Capítulo 25

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POV OLÍVIA (Três meses depois)
-Olívia, tenho uma surpresa para o nosso chá de bebê de hoje. Feche os olhos. – Daryl disse animado.
Ele girou a maçaneta lentamente e com um sorriso curioso, obedeci fechando os olhos tentando conter a minha empolgação e Daryl abriu a porta com cuidado, revelando a face de uma pessoa muito especial.
-Carmem! – Exclamei com alegria.
-Que saudades de vocês, meus filhos! Vim para passar a semana aqui. – Ela disse, abraçando-me.
Fiquei tão feliz em vê-la que logo me emocionei, então com um gesto de carinho Carmem acariciou minha barriga e ficou surpresa com o quanto estava grande.
-Venha, Carmem, vou te mostrar o quarto das meninas. Logo minhas amigas estarão aqui para o nosso chá, elas estão loucas para te conhecer.

Carmem ficou encantada com o que viu, o quarto das gêmeas estava lindo e eu fiz questão de ajudar em tudo. Ela observava cada detalhe: os berços decorados com pequenas fadas, os móveis brancos contrastando com as paredes em tons pastel e os brinquedos cuidadosamente organizados,
-Está tudo tão lindo Olívia!
Eu a abracei novamente, sentindo uma gratidão imensa por tê-la ao meu lado nesse momento tão especial e ao terminarmos o abraço, ela logo puxou o tão temido assunto.
-Olívia, você sabe que Daryl convidou Matt para o chá de bebê não sabe?
-Sim, eu sei Carmem. - Murmurei, sentindo um nó se formar em minha garganta.
-Como você se sente com isso?. - Perguntou ela, arrumando algumas fraldas com delicadeza.
-Não tenho mais espaço para sentimento em relação ao Matt. - Confessei em um suspiro cansado. - Às vezes, ainda sinto uma pontada de tristeza, mas decidi me libertar desse tormento para garantir uma gravidez tranquila e também, por respeito a Daryl, para não deixar Matt ocupar meus pensamentos.
Carmem assentiu com a cabeça de forma positiva, mas a sua expressão estava carregada de preocupação.
-É bom ouvir isso, minha querida. Matt ainda parece sofrer com tudo isso, e você também.
-Não quero ser rude Carmem, mas prefiro não falar sobre o Matt. Na verdade, não quero vê-lo hoje. Por isso, decidi fazer a festa das mulheres aqui dentro e deixar os homens à vontade lá fora, vai ser melhor assim.
-Tudo bem meu amor, não falaremos mais. Então Daryl vai em uma reunião hoje a noite para resolver algumas coisas do resort?
Carmem mudou de assunto aceitando minha decisão com carinho, olhei-a nos olhos com uma ternura infinita, acariciando seus longos cabelos negros numa tentativa de confortá-la. Sabia o quanto era importante tratá-la com todo o carinho e cuidado que merecia, pois a considerava parte da nossa família.
-Na verdade eu tenho outro assunto para conversar com você. Carmem, eu adoraria que Elena e Tatia te vissem como uma avó. Elas nunca vão conhecer esse amor sem você na vida delas.
Carmem abaixou a cabeça, soltou o pequeno ursinho de Tatia que segurava em suas mãos e se ajoelhou diante da minha barriga, com os olhos marejados de emoção.
-Será um prazer ser avó de vocês, meus amores.
O carinho especial que Carmem tinha por todos nós aquecia meu coração. Eu me sentia imensamente feliz em poder contar com alguém tão experiente e amorosa como ela em nossas vidas.

POV MATT
Quando cheguei na casa de Daryl, entreguei os presentes para Nina que entrou animada para encontrar as mulheres. Saí da porta principal e me dirigi ao salão de festas, mas parei no meio do caminho ao avistar Olívia na varanda de um dos quartos conversando com Carmem. Faziam três meses que eu não a via, ela estava ainda mais bonita do que da última vez e sem dúvida era a grávida mais linda deste mundo. Aquela visão trouxe um turbilhão de emoções, Olívia com sua beleza radiante, era uma visão impossível de ignorar.
O tempo não tinha diminuído a intensidade do que eu sentia; ao contrário, parecia ter ampliado a lacuna entre o que foi e o que poderia ter sido. A paralisia que senti ao ver Olívia não era apenas física, ela representava o impacto de confrontar diretamente o passado que ainda habitava o presente. A gravidez dela ressaltava a ironia da minha própria situação – um passado ainda não resolvido, um presente doloroso, e um futuro incerto.
Ficar ali, observando-a na varanda conversando animadamente com Carmem, era como assistir a um filme de uma vida que poderia ter sido minha. Três meses de distância não foram suficientes para diminuir a dor ou a intensidade dos sentimentos, pelo contrário, parecia que cada segundo longe dela só aumentava a saudade e o arrependimento.

De repente, Olívia me viu e timidamente acenou. Trocamos olhares por alguns instantes e, sem perceber minha presença, Carmem segurou sua mão para voltarem para dentro.
Daryl conversava entusiasmado com Enrico, me aproximei deles para entrar na roda dos homens, porque fazia muito tempo que eu não via aquele latino metido a besta. Eu falava assim dele, mas era a maneira de brincarmos uns com os outros desde adolescentes, quando sonhávamos em vir para os Estados Unidos e sermos mafiosos milionários. Pelo visto isso só deu certo com meu irmão, em tese.
Cumprimentei os caras e em seguida fizemos uma rodada de tequila, o líquido desceu quente em minha garganta, e em seguida mais dois copinhos se foram. Nesse meio tempo de conversas, bebidas e risadas, Daryl recebeu uma ligação e saiu em direção à piscina. Percebi que ele ficou bem irritado, então curioso resolvi ir atrás porque eu ainda não confiava que ele estivesse fora daquela gangue.
A festa continuava animada enquanto eu me afastava tentando não chamar a atenção. O barulho da água da piscina e o murmúrio da música abafavam parte da conversa, mas consegui ouvir Daryl falando com alguém, com um tom de voz carregado de tensão.
- Max, segura mais um tempo cara, minhas filhas estão prestes a nascer, eu sei o que eu prometi, Olívia está com oito meses e elas podem nascer a qualquer momento. Eu prometo que te compenso depois, faço qualquer coisa, o que você quiser.
Eu fiquei quieto observando e Daryl andava de um lado para o outro sem me notar ali.
Max falou mais alguma coisa do outro lado da linha, e isso fez com que Daryl respirasse um pouco aliviado.
- Obrigado cara! Você não vai se arrepender, eu vou cumprir nosso acordo para poder cair fora disso para sempre! 
Ele se vira colocando o telefone no bolso de sua calça granfina e leva um susto quando me vê.
- Matt? Mas o que...? Deu para xeretar a conversa dos outros agora?
Daryl bufa e cruza os braços temeroso. 
- Daryl, como você tem coragem de arriscar sua família assim?
Eu chego mais perto e Daryl fica irritado, dando dois passos para trás.
- Você não sabe de nada Matt! Não sabe a pressão e o medo que vivo todos os dias.

POV DARYL
Matt me encurralou, e eu fiquei com medo porque ele podia revelar tudo para Olívia. Eu nunca suportaria perder tudo, porque por elas eu faço qualquer coisa, por elas eu vou até o inferno e encaro o Diabo.
Matt se senta na ponta de uma das espreguiçadeiras e puxa meu braço para eu me sente em outra.
- Daryl, você precisa me falar o que está acontecendo. Você precisa fazer alguma coisa cara, não cometa o mesmo erro que eu.
- Do que você está falando?
-Nada não, deixa para lá.
Às vezes eu tenho a impressão que Matt esconde alguma coisa grave e isso me incomoda demais. Depois de um tempo, ele me lança um olhar compreensivo e pelo que eu conheço acho que não falaria uma palavra se quer para qualquer pessoa.
- Matt, você promete que não vai contar? Olívia a está na reta final da gravidez, ela não pode ficar nervosa. E..eu estou mudando tudo, vamos construir um resort em Porto Rico, vai dar tudo certo.
- Você acha mesmo que eu faria isso com ela e minha sobrinhas Daryl? Apesar de tudo eu sou seu irmão, pode confiar em mim.
Eu contei para o Matt sobre o favor que devia a Max e ele ficou agoniado. Eu sei porque ele fica mexendo na gola de sua camiseta o tempo todo quando se sente assim.
- Daryl, não sei o que te dizer irmão. Só te digo que enquanto esse filho da puta estiver vivo não vai te deixar em paz. 
- Matt se eu matar Max muita gente vai vir atrás de mim e da minha família. Eu preciso fazer esse último favor, tenho quase certeza que se trata de uma última corrida, depois disso eu vou ser livre.
- Eu não disse isso cara, eu só acho que...
Enrico nos chama de longe, percebendo que já estamos fora da festa por muito tempo, e pensando que alguém poderia notar a ausência, saímos dali tentando disfarçar.
Matt se levanta e me estende a mão para que eu faça o mesmo, então passo as mãos nas minhas calças para alisar o tecido e acompanhá-lo de volta.
- Daryl, eu só peço que se tiver que fazer uma última coisa ilícita faça bem feito, porque as consequências podem acabar com tudo que você mais ama no mundo.
- Eu sei o que faço Matt, fique tranquilo.
Matt dá de ombros e dirige-se ao salão, enquanto eu o chamo para dizer o que é certo naquele momento.
-Ei, Matt... Obrigado!



Algumas horas depois...
Já era final de tarde e eu e Enrico tínhamos uma reunião agendada com um dos engenheiros para analisar a planta do nosso projeto em Porto Rico. Ainda não contei a Olívia, mas pretendo levá-la em breve para vivermos permanentemente na minha terra.
Fui me despedir da minha esposa e encontrei Nina animadamente conversando com ela no nosso quarto. Pedi licença, cumprimentei Nina e ela saiu de fininho para nos deixar a sós.
Caminhei devagar até Olívia, acariciei sua barriga e permanecemos em silêncio por alguns segundos antes de me declarar, como fazia quase todos os dias.
-Amo você, Mi Maya, mais do que tudo nesta vida.
-Eu também te amo. - Ela disse virando-se para mim.
Sentei na beira da cama, enquanto Olívia ficou em pé à minha frente, eu adorava esse contato com a barriga dela, pois podia sentir nossas filhas e era uma forma de me comunicar com elas.
Olívia pegou minhas mãos, levou até seu ventre novamente e olhou para baixo me encarando com doçura.
- Daryl, aqui estão as joias mais raras que alguém poderia me dar e quem me deu foi você. Isso  é muito importante para mim, e eu quero te agradecer por estar sempre ao meu lado.
Eu ergui sua blusa, encarei aquela barriga linda por alguns minutos e a beijei sentindo o cheiro do seu hidratante predileto que impregnou em mim, eu adorava essa sensação misturada com esse aroma de rosas. Encostei minha cabeça sobre ela como se fosse um travesseiro e pude sentir os pequenos chutes das minhas meninas. Esse era o melhor momento desse mundo, dei vários beijinhos enquanto elas se mexiam e em seguida levantei encarando Olívia.
-Preciso sair meu amor, essa reunião com o Engenheiro é muito importante. Quero começar logo este projeto porque tenho grandes planos para nós.
-Carmem e Alejandro ficarão com você, não quero que fique sozinha nem por um segundo.
-Não demore muito. - Ela pede com carinho.
-A reunião é aqui perto e por sorte o engenheiro está de passagem, prometo voltar logo amor.


POV MATT
Estamos apenas eu e Alejandro no salão, relembrando os velhos tempos e as dificuldades que enfrentamos juntos. Enquanto estamos animados em nossa animada conversa, Nina aparece na porta do salão e me convida para ir embora por causa da chuva que está por vir, mas Alejandro está empolgado e insiste para ficarmos um pouco mais. Como posso recusar o pedido desse homem que tantas vezes ajudou Carmem cuidar da nossa avó?
-Vou ficar mais um pouco Nina, faz muito tempo que não converso com Alejandro. Por que não fica mais um pouco com as mulheres? Ou pode ficar aqui com a gente.
-Olívia está descansando, Matt, e Carmem está tomando banho. Eu vou indo na frente, não tem problema você pode ficar aqui mais um pouco, por mim tudo bem.
-Vai ficar chateada? – Pergunto.
-Não, imagina, pode ficar. Eu te espero mais tarde, ok?
Dei um beijo em seu rosto para me despedir, e Nina sorriu timidamente em sua bela e delicada face. A acompanhei até o portão, a coloquei no táxi e pedi que me ligasse assim que chegasse.
A chuva, que começou de forma tímida há um minuto, agora se transformava em uma grande tempestade.
Alejandro começa a me fazer perguntas enquanto prepara algo para comermos:
-Matt, você gosta dessa moça?
-Estou seguindo em frente.
-Que situação você e seu irmão enfrentam, sempre competindo pelo amor de uma mulher."
-Mas Daryl acabou levando a melhor.
Carmem interrompe nossa conversa ao chegar à porta do salão de festas, perguntando se queríamos mais alguma coisa para beber. Recusei porque estava exausto, mas decidi esperar a chuva passar antes de sair, o vento ficava cada vez mais forte, chegando a arrancar o guarda-chuva das mãos de Carmem. Depois disso, ela entrou e fechou as portas de vidro, e nós três ficamos esperando a tempestade passar, mas em vez disso, a chuva só aumentava, os trovões ecoavam e os alarmes dos carros de Daryl dispararam.
-E agora, o que faremos? - Perguntou Carmem com um olhar preocupado.
-Vamos esperar, não temos outra escolha. - Respondi tentando manter a calma.
A tempestade parecia querer nos pender ali a qualquer custo. Sentamos ao redor da mesa, tentando distrair nossas mentes, quando meu celular começa a tocar com o nome de Daryl no visor.
-Oi Matt, liguei porque não consigo falar com mais ninguém e Olívia não me atende. – Ele diz, atropelando as palavras.
-Calma, Daryl! O que aconteceu?
-Matt, estou preocupado, as ruas estão bloqueadas por causa da tempestade.
-Mas está tudo bem por aqui. Nina me disse antes de sair que Olívia estava descansando.
-Carmem está aí, Matt?
-Sim, está.
-Passe o telefone para ela, por favor.
Meu telefone perdeu o sinal da operadora, a ligação caiu devido a um raio que caiu próximo dali, deixando sem sinal de celular e a casa sem energia elétrica. A situação estava se tornando incomum e era a maior tempestade que já enfrentei.
A expressão de Carmem chamou minha atenção enquanto ela continuava abraçada a Alejandro, com os olhos arregalados e fixos no chão. Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto, preocupado a puxei de Alejandro e a abracei.
-Está tudo bem Carmem, logo a tempestade passará.
-Matt, meu filho, não é a tempestade.
-Então o que é? – Pergunto.
-Olívia! Ela precisa de nós.

