Capítulo 29

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POV OLÍVIA
Após a morte de Daryl a vida se tornou um labirinto de tristeza, muitas vezes eu me peguei pensando que jamais conseguiria escapar do luto avassalador que me envolvia. Daryl foi uma parte fundamental da minha existência e carrego dois vínculos eternos com ele – nossas filhas. Seguir em frente não era uma tarefa fácil, pois o medo de criar duas crianças sem a presença do pai era esmagador e a incerteza sobre o futuro me consumia dia após dia. Por muito tempo, essas emoções me mantiveram presa em um estado de depressão e melancolia. Mesmo agora ainda sinto que uma parte de mim está acorrentada a essa dor, uma sombra persistente que não se dissipa.
A casa estava um pouco vazia ultimamente; ela parecia grande demais para mim e minhas filhas. Eu sentia uma certa culpa por tudo, pensando que se Daryl não tivesse abandonado sua antiga vida por mim, talvez ainda estivesse vivo e aproveitando tudo como fazia antes de nos conhecermos.

Liza nunca permitia que eu me afundasse completamente na culpa. Ela vinha à minha casa quase todos os dias e em algumas noites, dormia conosco. Sua presença era um conforto constante, um lembrete de que eu não estava sozinha. Com a ajuda dela e de outros amigos queridos, fui aos poucos emergindo do abismo do meu sofrimento. Perder alguém a quem se tem tanto afeto é uma dor imensa, mas com o apoio daqueles ao meu redor, comecei a encontrar forças para seguir em frente.
Todas as pessoas ao meu redor me apoiavam de maneiras diferentes. Carmen, a mãe de Daryl, ficava uma semana por mês em nossa casa para me ajudar e matar a saudade das netas. Passávamos longas horas conversando e quando estávamos todos juntos, a dor se tornava mais suportável.
Carmen frequentemente me pedia para levar as meninas para visitar Matt, ela acreditava que seria bom para todos, mas eu hesitava. Temia que, se Matt visse as meninas, ele abdicaria de sua nova vida por elas, talvez até por mim e eu não achava justo.
Após seis meses desde a morte de Daryl, recebi uma ligação do advogado. Anteriormente, ele havia mencionado que precisaria de tempo para organizar os assuntos de Daryl. O Dr. convocou uma reunião comigo, Matt, Carmen e Alejandro para discutir a divisão dos bens. Não desejava viver uma vida de luxo e já havia planejado o que fazer com a casa quando chegasse o momento. Decidi vendê-la e comprar algo menor, porém confortável para mim e minhas filhas. Enrico e Alejandro se ofereceram para ajudar nesse processo. Pretendia investir o restante do dinheiro em uma poupança para garantir o futuro das gêmeas.
O advogado, amigo de Alejandro, reiterou que havia processos complicados devido à situação financeira irregular de Daryl. Por isso, ele entrou em contato agora para resolver todas as questões legais pendentes. Deixei as gêmeas aos cuidados de Ruth, que Alejandro e Carmen confiavam plenamente, e segui para o fórum no horário marcado.
Assim que cheguei e adentrei no corredor ao lado da sala de reunião familiar, meu coração quase saltou para fora do peito quando o vi. Matt estava de costas, conversando em voz baixa com Alejandro. Nesses últimos tempos, eu havia encontrado Matt apenas duas ou três vezes, trocando cumprimentos rápidos, pois o medo e uma certa vergonha sempre me impediram de enfrentar a situação de forma mais direta. Ali, diante dele, percebi seu semblante um pouco abatido.
Apesar de ter ignorado todas as suas tentativas de aproximação, eu ainda suava e ficava atordoada só de ouvir a pronúncia do seu nome ou o som da sua voz. Diversas vezes peguei o telefone com a intenção de ligar para ele, mas nunca tive coragem de discar o número. Sentia-me como uma intrusa entre dois irmãos, e não queria atrapalhar a vida de Matt, especialmente agora que ele estava tentando recomeçar. O peso e a culpa em meu coração eram inexplicáveis, e, sabendo que poderia ceder à tentação, decidi me afastar durante o luto, acreditando que essa seria a melhor decisão.
Quando Matt notou minha presença, ele se aproximou com um sorriso tímido nos lábios e um certo receio nos olhos.
— Oi, como você está Olívia? — Perguntou ele, sua voz carregada de uma preocupação genuína.
Meus sentimentos se misturavam, mas naquele momento percebi que apesar de tudo, ainda havia uma conexão entre nós, algo que o tempo e a distância não tinham sido capazes de apagar.
— Estou levando a vida e você? — respondi, desviando o olhar.
Não conseguia encará-lo; a emoção era avassaladora. Matt parecia perceber minha hesitação e com um tom de frustração perguntou:
— Por que você está me ignorando dessa forma? Eu nunca mais pude ver minhas sobrinhas e...
— Matt, por favor, não quero falar sobre isso. Você tem uma vida ao lado de outra pessoa, gostaria que respeitasse a minha decisão.
Ele respirou fundo, e sua expressão mudou para algo entre dor e determinação.
— Olívia, mas eu não estou mais com Nina, nós nos separamos no dia do enterro de Daryl, tentei te contar várias vezes, mas foi praticamente impossível.
A revelação me atingiu como um golpe, todo o tempo que passei evitando Matt, acreditando que ele estava seguindo em frente com Nina, parecia agora um erro doloroso. Eu havia conversado com ela umas duas vezes nesses meses, pois Nina andava muito ocupada com sua nova vida em Munique e não comentou nada sobre esse assunto, então achei que estivesse tudo bem entre os dois.
As palavras de Matt ressoavam na minha mente e por um momento, todo o peso que carregava ficou ainda mais insuportável.
O advogado acabou de nos chamar e Carmen chegou cumprimentando a todos. Eu disfarcei bem a vergonha de ter afastado Matt daquela forma, mas meu coração estava rasgado por isso.
Nos posicionamos ao redor da mesa redonda e o advogado começou a ditar o testamento. A curiosidade tomou conta de todos; Daryl havia deixado um testamento recente. Ele já sabia que algo poderia acontecer e quis se prevenir.
Agora, finalmente entendia toda aquela história de empreendimento em Porto Rico e seus esforços recentes para garantir que nossas filhas não ficassem desamparadas. As peças começavam a se encaixar, revelando o cuidado e a preocupação de Daryl mesmo diante da incerteza.
Daryl deixou-me uma quantia considerável de dinheiro, a casa em NY e um dos seus carros menos usados, que ele sempre disse que me daria quando eu tirasse a minha carta de motorista, o que fiz tem pouco tempo. Deixou as suas propriedades em Porto Rico e a sua participação no negócio com Enrico em nome de Carmen. Na realidade, a maioria dos seus bens ficaram em nome da mãe, e para o Matt deixou uma quantia em dinheiro para que ele investisse como desejasse. O advogado deu orientações a todos e depois, a meu pedido, deixou-nos a sós.
— Eu gostaria de dizer que esse dinheiro será de uso exclusivo de minhas filhas. Vou deixar na poupança para investir nos estudos delas. Vou vender a casa, porque é muito grande para nós três e pretendo voltar a trabalhar em breve. Elena e Tatia já estão com dois anos e meio, e acho importante que elas comessem a ir para escola. — Expliquei a todos.
— Tudo bem, Olívia. Nós entendemos e acho que você está certa. Faça o que seu coração mandar — Carmen disse, sorrindo para mim. — Só não abriremos mão de Ruth para lhe ajudar com elas durante algum tempo.
Eu não entendia como Carmen conseguia estar tão bem após a morte de um filho. Essa mulher era realmente iluminada e tinha uma força vital incrível. Eu queria ter metade da força dela.
