Prólogo

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Era um jardim gelado em uma tarde de inverno, a neve caia sobre o chão de cimento e se acumulava ali mesmo. Ao longe havia uma garotinha que brincava com seu pai, eles riam alto, seus risos ecoavam por todo o jardim, eles eram os únicos ali. A menina gargalhava sempre que o balanço subia e a brisa gelada acariciava seu rosto e bagunçava seus cabelos.

         − Mais alto papai! – pedia ela ao pai, que mantinha um sorriso divertido em seu rosto enquanto empurrava o balanço com mais força;

         Os dois costumavam brincar juntos quase todos os dias e o balanço era o brinquedo preferido da menina, pois ela dizia que o balanço a fazia provar do céu e do inferno, subir ao topo, mas não esquecer que não poderia ficar lá por muito tempo.

         − O que acha de irmos embora agora? – perguntou gentilmente o homem à sua filha que fez uma careta de reprovação. – Está ficando tarde.

         − Só mais uns minutos, por favor. – pediu a menina.

         − Vamos, Carly, desça logo daí. – disse o homem parando de empurrar o balanço e cruzando os braços, esperando que a menina descesse do balanço.

         Ela sorriu marota e pulou do balanço enquanto o mesmo ainda estava em movimento, seu pai arregalou levemente os olhos, surpreso.

         A menina riu da reação do pai e fechou os olhos sentindo seu corpo flutuar em um passe de magica, ela sabia que provavelmente seria repreendida por usar magia apenas por diversão, mas era tentador demais. Após pôr os pés no chão novamente, viu seu pai se aproximar com uma expressão de repreensão no rosto.

         − Carly, o que foi que conversamos sobre o uso de magia? – o homem ajoelhou-se perto da filha para que ficasse exatamente da mesma altura que ela e pudesse ter uma visão melhor de seus olhos, proporcionando um ar mais sério àquela conversa. – Você sabe que é perigoso.

         − Eu estava apenas brincando, papai. – disse a menina, inocentemente e um pouco envergonhada por ter desobedecido a uma regra tão importante como aquela, mas a verdade é que ela nunca havia entendido o porquê de não poder usar magia para se divertir, ela tinha poderes então por que não usa-los?

         − Magia não é brincadeira, Carly. – ele disse sério. – Deve ter grande cautela ao usa-la, sei que você pensa que pode controlar a magia dentro de você, porém você não a conhece para controla-la, e tão pouco ela está morta para que seja controlada.

         − Mas ela não é minha, já que está em mim? – perguntou a menina, visivelmente confusa.

         Seu pai riu da ingenuidade da menina. E pegou uma pinha que havia caído de uma das diversas árvores perto deles.

         − Está vendo esta pinha? – ele disse mostrando a fruta à filha que concordou com a cabeça. – Existem muitas sementes dentro dela, assim como existem muitas sementes dentro de você também, uma delas é a sua magia, ela é sua responsabilidade, mas ela não age segundo todas as suas vontades, assim como a semente da pinha, ela tem seu próprio destino, porém a pinha não pode fazer nada para influencia-lo, pode apenas protege-lo e guarda-lo dentro de si para que nada de ruim aconteça a ambas.

         − E se ela não conseguir fazer isso? – perguntou a pequena olhando atentamente para a pinha nas mãos de seu pai.

         − Imagine uma árvore tropical, como aquela que você e sua mãe viram na TV, a fruta daquela árvore possui algo diferente das outras, quando chega a um determinado momento, outra árvore nasce de seu interior e a consome totalmente, porque ela não foi forte o suficiente para mantê-la dentro de si, se tivesse conseguido poderia ter aproveitado os nutrientes do que havia dentro dela para sobreviver, mas ela falhou. Pense em você como a fruta e a sua magia como a nova árvore, casos como esse são raros, mas acontecem. Geralmente quando se lida com magia negra, há muito mais sobre essa magia do que sabemos e especulamos.

         − O que quer dizer papai. – perguntou a menina curiosa.

         − Quero dizer que toda magia tem um preço, pode ser algo material, − ele disse fazendo uma breve pausa e apertando a pinha com a mão quebrando-a e jogando-a no chão, assustando a pequena menina que pulou de surpresa, e o homem continuou. – ou pode ser uma vida.

Sombras da Noite (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora