Capítulo 20

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POV OLÍVIA
A confusão em minha mente persistia, como se as peças de um quebra-cabeça estivessem fora de lugar. O perfume doce de Matt ainda pairava no ar, misturando-se com a incerteza do que realmente havia acontecido, eu havia sonhado com ele e gostei muito desse sonho. Enquanto eu tentava decifrar as lacunas em minhas lembranças, o telefone tocou, interrompendo meus pensamentos. Era Daryl, com suas chamadas perdidas e a mensagem ansiosa por uma conversa. Uma onda de emoções conflitantes me invadiu, deixando-me dividida entre o passado e o presente, entre a doce lembrança de Matt e a incerteza do que o futuro poderia trazer. A decisão de atender ou não a ligação de Daryl pairava no ar, enquanto eu tentava desvendar os mistérios que envolviam meu coração.


POV DARYL ORTEGA
A atmosfera estava tensa. Eu conseguia sentir meu coração bater forte no peito enquanto encarava Matt. A Olívia, minha Olívia, não parecia ela mesma, e eu não conseguia parar de imaginar o pior. Cada segundo que se passava, mais questões surgiam na minha mente, formando um turbilhão de pensamentos negativos.
Matt permaneceu quieto por alguns instantes, como se pesando cada palavra antes de falar. Finalmente, ele quebrou o silêncio, mas suas palavras foram como um golpe.
-Foi tudo tão rápido que não pensei direito. Eu levei Olívia para casa porque você foi um idiota. Como você pode terminar com a mulher que você diz que tanto ama, por conta de uma despedida de solteira? Que inclusive nem foi ela que organizou.
Ele estava de pé, do outro lado da sala, com as mãos no bolso e um olhar fixo em mim. Embora me encarasse, parecia estar distante, perdido em pensamentos.
-Daryl, eu realmente não sei como ela pôde gostar de você.
Seu comentário foi um soco no estômago.
-Eu quero saber, o que você estava fazendo com a minha mulher, cara? — perguntei, tentando manter a voz firme, mas sentindo a insegurança me dominar.
-Já falei, eu só a levei até o apartamento, nada de mais. Esperei ela dormir e vim pra casa.
Matt deu alguns passos em minha direção e me encarou com intensidade. Seus olhos estavam cheios de convicção, como se ele acreditasse piamente que tinha agido da melhor forma possível.
-Daryl, você precisa confiar mais nas pessoas que ama. E precisa resolver essa insegurança antes que ela destrua tudo que é importante para você.
-Olha quem está falando sem segurança. – Digo.
Era difícil de acreditar, mas aquela calma toda do Matt, realmente demonstrava que ele não tinha culpa no cartório, porém o passado sempre vai falar mais alto.