Olhei para o lado e notei que Matt estava com os olhos marejados, era claro que ele também sentia falta do irmão e estava visivelmente emocionado com a atitude de Daryl em pensar nele. Aquele momento trouxe à tona a profundidade do nosso vínculo o vínculo que Carmen tanto fala.
— Está tudo bem, filho? — Carmen perguntou carinhosamente a Matt.
— Sim, mãe — ele respondeu, fazendo uma pausa pensativa antes de continuar. — Todo esse dinheiro será usado em prol das crianças e adolescentes do meu projeto. Não usarei nem um centavo comigo. Tenho o suficiente para mim e acredito que muita gente precisa mais do que eu.
Carmen sorriu com orgulho, e então voltou-se para mim.
— Bem, se está tudo resolvido... Olívia, quero ver minhas meninas antes de embarcar, pode ser?
— Claro que sim, Carmen. Estou de carro, venha comigo. Liza e Lydia estão lá em casa, por favor, jante conosco.
— Não posso meu amor, vou vê-las rapidamente e depois preciso ir. — Ela disse, apanhando sua bolsa.
— Que pena, gostava quando podia ficar mais. — Falei oferecendo meu primeiro sorriso desde que chegamos.
— Querida, na semana que vem já estarei aí para ficar com nossas pequerruchas, não se preocupe.
Enquanto nos dirigíamos para sair, Matt se aproximou e com uma expressão de gratidão, colocou uma mão gentilmente no meu ombro.
— Obrigado, Olívia, por tudo. — Ele disse suavemente.
Eu o encarei e tentei falar, mas as palavras ficaram engasgadas e senti como se um milhão de facas estivessem rasgando meu peito. Não posso jogar minha vida conturbada no colo do Matt; isso seria muito egoísta da minha parte. Não posso transferir a responsabilidade de duas crianças que são minhas.
A verdade era que eu estava com medo dessa aproximação devido ao meu triângulo complicado com os irmãos Ortega. E se Matt pensasse que eu o quero apenas porque Daryl morreu? O que as outras pessoas vão pensar? "Mal ficou viúva e já está se jogando para o irmão do falecido"
Por mais que agora eu seja livre, não posso me comportar como uma menina mimada que insiste em ter o que deseja sem pensar nas consequências. Precisava ser forte, não apenas por mim, mas principalmente por Elena e Tatia. O futuro delas dependia das minhas decisões, e eu precisava garantir que fossem as melhores possíveis.

Após dar banho nas gêmeas, elas adormeceram rapidamente. Durante o jantar, abordamos vários assuntos, e Liza decidiu mencionar algo que eu evitava discutir.
-Olívia, e o Matt? Ele estava lá? - Ela perguntou enquanto enchia sua taça com vinho.
Senti-me desconfortável com a pergunta inesperada, e ela percebeu meu nervosismo.
-Sim, ele estava. - Respondi com a voz trêmula.
-E então?
-Liza! Ele estava lá e tudo correu normalmente. - Eu disse, olhando para o celular para disfarçar.
— Ah é? E por que eu vejo seu nervosismo de longe quando falo dele? — Liza perguntou, observando-me atentamente.
Bufei e passei a mão pelo queixo, confessando a ela em seguida:
— Liza, eu sou uma cretina, sabia? Matt me contou que ele e Nina terminaram, e eu quase saltei de felicidade. Minha vontade foi de dizer o quanto ainda o amo, de expressar que esse sentimento sempre esteve presente e cresceu dentro de mim ao longo do tempo. Eu o quero mais do que nunca em minha vida, para sempre.
Não aguentei a pressão emocional e desabei em lágrimas.
— Olívia, Matt nunca amou Nina. Agora ela tem a chance de encontrar alguém que a mereça. E você é uma mulher livre, vá atrás da sua felicidade porque já passou da hora de você ser feliz ao lado do seu homem, minha amiga. Você não é uma cretina, vocês dois abdicaram da felicidade por tanto tempo que seria até injusto não ficarem juntos agora. Eu juro que nunca vi um homem amar tanto uma mulher como Matt te ama.
-Liza, não posso simplesmente atribuir a responsabilidade de pai a ele, o Matt é tio delas, não pai!
-E daí, Olívia? Pare com isso! O importante é que vocês se amam e merecem ficar juntos. Daryl se foi e que Deus o tenha. Mas você merece ser feliz minha amiga.
Meu coração fica acelerado com essas palavras e sinto uma mistura de emoções invadir meu peito. A saudade de Daryl ainda é uma ferida aberta, mas a perspectiva de um novo começo com Matt ilumina um canto escuro do meu coração.
— E se ele pensar que estou o procurando só porque Daryl morreu, Liza? Ele pode interpretar isso como se eu sentisse falta do Daryl. Sinto falta dele, mas não é como foi com Matt entende? — Expliquei, buscando entender meus próprios sentimentos.
Liza terminou de dar uma última garfada em seu jantar antes de responder com firmeza.
— Olívia, para de ser boba. Ele não vai pensar isso. Esse homem te ama tanto que não vai pensar em nada disso; ele só vai ficar muito feliz.
Suspirei, pensando nas implicações emocionais:
— Eu não quero confundir a cabeça das minhas filhas, Liza. Elas precisam saber que Daryl é e sempre será o pai delas.
-Com certeza suas filhas serão felizes se você também estiver feliz — Liza afirmou com um sorriso encorajador.
Levantei-me, sentindo um otimismo que há muito não experimentava, quase como uma adolescente ao pensar na possibilidade de me aproximar do meu grande amor.
— Eu preciso me desculpar pela forma como o tratei hoje mais cedo. Fui uma idiota porque fazia tempo que não o via e quando isso aconteceu, percebi que meu amor por ele é ainda maior do que antes e não sei lidar com isso. Vou ligar para ele! — disse, tirando o telefone do bolso.
Liza segurou minha mão suavemente dizendo:
— Não, Olívia, você vai fazer melhor. Vai até a academia onde ele dá aula e fala com ele pessoalmente — Ela sugeriu.
— Mas e as meninas? Não posso deixá-las — Argumentei, preocupada.
— E madrinhas servem para quê? Elas já estão grandinhas, vai tranquila. Eu vou chamar Enrico para vir aqui e ficaremos de olho nelas. Agora vai colocar uma roupa bem bonita, ele já deve estar terminando a aula.
A sugestão de Liza era um impulso que eu precisava e respirando fundo, decidi seguir seu conselho me preparando para finalmente enfrentar o que meu coração tanto desejava.
Ao passar uma maquiagem sutil, o nervosismo me dominava e minhas mãos suavam quando Liza apareceu no quarto para avaliar meu visual.
— Nada mal! — Minha amiga diz.
— Liza, eu tenho duas filhas, meu corpo já não é mais o mesmo de antes — Respondi me olhando com uma leve perplexidade.
Ela se aproximou e deu um tapa em minhas queixas, aumentando meu ânimo.
— Você é e sempre será linda. A maternidade lhe caiu bem e valorizou suas curvas — Disse Liza, fazendo-me rir.
— Obrigada amiga, você é um anjo na minha vida.
— Vai logo, Olívia! Ai meu Deus, você e Matt são tão... tão épicos, amiga!
— Calma aí sua doidinha — respondi calçando minhas sandálias. — Eu vou apenas me desculpar com ele.
Desço as escadas, tão nervosa que quase esqueço as chaves do carro. Volto rapidamente, ouvindo o último "boa sorte" da minha amiga ecoar pelo corredor. Com os dedos trêmulos, e o coração batendo descompassado de ansiedade, digito o endereço da academia no GPS. Não é tão longe. Respiro fundo, tentando acalmar os nervos. "Vamos lá, Olívia", sussurro para mim mesma. "Força e coragem."
Ao chegar ao pequeno estacionamento ao lado da academia, meus olhos encontram imediatamente a moto do Matt. Saio do carro, tranco as portas mecanicamente e me aproximo dela. Passo a mão pelo banco, sentindo um arrepio percorrer minha espinha, era como se um fragmento dele ainda estivesse ali. Uma onda de emoção me invade, e minha alma se enche com o desejo quase palpável de estar perto de Matt novamente.

POV MATT
Apesar das palavras ásperas de Olívia mais cedo, eu me sentia feliz por outro motivo: ver o progresso das crianças no meu projeto. Estava realizando aos poucos o sonho de tirar mais jovens das ruas e das drogas. A tão sonhada reforma e a compra de novos equipamentos para o barracão estavam prestes a se concretizar, o que me deixava muito animado.
Após minha última aluna sair e Itan fechar a academia por ter um compromisso, decidi treinar um pouco mais de boxe. Depois tomei uma ducha morna, deixando a água escorrer pelo meu corpo por alguns minutos, tentando relaxar.
Colin me ligou convidando para ir ao seu show daqui a uma hora e decidi que uma distração seria boa, então aceitei na hora. Troquei de roupa rapidamente e saí com a camiseta ainda colada ao meu corpo semiúmido e antes de apagar as luzes do vestiário, dei uma última olhada, imaginando como tudo ficaria após a reforma. Me senti orgulhoso e saí para mais uma noite com os amigos.
Ao me dirigir ao balcão da recepção, mal podia acreditar no que via. Caminhei na sua direção, e era ela, claro que a reconheceria entre um milhão de mulheres parecidas. Lá estava Olívia linda como sempre.
Encostada no balcão mexendo no telefone, ela congelou quando viu que eu estava me aproximando. Rapidamente guardou o telefone na pequena bolsa ao lado do corpo e me lançou um sorriso tímido. Fiquei intrigado com sua presença ali; se fosse algo grave com as meninas, ela teria ligado em vez de vir até aqui diretamente.
Minha respiração ficou pesada e meu corpo se arrepiou instantaneamente. Como eu a amo, e nunca deixei de amá-la por um único segundo na minha vida.
Olívia ajeitou os cabelos e veio na minha direção, com seus passos leves ecoando naquele momento tenso. Nos encaramos com um certo receio pairando entre nós, então ela quebrou o silêncio, e sua voz ressoou me deixando ansioso.
-Olá Matt."
-Oi Olívia."

POV OLÍVIA
Eu não conseguia deixar de notar o quão lindo ele estava com os cabelos molhados. Sempre adorei o jeito descontraído do Matt mesmo que eu tenha deixado de reparar nisso por um tempo devido às circunstâncias da vida.
-Aconteceu alguma coisa, Olívia? - Ele perguntou, colocando sua bolsa de roupas no chão.
-Não, é que... Matt...
Ele sorriu e franziu a testa ao ver minha hesitação.
-Quero pedir desculpas pelo que aconteceu mais cedo. Desculpe pela grosseria e por te manter afastado, mas pensei que você e Nina estivessem juntos, conversamos uma ou duas vezes, senti uma certa distância em sua voz e ela não comentou sobre isso, então pensei que estava tudo bem.
Ele segurou meu antebraço, interrompendo minha fala e me fazendo tremer com esse simples gesto.
-Infelizmente não deu certo entre nós.
Engoli em seco e não tive coragem de questionar, já sabia a resposta, e ele também. Mesmo assim, ele continuou a falar.
-Nina era incrível, Olívia. Acho que se eu não... bem, ela seria perfeita. Mas...
-Matt, não precisa se explicar... eu entendo.
-Tentei me afastar, te dar espaço. Mas sofro muito longe de você e das minhas sobrinhas. - Ele disse, baixando a cabeça.
-Não sabia que você e Nina tinham terminado, e não quero que sinta que estou aqui apenas porque Daryl se foi...
Ele me olha, balança a cabeça e eu me aproximo lentamente, quase tocando seus cabelos úmidos. Minha mão chega perto mas a coragem me falta, então recuo. Então Matt ergue a cabeça, olhando-me com uma mistura de surpresa e indignação.
-Princesa...- Ele murmura, seu rosto próximo ao meu.
Eu rio suavemente ao ouvi-lo me chamar assim. Ele sorri, mordendo o lábio inferior. Matt está tão próximo agora que sinto meu corpo arder de desejo só de pensar em tocá-lo novamente, como antes, ou até mais intensamente. Minha respiração fica pesada, e uma pontada de ansiedade surge no estômago enquanto me perco em seus belos lábios.
-Eu quero essa responsabilidade e eu quero você Olívia! Não posso mais mentir, não posso mais fingir que não te amo. Estou cansado de tentar me enganar!
Ficamos nos encarando depois disso, e eu fiquei sem conseguir formular uma resposta para tudo que Matt acabara de me confessar. Então, finalmente, deixo escapar a única coisa que faz sentido naquele momento.
-Eu te amo, Matt ... Desde o primeiro dia que te vi na Carter. E nada nesse mundo vai mudar isso.
Eu acaricio delicadamente o seu rosto moreno, incapaz de expressar com palavras a emoção em seus olhos quando declarei meu amor. Matt colocou sua mão em minha cintura, fazendo meu corpo tremer. Aproximou-se mais, me fazendo recuar até minhas costas tocarem o balcão, me curvando para trás.
-Olívia, esperei tanto por este momento, queria que fosse em um lugar melhor. - Disse Matt.
-Matt, não importa o lugar, contanto que esteja com você. Agora me beije, eu passei o dia todo desejando isso.
Matt segurou minha nuca com firmeza e envolveu minha cintura com delicadeza ao mesmo tempo. Seus lábios capturaram os meus de forma intensa, e eu entrelacei meus braços em seu pescoço, inspirando profundamente seu delicioso perfume. Em seguida, segurei a gola de sua camiseta enquanto Matt me erguia, colocando-me sentada no balcão para ficarmos na mesma altura.
Naquele momento, percebi que nada no mundo se comparava àquele beijo e tudo parecia mais especial na presença daquele homem, fazendo com que eu estivesse em outro mundo.
Matt foi gradualmente acalmando o beijo, tornando-o carinhoso e suave. Mas passamos um bom tempo nos beijando até que a necessidade de ar se fez presente. Ele finalizou com um leve selinho e sem abrir os olhos encostou sua testa na minha.
-Olívia a única coisa que me trazia paz era lembrar da sensação boa que seu beijo me proporciona - Ele disse, acariciando meu rosto - Eu preciso de você.
-Eu não consigo mais resistir a isso. - Continuei depositando mais um beijo em seus lábios macios. -Sempre fui cuidadosa com meus sentimentos, sempre racional, mas você vira minha cabeça de um jeito que ninguém nunca conseguiu Matt.
Ele passou sua mão pelo meu cabelo, deixando-o um tanto bagunçado, enquanto eu repousava minha cabeça em seu ombro.
-Você não faz ideia de quanto lutei contra isso. - Ele murmurou, beijando minha testa.
-Sim, eu sei. - Respondi, levantando minha cabeça para encará-lo.
Nos beijamos novamente e Matt começou a acariciar meu corpo de uma forma mais intensa, fazendo meus batimentos cardíacos acelerarem a cada toque seu.
O telefone tocou de repente, interrompendo o momento picante que poderia ter se desenvolvido ali mesmo. Era Liza, dizendo que Enrico não tinha conseguido encontrá-la em minha casa. E que o vizinho estava dando uma festa e o barulho havia acordado as gêmeas que não paravam de chorar.
-Eu preciso ir Matt- Disse, dando-lhe um breve sorriso.
-Posso ir com você?
Ele pegou suas coisas do chão, e percebi sua expressão misturando preocupação e desejo de ajudar.
-Matt, me dê um tempinho com relação às meninas. Há seis meses elas só veem o pai por fotos, elas chamam por Daryl e começaram a entender um pouco. Eu só preciso de um tempo para não confundir a cabeça delas com essa semelhança entre vocês. - Expliquei com sinceridade.
-Claro, meu amor, eu entendo. Já disse que espero o tempo que for - Matt respondeu com ternura.
Ao abrir a porta, fomos surpreendidos por uma chuva suave que começava a cair sobre Nova Iorque. Nossos olhares se encontraram e corremos para o estacionamento, ficando completamente encharcados. Matt me pegou no colo e me girou no ar como nos filmes, e rimos como dois bobos.
-Eu não posso acreditar que estamos juntos, minha princesa! - Ele exclamou, me beijando com carinho.
Matt abriu a porta do carro para que eu entrasse, mas eu a fechei e o fiz esperar.
-Matt, espera um momento. - Pedi, com os olhos semicerrados devido à chuva que batia em meu rosto.
Ele me encarou curioso, virando seu corpo para mim e eu olhei para ele com seriedade.
-Prometa-me que isso será para sempre! - Supliquei.
-Eu prometo, princesa. Você é a única mulher no mundo com quem eu quero ficar pelo resto da minha vida.
Ao chegar em casa, ouvi os chorinhos manhosos das meninas no andar de cima, misturados ao barulho alto da festa na casa ao lado. Liza me olhou curiosa, notando minha roupa encharcada e meu sorriso radiante.
Me troquei rapidamente e peguei o telefone para ligar para a polícia e acabar com aquela bagunça;
-Acabei de ligar, Olívia. - Liza disse, mostrando a chamada em seu celular.
-Desculpe, Liza, me atrasei. Elas deram trabalho?- Perguntei preocupada.
-Se não fossem esses idiotas ao lado, não me importaria de ficar. Elas acordaram assustadas e quando choram, não consigo dar conta das duas. Elas chamaram por você.
Elena e Tatia correram em pequenos passos ao me ver.
-"Mamãe! - Exclamaram, agarrando minhas pernas.
Peguei suas mãozinhas, uma de cada lado e descemos as escadas para preparar um leite morno. Liza ficou encantada ao ver o quanto elas tinham crescido e o quão espertas estavam. Ao passarmos pela sala, Tatia apontou para um retrato do meu casamento com Daryl.
-Olha... o papai!. - Ela disse com entusiasmo.
Elena acompanha sorrindo e fazendo um biquinho, em seguida diz:
-Quero papai!
Eu me abaixo para ficar à altura delas e sorrio gentilmente ao abraçar minhas queridas.
-Mamãe já explicou que o papai virou um anjinho no céu, lembram, meus amores?
Elena aponta para cima e repete minhas palavras.
-No céu, mamãe?
-Sim, meu amor, lá no céu.
Toda vez que Elena e Tatia mencionam Daryl ao verem fotos dele, sinto uma dor profunda no coração. Ele amava tanto as filhas e não terá a oportunidade de vê-las crescer, o que é verdadeiramente triste. Um nó se forma em minha garganta, mas me seguro diante delas e mudo de assunto.
Preparo as mamadeiras enquanto Liza ajeita as gêmeas nos carrinhos. Cada uma pega uma bonequinha e brincam desajeitadamente, ainda tão pequenas. Enquanto aqueço o leite, Liza se aproxima para cochichar comigo perto do fogão.
-Situação difícil, né? - Ela diz, observando as gêmeas brincando.
-Eu te disse! Desde que Daryl se foi, tenho dito a elas que o papai está no céu. Imagina como vai ficar a cabecinha delas se verem o Matt entrando por essa porta, assim de repente? - Comentei preocupada.
- Você tem razão Olívia.
Liza fica pensativa, entregando-lhe uma mamadeira, ela coloca Elena no carrinho. Eu pego Tatia e subimos novamente ao segundo andar, colocando as gêmeas em suas caminhas, entregando-lhes as mamadeiras e trocando as fraldas para dormir. O barulho da casa ao lado cessou, a chamada para a polícia deu resultado. Acaricio a cabeça das minhas pequenas, elas coçam os olhos e logo adormecem.
Saio do quarto e fecho a porta, deixando apenas uma luz suave no quarto delas. Liza me espera na sala, roendo as unhas claramente cheia de curiosidade.
-E aí? Como foi? Por que você chegou encharcada daquele jeito? - Liza perguntou curiosa.
Abri um grande sorriso, com meu coração transbordando de felicidade enquanto começava a contar os detalhes daquele encontro. Liza pulava de alegria a cada palavra até eu terminar de contar tudo.
-Eu preciso de um pouco de tempo, até as meninas entenderem. Ele morre de saudade delas, mas com a cena de agora pouco, você entende a minha posição? - Expliquei enquanto tomava um gole do suco que acabara de servir para nós duas.
-É, mas isso poderia ser evitado se você não tivesse cortado o vínculo do Matt com elas - Olívia- disse Liza com franqueza.
-Eu sei, mas como eu ia saber que ele e Nina já não estavam mais juntos? E hoje ele me disse claramente que quer isso. Ele quer essa responsabilidade. É diferente quando você tem certeza do que a pessoa quer. O Matt sempre foi tão indeciso Liza, que eu fiquei com medo. Expliquei com um tom de preocupação.
-Eu acho que você deve explicar aos poucos para elas, tipo... Dizer que elas têm um tio muito parecido com o papai. Alguma coisa assim.
-É, vou fazer isso. Tentar enfatizar ao máximo que ele é o tio. Matt entendeu que preciso de um tempo para explicar a elas.
-Mas você não vai se afastar dele, né?- Perguntou Liza enquanto mandava uma mensagem no telefone.
-Claro que não. Isso nunca mais irá acontecer. - Respondi, respirando fundo para acalmar meus pensamentos.
Nós rimos, e ela chamou Enrico para confirmar se ele já estava a caminho, pois ele tinha se comprometido a buscá-la, depois da reunião a qual tinha se atrasado.
-Ah, amiga! – Ela me diz apressada. – Quase esqueci o motivo principal de vir aqui hoje, são tantas coisas que acabo esquecendo.
-O que é? - Pergunto curiosa.
Na próxima sexta-feira é o meu aniversário....
-Sim, eu sei boba, já comprei seu presente.... O que vamos fazer? – Pergunto animada.
-Eu queria algo simples, um bolo pequeno, mas Enrico insistiu que precisamos de animação e sugeriu uma festa à fantasia. Achei a ideia ótima. O que você acha?
-Eu? Eu acho o máximo. Eu vou sim, Carmem estará aqui na próxima semana, vou pedir para ela cuidar das netas, assim posso ficar tranquila, pois elas adoram a avó como ninguém.
-Que bom, nesta semana passo aqui à tarde para uma tarde no shopping e já compramos as fantasias. Ah, não se esqueça que vou convidar o Matt, hein! Acho bom você comprar uma fantasia de diabinha.
-Ah, Liza! Sempre você. Eu gosto de vampiros, o que acha?
Enrico acaba de chegar, Liza se despede de mim com um longo abraço e diz em meu ouvido.
-Você será a vampira mais linda e sexy da festa. Se anime, gata! Você tem uma vida linda pela frente.
Nos afastamos, eu a encaro, e coloco uma mecha de seu cabelo loiro atrás da orelha.
-Liza, obrigada por tudo, do fundo do meu coração.

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