POV OLÍVIA
Passei uma noite muito agradável com Daryl. Saímos para jantar e depois ficamos assistindo filmes antigos a noite toda. A maioria dos meus pertences pessoais já estava na minha futura casa, até a Emy, que já estava explorando o jardim da nova casa dela há pelo menos dois dias.
Ouço um barulho na maçaneta da porta do quarto, abro um olho e vejo alguém abrindo a porta lentamente.
-Olívia, por que ainda não se levantou, amiga? Se seu rosto não estiver brilhando, unhas feitas, cabelo perfeito, vou me culpar para sempre!
Liza e Lydia. Só eu sei a pressão que sofri com essas duas nos últimos meses, mas confesso que sem elas, não conseguiria organizar nem metade de tudo. Decoração, fotos, vídeo, vestido e tudo... Absolutamente tudo pronto e impecável.
-Que vergonha de vocês! Que confusão, Meu Deus!
-Está tudo bem entre nós e Daryl, ele se desculpou, não se preocupe, já esquecemos. O que importa é que vocês acertaram. - Diz Lydia.
-Falando nisso, onde ele está? - Pergunto bocejando.
Ele foi fazer o último ajuste no terno com dois homens... Enrico e Alejandro. Acho que esses são os nomes. - Lydia fala, lançando um olhar estranho para Liza.
Arrastei-me até o banheiro, sentindo que meu corpo não estava respondendo aos comandos do meu cérebro. Após um banho, desci para o café da manhã, onde a empregada já havia preparado a mesa, e eu e minhas amigas nos deliciamos com as guloseimas disponíveis.
Ao chegar no salão de Nina, fui recebida com pétalas de rosas espalhadas pelo chão. Liza me contou que Daryl pediu para que eu fosse tratada como uma rainha naquele dia especial, pois estava prestes a me casar com o homem dos sonhos de muitas mulheres.
Os padrinhos seriam Liza, Colin, Carmem e Enrico. Alejandro iria me acompanhar até a igreja, conforme combinado, enquanto Lydia e Nina seriam minhas damas de honra, entrando com as alianças.
Nina, nossa cabeleireira, aos poucos se tornava uma grande amiga, e nossas conversas no salão eram sempre animadas. Por isso, decidi convidá-la para o casamento meio que de última hora. Liza e Lydia achavam que Nina se parecia muito comigo fisicamente e sempre brincavam com isso. Eu reconhecia certa semelhança, mas não tanto quanto elas exageravam, afinal, minhas amigas tinham uma tendência a aumentar as situações.
Eu estava extremamente nervosa, meu estômago não colaborava, sentia um nó na barriga e nem conseguia apreciar o aroma dos petiscos servidos no salão. Nina fez questão de nos oferecer muitos mimos, incluindo banhos com óleos especiais e massagens.
O tempo passou rapidamente, os penteados e maquiagens estavam prontos, um verdadeiro trabalho primoroso realizado pelas funcionárias de Nina. Eu estava quase pronta, nossos vestidos estavam perfeitamente alinhados e pendurados perto dos espelhos pareciam enfeitar o ambiente.
-Olívia, você está parecendo uma princesa! - disse Lydia com seus olhos brilhando.
-Vocês também, minhas lindas. - Respondi, abraçando minhas amigas. – Eu amo vocês.
Liza estava radiante e orgulhosa de si mesma, pois grande parte do sucesso era resultado de seus esforços. Percebendo meu nervosismo, ela lançava suas piadas para quebrar o gelo:
-Nina, se Olívia desmaiar ou passar mal, você pode se casar no lugar dela, ninguém vai notar por um tempo. – Todos riram, e ela se sentiu incrível.
-Ah, pessoal, parem com isso, não é para tanto! – Eu digo
Mesmo relutante em admitir, era verdade. Com a maquiagem, estávamos ainda mais parecidas.
POV DARYL
Eu já estava desperto há algum tempo, observando minha futura esposa dormir como um anjo, relembrando a conversa que tive com meu irmão no dia anterior. Desejava esquecer tudo que pudesse interferir no relacionamento com Olívia, exceto meu irmão, é claro, pois ele havia me aproximado ainda mais dela.
