Capítulo 16

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Acordo atordoada sem saber aonde estou, sento-me preguiçosamente sobre a cama e espero meu olhos focarem no local.

Depois de alguns segundos reconheço esse espaço gélido e triste que agora chamo de quarto. Pela claridade que entra na janela imagino que estou atrasada para a aula. Só que minhas pernas parecem chumbo de tão pesadas, apenas quero continuar deitada na cama e dormir um pouco mais e faço isso logo de cara, porém - quando deixo meu corpo relaxar - sinto algo estranho.

Fico em pé, altamente desperta sem nenhum resíduo de sono.

"Por que Abigail não veio aqui me chamar? Ela parece ser tão pontual em questão de regras e horários"

Isso está estranho.

Desço as escadas ainda de pijama (short folgado branco e uma camiseta estampada de uma banda que desconheço). Bato na porta do escritório de Abigail, mas não ouço nada vindo lá de dentro. Na verdade há um enorme silêncio no instituto.

Forço um pouco a porta, mas ela está trancada.

"Aonde será que ela foi?" matuto em minha mente.

- Está procurando a senhora Abigail? - a voz da a professora de magia atras de mim surge a trás de mim.

Me viro e a encaro, envergonhada por ter sido pega em flagrante.

- An...Sim, estou procurando por ela, sabe onde posso encontra-la?

- Isso não vai ser possível, ela está viajando! - respondeu sorrindo

- Viajando? Pra aonde?

- Não fui informada sobre o local, mas ela me avisou que voltaria nesse sábado. Até me pediu para ficar no comando por enquanto que ela está ausente.

- Entendo. — assinto com a cabeça e a professora se retira indo até a cozinha.

"Por que Abigail viajaria logo agora, justamente agora que estou aqui. Mas por outro lado, poderei invadir sua sala essa noite."

A confusão inicial acaba se tornando em entusiasmo. Saio de frente à porta do escritório e corro até meu quarto para voltar a dormir.

***

Quando acordo, o almoço já passara e a casa sem Abigail parecia um zoológico. É nítido que as pessoas não respeitavam a professora que estava dando as ordens por enquanto que Abigail estava fora, muitos estavam em casa, assistindo TV ou então mexendo nos celulares jogados por aí. Decido pegar meu celular e ir para o quintal, estava determinada a enfrentar alguns dos meus milhares de problemas.

E agora, tenho que lidar com o principal.
Minha melhor amiga.

Ligo para Caitlin.

- Alô? - a voz de Caitlin soou pelo meu celular, fiquei em silêncio por um instante - Alô? Tem alguém aí?

- Ei Caitlin - digo com uma breve e dolorosa nostalgia voltando, tento parecer casual.

- Quem está falando? - perguntou com a voz confusa.

- Como assim quem está falando, sou eu, Carly, nos conhecemos no fundamental. - disse com um tom de voz cético.

- Desculpa aí, mas acho que você errou de número, não conheço nenhuma Carly, uma boa tarde.

Ela desligou o telefone.

Fico em choque em como minha melhor amiga não lembrava de mim, isso não fazia sentido. É como se tudo que passamos até o incêndio não existisse.

"Será se isso é algum tipo de pegadinha da Caitlin por eu não ter atendido?" penso

Então ligo mais uma vez, mas dessa vez ela não atende.

Uma dor aguda surge no meu peito. Por mais que eu desejasse que ela me esquecesse, eu não queria que fosse literalmente. Eu a amo. Compartilhamos momentos, histórias. Por muito tempo ela foi minha âncora e eu a dela. Mas hoje? Não somos nada.

Uma lágrima escapa e fico em silêncio. Deixando a dor que sinto me acolher. E, depois de passar um tempo pensando,
crio uma hipótese em minha mente que não era capaz de acreditar.

Começo a pesquisar em meu celular tudo sobre o incêndio que ocorrera em minha casa. E - como eu já esperava - não havia absolutamente nada sobre isso, parecia que tudo foi apenas um pesadelo terrível. Mas sabia eu que não era apenas um simples pesadelo, a dor em meu peito mostrava que aquilo era tão real como o amanhã que ainda chegaria.

Abigail deve ter apagado a memória de todos, ela usou isso como forma de eliminar rastros, do mesmo jeito com a mulher do serviço tutelar.

"As pessoas não podem saber nem de mim, muito menos de você" foi o que ela me disse quando nos conhecemos, ela também me contou que isso era uma forma de proteção, mas contra o que ou quem?

Sábado quando ela retornar a confrontarei e obterei as respostas que tanto quero saber.

- Oi Carly - disse Laurel, andando em minha direção - Estranho Abigail ter viajado assim de repente não acha.

Sentou-se do meu lado na grama.

- Também achei, mas pelo menos temos um descanso das suas regras. Nada de precisar acordar cedo para tomar café, nada de aulas chatas.

Sorri, ao imaginar o sossego que terei.

- Vai ser ótimo - disse ela - A gente podia marcar algo pra sexta, uma noite de garota, só eu, você e Tiny. O que acha?

- Pode ser divertido - comecei a pensar em nos sentadas comendo soverte, falando de tudo, como eu fazia com Caitlin, sentia saudade dessas atitudes - Eu topo!

- Ótimo, está marcado então! Pode ser no seu quarto?

- Pode! Não tem nenhum problema!

Ela se levantou

- Vou avisar a Tiny, aparecemos lá sexta a noite por volta das 21:00, vai ser demais!!

Sua animação era contagiante que me fez até sorrir, ela entrou dentro da casa e fiquei, ali fora sozinha.

Sentada na grama, sentindo o sol sobre a minha pele, comecei a criar planos de como entraria no escritório de Abigail, quase todos que eram monitores dormiam em seu posto, então essa parte seria fácil, difícil seria arromba aquela porta, levaria um grampo de cabelo comigo, Caitlin me ensinou a usar uma vez, quando ficamos presa em seu quarto. Nunca pensaria que usaria essa técnica novamente.

Se não conseguisse pela maneira manual, talvez tentaria usar magia. Tate conseguiu usar para invadir meu quarto, eu poderia conseguir também. Então tudo estava planejado, a noite quando todos estiverem dormindo colocarei meu plano em pratica.

Sombras da Noite (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora