmente bom iria acontecer.

_Adorei a ideia. Então, na sua segunda noite fora de casa... que será, hum, em três dias...

_Espera! -Mon quase pulou da cama. _Três dias? Eu nem tenho roupa pra esse evento!

_Você está mais feliz pelo encontro do que pela alta que será amanhã? -Sam estava realmente chocada quando levou a mão a boca e riu. _Inacreditável.

_Eu preciso de um tempo pra assimilar que a mulher mais linda desse mundo aceitou sair comigo e que vai ser daqui a três dias. -Mon levou a mão ao coração. _Chame a doutora Phailin, preciso de um cardiologista para ver se não estou tendo um ataque cardíaco.

_Você é tão besta! Meu Deus... -Sam fechou os punhos com o quão adorável Mon estava sendo. Os olhos se fechavam totalmente quando a mais nova sorria daquela forma, Sam achava a coisa mais fofa do mundo. _Vou passar na sua casa as 7 pra te pegar. Sei de um lugar que você vai adorar.

_Pensei que eu fosse te levar.

_Nah, você fez o convite, deixe que agora eu cuido de tudo. Principalmente de você. -Sam tocou o queixo de Mon antes de apertar levemente sua bochecha e pedir licença do quarto.

Mon podia surtar a qualquer momento porque não podia acreditar que aquela mulher maravilhosa que mais parecia uma deusa iria mesmo sair com ela.

Seu coração imaturo não queria acreditar no que parecia óbvio diante de seus olhos. Samanun era uma mulher linda, inteligente, cheia de charme e completamente irresistível. Qualquer um se arrastaria aos seus pés. Mon não era tola de pensar que aquilo daria em algo além de uma possível ficada e quem sabe, se o universo fosse generoso, uma transa e estaria tudo bem.

Não queria pensar mal da médica, contudo não podia evitar os pensamentos de que seria apenas um momento. Talvez até mesmo serviria como verdadeiro agradecimento. Tudo isso passava por sua cabeça a todo momento.

Imersa em um começo melancólico de noite, Mon decidiu que iria tomar banho sozinha antes que qualquer um chegasse. Desceu da cama, se apoiou nas muletas e foi para o banheiro. Fez de tudo aos poucos e conseguiu completar o banho. Ao voltar pra cama precisou de ajuda para subir e nesse exato momento Samanun apareceu com seus residentes e a ajudou.

_Obrigada, doutora. -Mon disse enquanto seus fios loiros caiam soltos após muito tempo presos.

Sam sorriu em resposta.

E lá estavam os pensamentos ruins outra vez. Ruins, mas que poderiam ser verdadeiros. Mon pensou em si mesma, enxergando a garota de 19 anos que ainda estava no último ano do ensino médio porque entrou atrasada na escola, tinha dupla nacionalidade, falava dois idiomas porque sempre foi ensinada assim, vivia numa casa simples em um bairro simples. Não era nada demais, só uma garota inexperiente.

Aos poucos sua confiança foi minando-se. Aos poucos sua mente perdeu a capacidade de ser positiva e lá estava ela outra vez na melancolia que a dominava há algumas semanas antes do acidente.

E ainda teve o maldito acidente. Sua perna a incapacitando de competir no único esporte que amava e que poderia fazer com que deixasse de ser medíocre. Sentia-se frustrada e não sabia o que fazer ou como fazer.

Quando a enfermeira foi conferir seu acesso e parabeniza-la pela alta no dia seguinte, Mon sorriu como se não fosse nada demais. O efeito daquele peso em seu peito estava começando a sair.

Perdeu totalmente a coragem que vinha conquistando e então, quando tudo se foi, Mon adormeceu. Queria ir logo pra casa e se enfiar debaixo das cobertas e esquecer tudo.

Cancelaria o encontro, esqueceria o tratamento, terminaria o colégio e depois veria o que fazer. Os piores anos de sua vida foram assim: a vida simplesmente a levou e Mon começava a dar abertura para que fizesse de novo e quem sabe, dessa vez, tudo terminaria.

•••

Calma, é crise pós adolescência

A quinta garota | MONSAMOnde histórias criam vida. Descubra agora