Meus pensamentos foram interrompidos pela voz de Carmem, seguida por Alejandro e Enrico, que estavam hospedados em minha casa, enquanto o restante dos amigos de Porto Rico já havia sido acomodado nos hotéis ao redor.
-Daryl, Mi Hijo!!! (meu filho)
-Minha família! Sejam bem-vindos à nossa casa e ao dia mais feliz da minha vida.
Eles eram como a família que eu não tive; Carmem agia como uma mãe, sempre cuidando de mim e de Matt. Apesar de sentir a falta deixada pela nossa mãe, que foi tirada de nós por uma tragédia, minha avó e Carmem conseguiram preencher parte desse vazio. Providenciei um café da manhã variado e convidei meus amigos para se sentarem à mesa e compartilharem esse momento familiar comigo. Gosto da ideia de ter a casa cheia, e com Olivia aqui, meus dias de solidão estavam contados. Quero encher esta casa com crianças.
-Onde está a noiva Daryl? – Carmem pergunta, enquanto corta um pão para servir Alejandro.
-Ela está dormindo. Tivemos alguns contratempos e ontem foi um dia bastante agitado. Ficamos acordados até tarde assistindo, e agora ela está dormindo.
-Mulheres! – Alejandro murmura, dando um sorriso descontraído enquanto toma um gole de café.
-Mas Liz vai chegar em breve, pois vão se arrumar. Cabelo e toda a parafernália feminina... Bem, Alejandro, Enrico... Está na hora do nosso dia de noivo e padrinhos, com muito uísque escocês e mulheres deslumbrantes.
-O quê? – Carmem pergunta.
Ela me olha com raiva nos olhos, e por causa da brincadeira, levo uns tapas nas costas.
-Auuuu!! Calma, Ca, foi só uma brincadeira, é apenas uísque e prova do terno com o alfaiate! – digo entre risos.
-Sumam daqui! Agora! - Ela nos expulsa, rindo.
Voltei e a abracei com carinho, sabia que assim ela não conseguia escapar de mim tão facilmente.
-Só estava brincando Ca, venha, eu te levo ao salão onde as meninas vão se arrumar.
-Tudo bem meu filho, mas antes preciso passar na loja de uma amiga para comprar uns acessórios antes de encontrá-las no salão.
-Tudo bem, mas... eu posso te levar até essa loja.
-Não querido, estou bem, prefiro pegar um táxi. Ah! Andem logo, vocês estão atrasados!
POV MATT
Já olhei para o maldito terno mil vezes, alimentando meu tormento. Ver a mulher que tanto amo se casar com meu irmão? Especialmente depois de tudo o que aconteceu?
Meu maior medo era de mim mesmo! Qual seria minha reação ao vê-la casar com outro que não eu?
Enquanto esmurrava o caso de areia no treino, refleti sobre todos os momentos desde que conheci a Olívia, e apesar de parte de mim querer esquecer e ficar, outra parte pedia para ir ao casamento.
Quero desejar a felicidade ao meu irmão, apesar de estar dilacerado. Só eu sei o quanto foi doloroso esconder, especialmente do Daryl, a noite que passei com ela. Nossa última noite juntos, um momento guardado em uma memória só minha.
A campainha tocou três vezes e eu fui despertado do meu transe de pensamentos. Quem poderia ser? Todos estavam indo para o casamento. Ao girar a chave e abrir a porta, levei um tempo para acreditar na surpresa...
-Carmem! Finalmente uma surpresa boa! – Disse, me jogando em seus braços.
Abracei com força minha adorada Carmem. Depois da minha avó, ela foi a única figura materna que eu e Daryl tivemos, não consegui evitar e chorei, chorei como uma criança. Meu Deus, como eu precisava disso, precisava chorar e aquele colo era o mais reconfortante para desabafar
-Porquê? Me diz Carmem. Por que tenho que aceitar esse casamento maldito?
-Oh, meu menino, venha aqui. Preciso ser breve, pois como sou uma das madrinhas, não posso demorar. Mas eu precisava ver você, meu coração dói quando você ou seu irmão sofrem, porque... Bem, ajudei a criar vocês desde bebês.
-Cometi muitos erros Carmem. Mas me diga, eu mereço essa merda toda?