POV MATT ORTEGA
Que tipo de pessoa eu sou? Não tive coragem de contar a verdade sobre o que aconteceu na noite passada. Como será que a Olívia está se sentindo agora?
A culpa pesa sobre meus ombros, e minha mente não consegue encontrar paz. A memória daquele momento me atormenta, e a indecisão me corrói por dentro. Sei que preciso ser honesto, mas o medo das consequências me paralisa.
-Matthew, não quero seu mal, cara. Estou sendo sincero!
-Não deseja meu mal? E logo na primeira oportunidade, você se envolve com a mulher que amo, cara?
-Você abandonou a Olívia, Matt! E... Eu não pretendia voltar, mas precisava entender o motivo das inúmeras mensagens que ela me enviava todos os dias perguntando por você! Quando cheguei aqui ela estava mal. Cara, eu queria ajudá-la, mas acabamos nos aproximando e o inevitável aconteceu, eu também amo essa mulher.
- Você não sabe da verdade, aliás, "vocês não sabem", e o pior de tudo. Porra! você é meu irmão e por isso dói muito mais!
- Que verdade é essa? Você a deixou porque ouviu a nossa conversa, o que você está escondendo Matt?
Ao ver o estado lastimável de Daryl, lembro mais uma vez de quando Caroline o deixou por minha causa e não consegui contar que deixei Olivia por causa das ameaças da loira traidora e Max.
-Nada não... No fundo eu senti que Olívia estava gostando de você Daryl, fiquei confuso. Achei melhor me afastar por um tempo, mas me arrependi, e voltei para ficar com ela.
-Eu amo Olívia mais do que a mim mesmo Matt, e-eu sinto muito por tudo isso, irmão.
-Entendo você Daryl e não vou julgar.
Daryl pega as chaves do carro em cima do balcão e as guarda no bolso, se preparando para sair.
-Matt... – Ele coloca as mãos nos meus ombros ao pronunciar meu nome. – Eu quero ser feliz. Sempre fui o cara que faz muita merda, mas agora quero ser feliz com a mulher que amo.
-Eu também queria ser feliz com a mulher que amo, Daryl.
-Então, por que não foi? Você jogou sua felicidade no lixo porque não teve coragem de enfrentar seus medos, Matt. – Ele faz uma pausa para inspirar profundamente e continua. – Sempre foi assim. Lembra quando ouvíamos as histórias de terror escondidos da nossa vó? Você gostava de ouvir, mas depois pedia para eu ficar ao seu lado até dormir. Você nunca encara seus medos, Matt!
- É diferente, porque eu não quero machucar as pessoas que eu amo Daryl, eu me importo com quem vai se ferir com minhas atitudes.
Apesar da noite passada ter sido um pouco complicada. Eu gostaria que ele entendesse o que estou sentindo. Temos nossas diferenças, mas não quero que o Daryl se sinta rejeitado novamente. Fiquei sem palavras por um instante, mas o momento mais difícil foi quando vi lágrimas nos olhos dele. Desde que éramos crianças não o via tão emocionado.
-Está bem, Daryl, você venceu! Não vou mexer um dedo sequer, mas se ela não te aceitar de volta depois de ontem, eu não posso prometer nada.
É claro que não nos abraçamos, pois parecia mais uma trégua, nosso contato se tornou frio com o tempo, há muitas feridas abertas ainda.
-Ela vai me aceitar, irmão, tenha certeza disso.
-E as corridas? Esse mundo no qual você está metido! Já pensou na segurança dela? – Pergunto.
-Isso está resolvido, eu saí e não vou colocar a vida dela em risco, pode ficar tranquilo!
Suas palavras não me convenceram totalmente, e eu sabia muito bem que não era tão simples sair daquele covil, com certeza Daryl tinha um bom acordo para se sentir seguro dessa forma, assim como eu.
Fiquei surpreso quando ele engoliu em seco e retirou um envelope do bolso do seu casaco.
-Aqui está... O convite do casamento.
Olhei para o envelope dourado, agradeci, porém a situação era humilhante e dolorosa demais para mim:
-Não posso, não consigo ir ao casamento da mulher que eu amo!
-Está bem, eu entendo. Mas, de qualquer forma...se mudar de ideia.
Ele me encarou por mais alguns instantes, e por um minuto eu vi aquele olhar, o olhar que ele tinha quando éramos crianças, quando aprontava com a vovó e eu lhe dava sermão:
-Desculpa, Matt, eu não queria, tentei me afastar, mas amo ela, cara!
-Também sinto muito, lamento por ter sido um idiota e ter deixado Olivia. Você merece o amor dela muito mais do que eu, Daryl. E sabe de uma coisa, cara? Não posso mais ficar com ela, não depois de tudo que vocês viveram.
Respiro fundo, sentindo o peso das palavras que acabo de dizer. Daryl, de pé à minha frente, ficou em silêncio por um momento, absorvendo tudo. O ar estava carregado de mágoa e arrependimento.
-Matt, eu... - Daryl começou hesitando. - Eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto, nós somos irmãos, e isso deveria significar algo. Mas não significa, não é? E nunca mais significará.
Eu olho para o chão, evitando o olhar de Daryl.
-Dói saber você a faz feliz, de uma maneira que eu nunca consegui Daryl.
-No começo eu queria machucar você, como me senti com Caroline, Olivia e eu... nós não planejamos isso. Apenas aconteceu.
-Eu só quero que vocês sejam felizes, Daryl. É só isso que importa agora.
Perdi, perdi para o meu irmão, e parece que agora estamos quites.