POV OLÍVIA
Nunca me senti tão cansada como hoje e após Daryl sair, resolvi tomar uma ducha para tentar relaxar. Deitei um pouco na cama e liguei minha série favorita, tentando me distrair. Carmem, como sempre atenciosa, veio verificar se eu precisava de alguma coisa, seguindo as instruções de Daryl.
-Olívia querida, vou descer para ver se os rapazes precisam de mais alguma coisa. Você quer um chá de camomila
-Ah, Carmem, quero sim. Parece que você leu meus pensamentos. Obrigada. — Respondi ajeitando os travesseiros na cama.
-Imagine, meu bem, vou lá fora antes que o céu desabe. Você viu como está o tempo? Deus! Parece que o mundo vai cair. — Disse ela, encostando a porta ao sair.
O barulho da chuva ficava cada vez mais forte, realmente parecendo que o céu estava prestes a desabar. Levantei para fechar as cortinas do quarto que esvoaçavam violentamente. A casa estremecia com os trovões, e o vento fazia um assovio horrível, aquele som que sempre me incomodava. Acariciei minha barriga como fazia habitualmente, e pensei comigo mesma: "Aqui vocês estão protegidas"
Sentei novamente na cama, preparando-me para deitar, quando senti uma pontada aguda no útero.
— Opa! Calma meninas, ainda não é hora. Aguentem mais um pouco — murmurei, tentando tranquilizar a mim mesma e as bebês.
Continuei acariciando minha barriga e mais outra pontada, porém mais forte me deixou alarmada. Meu celular estava sem sinal e nesse instante um trovão muito forte fez com que houvesse uma queda de energia. Tentei me levantar, mas a dor era quase insuportável, então fiquei sentada na beira da cama tentando respirar.
Meu coração disparou, porque a dor agora irradiava das costas, tomando conta de todo o meu corpo. "Deus do céu! Será que estou entrando em trabalho de parto logo agora?"
Me arrastei até as escadas, o cômodo à minha frente estava escuro e vazio. Comecei a gritar por Carmem, Alejandro, Daryl e até mesmo por Matt, mas não houve resposta. Tudo o que eu podia ouvir era o som ensurdecedor da tempestade que parecia envolver toda a casa.
Quando coloquei meu pé no primeiro degrau da escada, senti algo escorrer por minhas pernas e percebi que minha bolsa havia acabado de estourar. "Meu Deus! Sim, estou entrando em trabalho de parto. É agora!"
A dor se intensificou, quase me paralisando. Tentei descer as escadas com cuidado, mas a combinação de medo, dor e a chuva torrencial lá fora me deixava tonta. Cada passo parecia uma eternidade, e eu só conseguia pensar nas minhas bebês, tentando manter a calma para protegê-las.
Ao chegar ao pé da escada, me apoiei na parede respirando com dificuldade, peguei meu celular de novo, iluminei o caminho com as mãos trêmulas e tentei mais uma vez ligar para Carmem, mas a tempestade estava destruindo qualquer chance de comunicação.

Eu lutei, mas não aguentava mais as dores das contrações, comecei a me escorar no corrimão das escadas e sentei apoiando minhas costas nele. Juntei o que restava de minhas forças, juntei todo o ar de meus pulmões e apesar daquela dor insuportável consegui gritar por socorro.
- Por favor!! Me ajudem!!!

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