-Matt, se acalme e escuta. Claro que ninguém merece sofrer, é apenas uma consequência de nossas ações. Os erros fazem parte de nossas vidas para que possamos aprender com eles, e você certamente aprendeu.
Ela começou a dizer coisas que me acalmaram, eu me senti como um menino carente chorando para a mãe depois de levar um grande tombo.
-Você é forte, Matt. Mais forte do que imagina. E lembre-se, o amor verdadeiro sempre encontra um caminho, mesmo nas situações mais difíceis.
Ela acariciava meus cabelos, seus dedos passavam suavemente, trazendo uma sensação de conforto e segurança que eu não sentia há muito tempo.
-O amor não é para mim Carmem, eu preciso aprender a viver com isso.
-Não diga isso, meu querido. A vida é imprevisível e cheia de surpresas. Às vezes, as coisas que mais ansiamos estão logo ao virar da esquina, esperando o momento certo, você apenas precisa ter paciência e acreditar que dias melhores virão.
Seus olhos brilhavam com uma sabedoria acumulada ao longo dos anos, e suas palavras, embora simples, carregavam um peso que fazia eu me sentir bem.
-Eu preciso te contar um segredo... Vi Olívia na noite retrasada e, bom, ela e Daryl tinham brigado feio. Carmem, eu traí meu irmão e enganei Olívia. Ela nem sabe o que realmente aconteceu porque pensa que sonhou comigo, mas depois que conversei com Daryl, não tive coragem de revelar que não foi um sonho. Foi muito real, e eu a amei pela última vez.
-Meu filho! O que vocês fizeram com a vida de vocês?
Carmem arqueou uma sobrancelha. Parte dela estava confusa, mas ela era a única pessoa no mundo capaz de me compreender.
-Sei que posso confiar em você Carmem.
-Matt, eu já passei por tanta coisa nessa vida que nada mais me surpreende. Por amor, você desistiu da mulher que ama. Então, meu filho, você não o traiu, você abdicou da sua felicidade pela dele. E quanto a Olívia pensar que foi um sonho, melhor assim, às vezes lá na frente, sonhos bons se tornam realidade meu menino.
Ao fim de tudo Carmem se levantou, olhou para o terno em cima da cama e disse:
-Siga a voz do coração filho, mas se lembre de ser cauteloso, pois o coração muitas vezes nos faz enxergar apenas o que desejamos, e não o que realmente precisamos.
Agradeci à minha querida amiga, tomei um banho e me aprontei, afinal, faltavam apenas cinco horas para o casamento.
POV OLÍVIA
Você nunca sabe qual dia será o mais importante da sua vida até que ele aconteça, pode ser ao lado de alguém que você ama profundamente, de alguém que partiu seu coração ou de alguém que você deseja amar. Não sei se este é o dia mais significativo da minha vida, mas com certeza é um dos mais marcantes.
Chega um momento em que você percebe que o tempo é limitado e sente a urgência de viver tudo o que deseja. O amor tem suas ironias, porque mesmo quando alguém quebra seu coração e a reconciliação é impossível, a saudade adormece, mas não deixa de permanecer.
Hoje, ao me preparar para entrar na imponente Catedral de Saint John em Nova Iorque, sinto como se estivesse vivendo um sonho acordada. Preciso confiar em nós, e que serei muito feliz, pois Daryl entrou na minha vida na hora certa.
-Pronta? – Alejandro diz, estendendo o seu braço direito na minha direção.
-Estou muito nervosa!
-Relaxa Olívia, você está linda, e lembre-se que não seremos os primeiros, as madrinhas e padrinhos entrarão antes de nós. – Alejandro tenta me acalmar. – Ah, e obrigado por me convidar para entrar no lugar do seu pai, pode contar comigo como se eu fosse ele.
-Obrigada, pode contar comigo também. – Digo com os lábios trêmulos.
Sorrio para ele, agradecendo por me tranquilizar. Liza olhava para trás constantemente, sorrindo para mim e dizendo:
-Você está linda, vai ser maravilhoso!
-Olívia, mantenha a calma. – Carmem me tranquiliza com sua voz suave e marcante sotaque latino.
