POV OLÍVIA
Apesar da ansiedade e expectativas por causa do exame, a manhã estava extremamente agradável. Daryl sugeriu tomarmos café da manhã em nossa padaria favorita antes de seguirmos para o consultório do Dr Josh, e eu aceitei pensando nos meus pãezinhos preferidos.
Ao chegamos à Zaro's Cake, meu sorriso desapareceu ao avistar Matt sentado em uma das mesas, acompanhado por Nina. Pelas conversas que tive com Liza, já suspeitava do que poderia surgir entre eles, e eu realmente não queria interferir na vida de Matt. Segurei Daryl pelo braço e sugeri irmos a outro lugar, alegando que o cheiro ali estava me incomodando demais.
-Você quer sair por causa do Matt?
-Claro que não, eu só..."
-Olívia!! - Nina chamou alto ao se aproximar de mim.
Daryl percebeu que Nina queria falar comigo em particular e dirigiu-se a Matt, que claramente ficou desconfortável com a situação.
-Quando vai ao salão me ver? Precisamos cuidar desse cabelo. - Nina falou enrolando uma das mechas com o dedo indicador.
-Você tem razão Nina. – Digo olhando o meu reflexo no vidro da porta espelhada - Estou sem tempo agora, mas logo marco um horário.
Ela se apoiou no balcão de doces próximo e cruzou os braços antes de começar a falar.
-Olívia, eu sei que você e o Matt têm uma história complicada, mas queria ser honesta com você, eu e ele estamos nos conhecendo melhor e... eu estou gostando. Espero que isso não afete nossa amizade, e se você disser para eu me afastar eu juro que vou entender.
Eu solto um longo suspiro passando as mãos pelos meus cabelos, pego em suas mãos e encaro seus belos olhos esverdeados.
- Nina, você é uma boa amiga, infelizmente eu e Matt ficamos no passado. Um passado bonito por algumas vezes, mas muito doloroso. Eu quero que ele seja feliz, nós não poderemos ter muita convivência, pelo menos não agora, e eu espero que me entenda.
Nina esboça um sorriso tímido e carinhoso ao soltar minhas mãos.
- Olívia, eu e Matt não temos nada ainda, mas eu queria saber se para você tudo bem se eu me aproximar dele e no fundo eu sabia que não poderia esperar outra atitude de você. Eu também desejo que você e Daryl sejam muito felizes, com muitos filhos e tudo que tem direito.
Enquanto Nina falava, tudo ao redor escureceu e sua voz foi ficando distante. Meus olhos foram fechando lentamente, apoiei-me em seu braço e então não vi mais nada.
Acordei em um quarto de hospital com Matt e Daryl me observando com preocupação, enquanto o cheiro característico me deixava ainda mais enjoada. O Dr. Josh nos cumprimentou com um sorriso caloroso e pediu que Daryl e Matt se sentassem no sofá em frente à cama. Antes de sentar, Daryl me ajeitou melhor na cama, colocando mais um travesseiro atrás das minhas costas.
-Mas o que aconteceu, Dr? Eu estava conversando com minha amiga e de repente desmaiei, a última coisa que me lembro é de uma tontura insuportável.
-Queda de pressão devido a algum estresse Sra. Ortega, mas agora está tudo bem, e sua gravidez está ótima.
O alívio tomou conta de mim ao ouvir que meu bebê estava bem e Daryl suspirou visivelmente mais tranquilo.
-Você precisa descansar e evitar situações de estresse. - Continuou o Dr. Josh. -Recomendo que tire alguns dias de folga e se concentre em sua saúde e bem-estar.
Balancei a cabeça concordando, sentindo um peso sendo aliviado de meus ombros. Daryl segurou minha mão com firmeza, demonstrando preocupação e carinho em seus olhos.
-Vamos seguir as orientações doutor. Você merece um tempo para se cuidar e cuidar do bebê Mi Maya.
-"Dos Bebês" Sr. Ortega.- interveio o Dr. Josh. - Parabéns! Vocês serão pais de gêmeos.
Em um momento quase inacreditável, Matt abraçou Daryl com um sorriso tímido, sem dizer qualquer palavra. O Dr. Josh sorriu e prosseguiu com as informações.
-Como eu estava explicando. - Disse o médico, ajustando os óculos enquanto examinava o ultrassom. - Os gêmeos são bivitelinos, o que significa que não compartilham a mesma placenta, ao contrário do caso de vocês dois, que pelo que vejo são idênticos. Os bebês estão saudáveis e têm entre quatro a cinco semanas de gestação, com uma margem de erro de sete dias para mais ou para menos. Notei que um dos bebês é um pouco maior que o outro, mas isso é perfeitamente normal em gestações gemelares.
Ele fez uma pausa, olhando atentamente para as imagens na tela antes de continuar:
-Sra. Ortega, você tem um pequeno descolamento de placenta devido à queda. No entanto, com o repouso adequado e a medicação que vou prescrever, acredito que poderá ter uma gestação tranquila até os oito ou nove meses. Bem, vocês precisarão de algumas consultas regulares para monitorar o desenvolvimento dos bebês - Explicou ele, arrumando os papeis da prancheta. Além disso, é importante que Olívia mantenha uma dieta equilibrada e rica em nutrientes.
O médico, então, virou-se para mim e sorriu levemente, esperando por minha afirmação positivam, mas a curiosidade de Daryl não o deixou calado.
-Podemos saber o sexo dos bebês?
-Ainda não Sr Ortega, isso só será possível daqui a dois ou três meses. Mas eu tenho a ultrassom gravada do atendimento emergencial. Vocês querem ouvir os corações dos Bebês?
-Claro, Dr! - respondeu Daryl com a voz embargada.
O médico sorriu e pegou o tablet para acessar a gravação. O som rítmico dos pequenos corações encheu a sala de expectativa. Cada batida parecia um pequeno milagre, um lembrete das vidas crescendo dentro de mim. Segurei a mão de Daryl sentindo as lágrimas se acumularem nos meus olhos.
-Ouvir isso faz tudo parecer mais real, não é? — Daryl sussurrou, apertando minha mão suavemente.
-Eles são fortes, eu sinto isso. — Digo.
-Sim, são fortes como nós. – Daryl completa.
POV MATT
A imagem dos gêmeos mexeu tanto comigo que não aguentei ficar mais no quarto, e inventei qualquer coisa para sair logo dali. Andei pelo corredor do hospital, tentando afastar o pensamento de que esses filhos poderiam ser meus. Não, isso não é possível, pois fazem apenas três semanas e meia que aconteceu aquilo. Os bebês têm entre quatro a cinco semanas de gestação, então ela já estava grávida.
Pelo que eu já li, em casos de gêmeos idênticos não tem como fazer teste de DNA para identificar paternidade de forma individual. Não teria como saber se eu seria o pai deles e essa história maluca não bate.
Sentei em uma das cadeiras do saguão, minha cabeça girando com todas essas informações. Será que ela sabia e não me contou? Ou será que tudo não passa de uma coincidência trágica? As dúvidas começaram a se acumular, cada uma mais pesada que a anterior e por mais que no fundo do meu coração eu gostasse da ideia, sabia que aqueles bebês eram do meu irmão. Daryl está com a vida perfeita, exatamente como ele queria, e podem me chamar de louco, mas naquele momento eu precisava encontrar uma maneira de me sentir perto de Olívia, mesmo que fosse de um jeito tolo.
Com essa necessidade em mente, tirei o capacete e rolei a tela do celular. Depois do quinto toque, ela atendeu.
-Oi, Nina, tudo bem? É o Matt, vamos fazer alguma coisa hoje?
POV OLÍVIA (Meses depois)
Daryl embarca em uma viagem nesta noite com Alejandro para tratar de negócios em Porto Rico, onde têm o plano de construir uma pousada familiar.
Liza ficará comigo neste fim de semana, o que me deixa feliz, já que Daryl estava preocupado demais com a aproximação do nascimento das nossas filhas.
As mudanças no meu corpo são evidentes, e confesso que a cada dia gosto mais da minha barriga e dos mimos que recebo.
Hoje completo cinco meses de gestação e temos uma consulta marcada para descobrir o sexo dos bebês. Daryl estava extremamente animado desde cedo, e as mensagens em meu celular não paravam de chegar, pois todos os nossos amigos estão tão curiosos quanto nós.
Assim que entramos no consultório, eu me deito na maca e o Dr. Josh espalha o gel em minha barriga. Meu coração dispara toda vez que vejo meus filhos, pois esta é a terceira ultrassonografia consciente que faço e o som de seus corações batendo é a coisa mais linda que já ouvi. Primeiramente, o médico verificou a saúde dos bebês que estava perfeita, e em seguida passou o ultrassom na minha barriga por mais dois minutos tentando identificar algo. Daryl estava com os olhos fixos na tela, e admito que foi a primeira vez que o vi roer as unhas. -Então, doutor? Rosa ou azul? – perguntou Daryl sorrindo, ainda com os dedos entre os dentes.
O médico mexe um pouco mais no equipamento, e sinto uma agonia imensa devido à demora.
-Ei, olhem só, consegui identificar um.
-Parabéns, é uma menina! — anunciou o Dr. Josh, com um brilho nos olhos.
As lágrimas brotaram em meus olhos e Daryl apertou minha mão com força
— Uma menina... — Repetiu Daryl, como se estivesse saboreando as palavras.
Antes que pudéssemos absorver completamente a notícia, o médico continuou a movimentar o aparelho pela minha barriga.
-E agora vamos ver se conseguimos identificar o outro bebê.
O silêncio no consultório era quase palpável, apenas quebrado pelo som suave do ultrassom e pelos batimentos cardíacos dos nossos pequenos. Daryl segurou minha mão novamente, e seus dedos tremiam levemente.
Aqui está! — exclamou o médico. — Mais uma princesinha!
-Tudo rosa, então — Elena e Tatia, como combinamos. - Disse Daryl sorrindo.
Eu ri através das lágrimas, imaginando como seria a nossa vida dali para frente, com nossas preciosidades crescendo juntas. O Dr. Josh nos deu mais alguns minutos para absorver a notícia, e depois de limpar o gel da minha barriga, ele nos parabenizou mais uma vez.
Me despedi de Daryl com um abraço, pois ele estava atrasado e Alejandro já o esperava no aeroporto. Liza me aguardava na entrada da clínica e ficou radiante com as novidades, então decidimos ir ao shopping comprar roupas de menina, e depois ao salão de Nina para fazer as unhas e fofocar.
Ao chegarmos ao salão, as mulheres mimaram minha barriga, tiraram fotos e conversaram sobre a gravidez, algumas coisas me preocupavam e outras me acalmavam.
Durante nosso tempo no salão, Liza compartilhou sobre um pequeno romance online com Enrico, e depois das gêmeas, esse passou a se o assunto do momento. Então combinamos de reunir todo muno mais tarde, eu mal podia esperar por uma noite de garotas como nos velhos tempos.
-Combinado, Nina? Mais tarde lá em casa? - Perguntei animada.
-Eu consigo ir bem mais tarde Olívia, pode ser?
-Tudo bem, a gente te espera. - Disse Liza enquanto terminava de arrumar o cabelo.
Uma forte chuva começou a cair, amenizando o calor sufocante que dominava a cidade e contrariando minha pressa em partir, cedi aos apelos insistentes de Liza e permanecemos ali mais um pouco entre conversas e risadas.
Deslizei suavemente a mão pela minha barriga, contemplando o cenário através da porta de vidro embaçada pelo vapor. A chuva agora era apenas uma garoa, sinalizando que era hora de irmos embora, virei-me para chamar Liza, mas ao retornar o olhar para fora, um choque percorreu todo o meu corpo. Matt, encharcado e desatento, adentrava o salão, e a camiseta grudada em seu corpo atlético fez com que todos os olhares se voltassem para ele. Cada passo que dava deixava um rastro de água no chão, mas ele parecia alheio aos olhares curiosos e murmúrios ao seu redor. O momento parecia transcender o tempo e por um instante, tudo o que existia era a imagem daquele homem diante de mim, o passado e o presente colidindo em uma cena que me deixou sem fôlego.
POV MATT
Hoje, eu e Nina combinamos de ir ao cinema porque depois de meses, finalmente eu dei uma chance as investidas dela. Ainda não tenho certeza sobre como tudo vai ser, mas Nina me dá forças para seguir em frente.
Um sorriso tímido apareceu em meu rosto ao vê-la através do vidro do salão secando o cabelo de uma cliente, mas logo desviei o olhar para o outro lado e reconheci Olívia. Eu tentei ignorar aquela situação, mas a visão de Olívia ali, tão radiante e bonita, fez com que meu coração batesse um pouco mais rápido. Seus olhos brilhavam com uma luz própria, e por um instante, fiquei perdido na contemplação daquela cena.
Pude sentir a mistura de nervosismo e felicidade borbulhando dentro de mim. Enquanto isso, Nina se aproximava, e sorriu ao me ver dizendo algo que não consegui ouvir completamente, mas sua expressão era animada como sempre.
-Oi, desculpe o atraso, já estou finalizando por aqui. - Nina disse, interrompendo meus pensamentos sobre Olívia.
Olívia me cumprimentou com um sorriso gentil antes de se voltar para pegar sua bolsa da poltrona, a tensão sutil que pairava no ar, era notável pela inquietação de Olívia, então decidi quebrar o gelo.
-Já sabem o sexo dos bebês? – Perguntei.
Olívia virou-se curiosa com minha intromissão súbita.
-São meninas. - Disse ela com orgulho evidente.
Duas princesinhas pensei comigo. Uma onda de felicidade inexplicável me invadiu, logo Olívia compartilhou os nomes das gêmeas e como estavam preparando o enxoval em tons de rosa e branco. Após alguns segundos de silêncio constrangedor, correndo o risco de parecer louco e até mesmo levar um não, eu tive uma reação maluca.
-Posso, Olívia? -Perguntei, estendendo minha mão em direção ao seu ventre.
-Claro que sim. - Respondeu ela, esperando que eu a tocasse.
Deixei minha mão pousar suavemente sobre o ventre de Olívia, e senti o leve movimento das gêmeas, como se estivessem respondendo ao toque com uma dança interna. Olívia sorriu de leve e disse:
-Elas parecem animadas com a sua visita.
O calor daquela troca de olhares e gestos simples parecia derreter qualquer desconforto que pairasse entre nós momentos antes. Liza que observava tudo em silêncio, soltou um suspiro suave e o clima estranho ficou íntimo como se aquele gesto tivesse mudado alguma coisa ali.
Nós trocamos sorrisos e logo depois Nina apareceu vinda de trás do salão, secando seus cabelos com uma toalha. Rapidamente, retirei minha mão do ventre de Olívia evitando qualquer situação embaraçosa. A sensação daquele momento ainda reverberava em mim, deixando-me um tanto atordoado e incapaz de explicar completamente o que estava sentindo.
Nina chamou meu nome várias vezes, mas eu parecia estar em um estado de transe.
-Matt... Matt!!! - Ela finalmente conseguiu chamar minha atenção.
-Oi? Desculpe Nina, estou um pouco cansado hoje. - Murmurei, tentando me concentrar novamente.
Peguei sua mão e a conduzi até minha moto, consciente da necessidade de ser rápido para não nos atrasarmos. Não queria de forma alguma ser injusto com Nina, então me esforcei para deixar de lado aquela distração e focar no que precisava ser feito.
POV OLÍVIA
O final de semana revigorante ao lado de Liza terminou em um momento especial durante o almoço de domingo. Enquanto desfrutávamos do clima agradável, decidi convidá-la para ser madrinha das meninas.
-Liza, tenho um convite muito especial para você.
Ela, curiosa, aceitou o convite com um sorriso. Entreguei-lhe uma pequena caixa cor-de-rosa adornada com um laço branco. Com cuidado, ela desatou o laço e abriu a caixa, seus olhos se encheram d'água ao ler a mensagem dentro.
-Não posso acreditar que confia tanto em mim, minha amiga. -Murmurou, emocionada.
-Não consigo imaginar outra pessoa para esse papel, Liza, você é mais que uma irmã para mim. - Respondi, também emocionada.
Liza segurava a caixa com o convite enquanto acariciava minha barriga, então comentei que o padrinho seria Enrico, o amigo latino de Daryl. ela, entre risos, brincou sobre como Daryl estava "colocando lenha na fogueira".
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Amor em Dois Mundos
RomanceDesde criança, Olívia Price Dias sonhava em morar em Nova York. Mas foi aos seus 25 anos que ela finalmente conseguiu realizá-lo. Sua ascendência americana paterna a atraía para a cidade que nunca dorme. Há seis meses, ela deixou o Brasil para trab...