POV OLÍVIA
Ao virar a esquina da minha rua, avistei Daryl andando de um lado para o outro com um buquê de rosas nas mãos, engolido por seus pensamentos, pois nem percebeu a minha chegada.
-Olá, Daryl.
Ele levantou a cabeça de repente, como se fosse despertado de um transe. Seus olhos se iluminaram ao me ver e um sorriso tímido surgiu em seu rosto.
-Oi. - Ele respondeu, um pouco sem jeito. -Eu estava te esperando.
Olhei para as rosas que ele segurava com tanto carinho e senti culpa por estar vindo da casa do Matt.
-São para mim? — perguntei, já sabendo a resposta, mas querendo ouvir a confirmação de seus lábios.
Daryl assentiu, entregando-me o buquê com um gesto delicado.
- Eu queria pedir desculpas — começou ele, nervoso.
-Daryl, a pessoa que deve desculpas sou eu. – Expresso, segurando sua mão enquanto entramos.
-O que houve, Olívia? Estou confuso. Vim aqui esperando uma bronca e você pede desculpas?
-Preciso me abrir com você, e se ainda me quiser depois disso, tudo bem, mas se me der um pé na bunda, que é o que eu mereço eu vou entender.
Respiro fundo, fecho os olhos por um instante e, ao abri-los, reúno a coragem necessária e a sinceridade que ele merece.
-Daryl, desde o primeiro dia em que te vi no parque, senti uma conexão com você, uma mistura de desejo e carinho que não consigo explicar.
Ele sorri e beija delicadamente minha mão.
-No entanto, preciso deixar claro que Matt mexeu comigo desde que voltou, e ainda sinto algo por ele. Ontem ele me trouxe para casa, e... Conversei com Matt agora há pouco, logo após você sair da casa dele... Depois de dizer que tudo tinha acabado entre nós, admiti que ainda o amava, mas chegamos à conclusão que não teremos um futuro juntos, não após tudo o que aconteceu entre mim e você. Fiquei com medo de que tivesse acontecido alguma coisa depois de um sonho esquisito que tive essa noite, mas Matt me confirmou que ele apenas me deixou em casa e foi embora. Quero tentar, Daryl. Quero ver aonde essa conexão pode nos levar. Mas preciso que saiba de tudo, sem segredos entre nós e que eu gosto muito de você, vou sofrer se eu te perder.
-Estou disposto a tentar também – ele sussurra em meu ouvido. – Vamos dar uma chance para nós, um passo de cada vez Olívia, todos temos nossos demônios. Eu estou aqui para você, sempre estarei.
Seus olhos se fixam nos meus como se pudessem penetrar em minha alma. Tento controlar minha respiração, pois temia que Daryl não confiasse em mim. Não poderia me casar com alguém e sentir que estou sendo desonesta.
- Eu tenho certeza que um dia eu vou te amar mais do que qualquer outro homem no mundo Sr. Daryl Ortega.
- E eu tenho certeza que eu nunca vou deixar de te amar Olívia, escreva o que eu te digo, nem a morte será capaz de me separar de você.
- Não fale assim Daryl! – Eu lhe dou uma bronca.
Ele dá risada, e em seguida segura meu rosto com suas duas mãos, seu olhar se tornou doce e as expressões em seu rosto eram mais calmas. Daryl chegou perto e antes de tocar meus lábios com os seus, ele pergunta:
- Posso "Mi Maya"?
- Claro que sim!

POV AUTORA
Olívia se sentiu perdida com a rejeição de Matt, que abriu mão da mulher que ama pelo seu irmão. Ela não contou a Daryl a forma dolorida e seca que foi tratada, pois não queria tornar as coisas piores do que já estão.

Mais uma vez Matt deixa a culpa o dominar, ele estava acostumado a levar o baque, erguer a cabeça e seguir em frente.
Olívia ignorou seus sentimentos quando Matt retornou, evitando confrontá-los, o que se revelou um equívoco, pois acabaram consumindo-a e obscurecendo sua visão de tudo o mais. Agora, após resolver as coisas, Olívia se sente bem nos braços de Daryl, uma sensação constante em sua vida. Parece que o peso esmagador que a afligia diminui, permitindo-lhe explorar a possibilidade de transformar seus sentimentos por Daryl no maior amor de todos. Será que ela conseguirá?

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