E o Enrico? Bem, ele quase não falava, pois não desviava o olhar de Liza. A cerimonial chega silenciosamente com mais duas moças, que ficam com as mãos nas maçanetas das portas, prontas para abri-las conforme as suas ordens. Finalmente, a cerimonial nos dirige a palavra:
-É a hora. Preparados?
-Sim!! - Todos respondemos juntos.
As portas da vasta catedral se abriram lentamente ao som sinfônico de "Linger", e os padrinhos entraram no momento certo, seguidos por Nina e Lydia segurando as almofadas de cetim com as alianças, exatamente como praticamos nos ensaios. O som foi interrompido para dar início à marcha nupcial que anunciava a minha entrada, meu coração batia forte no peito, e Alejandro caminhava ao meu lado, transmitindo segurança como um verdadeiro pai.
Os flashes dos fotógrafos me deixavam envergonhada, enquanto as pessoas me olhavam com ternura e admiração. Durante a caminhada até o altar, perdi o fôlego, mal conseguia lembrar o meu nome e quase desmaiei, mas lembrei das palavras de Liza durante os ensaios: "Olívia, você precisa flutuar até o altar", e ela estava certa, pois mal sentia meus pés tocando o chão.
Daryl estava tão deslumbrante em seu smoking preto, tão magnífico, que é difícil encontrar palavras para descrever. Ele cumprimenta Alejandro e me dá um carinhoso beijo na testa. Entrego meu buquê para Carmen, e Daryl me leva até o pequeno altar na frente do padre. Ajoelhamo-nos no altar, e Daryl, sendo ele mesmo, sussurra em meu ouvido:
-Meu amor, você sempre fica linda de qualquer maneira. Mas hoje, você está deslumbrante como uma verdadeira princesa.
Sem desviar meu olhar do padre, faço brotar um sorriso dos meus lábios e agradeço retribuindo o elogio a ele.
O padre se vira para nós com um sorriso simpático no rosto e ajustando o microfone, ele inicia a cerimônia religiosa. Depois das belas palavras começaram as palavras praxe do casamento.
-Daryl, você aceita Olívia como sua legítima esposa, para amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe?
Nesse instante, senti um arrepio na espinha e flashes dos momentos com Daryl passaram pela minha mente e fiquei distraída a ponto de não ouvir sua resposta positiva.
-Olívia? Senhorita Olívia? Aceita Daryl Ortega?
-Sim, sim! Claro que sim! Desculpe.
-Ufa, que susto! – Daryl suspira aliviado.
Todos na igreja caem na risada, exceto Carmem, que me encarava de forma estranha, como naquele dia em Porto Rico.
-Pelo poder que me foi concedido diante de Deus.... Eu vos declaro.... Marido e mulher! Sr. Ortega.... Pode beijar a noiva.
A suave e doce troca de beijos entre os lábios, do meu esposo, marcou o encerramento da cerimônia na igreja.
Os convidados aplaudiram emocionados, alguns enxugando discretas lágrimas de alegria. A música suave de um quarteto de cordas preenchia o ambiente, criando uma atmosfera mágica para a nossa saída da igreja.
Quando entramos na limusine, Daryl começou a me beijar. Foi um beijo agradável, e nossos lábios se encaixaram perfeitamente. Eu me esforçava ao máximo para recuperar o sentimento que tinha por ele quando Matt me deixou.
-Você está linda, sabia? - Ele disse, me deixando corada.
-Se você diz... - Respondi rindo.
-Eu te amo. - Ele declarou, beijando meu pescoço.
Eu não consegui responder da mesma forma, mas me confortava saber que ele entendia tudo o que estava acontecendo. Aquele momento que me fazia sentir mal foi interrompido pela voz de Alejandro avisando que chegamos no local da festa. Não era pelo momento com meu marido, mas sim pelo fato de não conseguir mais dizer "eu te amo", o que me deixava angustiada.
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Um Amor em Dois Mundos
RomanceDesde criança, Olívia Price Dias sonhava em morar em Nova York. Mas foi aos seus 25 anos que ela finalmente conseguiu realizá-lo. Sua ascendência americana paterna a atraía para a cidade que nunca dorme. Há seis meses, ela deixou o Brasil para trab...