Capítulo 8

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Entro na casinha, com receio de que aquelas madeiras não aguentem meu peso, mas mesmo assim continuei. Eu não poderia ficar em pé dentro da casa, mas para minha sorte ela tinha uma pequena varanda. Então, engatinho e sento-me na beirada, com meus pés pendurados para fora do chão de madeira. Sinto um frio na barriga pela altura que eu estava e por não haver nenhuma proteção ali. Mas a vista bela e o vento úmido fez esse incômodo no meu interior se acalmar. E por um momento, um breve instante, minha mente se silencia e fico apenas contemplando a vida. Sentindo toda a textura ao meu redor.

"Ainda estou viva"

Com essa paz daqui de cima, fica até difícil acreditar que em algum lugar como esse, pode está acontecendo algo ruim com alguma pessoa.

Aqui de cima tudo parecia tão... tão... Perfeito.

Cof. Cof

"Que porra é essa." penso ao sentir uma respiração em minha nuca.

Viro bruscamente assustada, quase caindo da casa para uma queda livre de 5 metros, porém Tate foi mais rápido e pôs a mão em meu ombro e me ajudou a equilibrar novamente.

- Desculpa - disse ele saindo detrás de mim e se sentando ao meu lado - Não queria te assustar.

- Se você não quisesse me assustar você teria batido, ou dito alguma coisa antes de entrar aqui! - retruco impaciente o encarando com fúria.

- Pois é, eu queria assustar você um pouquinho. - ele ri para si mesmo quando termina de falar, fazendo aqueles covinhas aparecem.

Reviro os olhos e decido o ignorar, desejando somente a paz de segundos atrás. Quero sentir novamente a sensação de está viva, sentir os fios do meu braço quando o vento toca neles. Mas não consigo, pois sinto os olhos de Tate em mim.

- O que você está pensando? - pergunta ele.

Viro meu rosto em sua direção e encontro seus olhos completamente escuros. Ele sustenta meu olhar.

Não consigo entender do por que ele tá aqui? Por que ele viria falar comigo?
Por que eu devia falar com ele?

Porém, no final de todas essas perguntas, acabei de me perguntado.

"Porque eu não falaria com ele?"

Tate não poderia me julgar ou contar pra alguém que me importasse, alguém que eu precisava guardar segredo. Nós estávamos no mesmo barco: presos aqui nesse instituto.

- É meio bobo, mas só estou pensando em como o mundo é... belo e cruel ao mesmo tempo... Entende? - respondo - É tão frustrante saber que não se poder mudar o passado!

- Porque cruel? - o ar de bobeira de logo cedo tinha sumido, ele parecia sério com uma mistura de curiosidade. Seus olhos escuros se tornaram mais intensos - Quais dos seus sonhos esse mundo já destruiu?

Fiquei seria por um momento. Tensa possa descrever melhor, não tinha certeza de contar ou não, no fim decidi que sim. Isso podia melhorar meu estado

- Não meus sonhos - respondi com pesar - E sim de meus pais. Eles morreram em um incêndio, ah pouco tempo.

Pisco diversas vezes, para assim dissipar as lágrimas que queriam se formar ao redor de meus olhos

-  Eu... sinto muito. - Ele põe a mão direita em volta de mim e acaricia meu ombro.

E loucamente. Isso não me incomoda.

- É estranho sabe, estava tudo indo bem e o mundo simplesmente fode com você de todas as maneiras!

- Sei como é. - falou meio sério, ainda com o braço sobre meu ombro - Também perdi meus pais, quando eu era criança, Abigail me encontrou na rua, tinha fugido do orfanato que me colocaram, eu fui o primeiro a chegar. As pessoas tinham medo de mim - houve um longo silêncio, como se hesitasse - Tudo ao meu redor desmorona.

Essa ultima frase parecia uma confissão, principalmente pela maneira que soltou o ar quando terminou de falar.

Percebo que a nossa conversa está ficando deprimente, ele meio que se aproximou um pouco de mim e então, como se fosse automático deitei a minha cabeça em seu ombro. Eu o acabara de conhecer, mas essas revelações meio que me fizeram sentir íntima, eu lhe revelei detalhes da minha vida que quase ninguém sabe e acredito que ninguém saiba das que ele me revelou.

Ele parecia relaxado ao meu toque, como se fosse normal, sinto que ele é um bom amigo.

- Essa casinha não desmoronou - brinquei um pouco para que assim pudéssemos cortar esse assunto, tudo que eu não queria agora ela falar de meus pais mortos. Ficar perto de Tate, fazia eu ficar com um humor um tanto agradável - Está aqui até hoje!

Ele sorriu, um pouco alto, meio desleixado. Agora assim tão perto pude sentir seu cheiro. É inebriante, uma mistura de amaciante com limão e pasta de dente de menta. Faz me lembrar de tempos bons.

- Quer escutar alguma música? - pergunta ele.

- Claro, que tipo de música você escuta?

Retiro minha cabeça do seu ombro me afastando um pouco e o observo enquanto pega o celular no bolso da sua calça de dormir.

- Pode escolher se quiser? - ele entrega o celular para mim.

- Hum, está bem - depois de passar uns títulos pelo seu spotify, me decido - Essa.

- Uau, ótima escolha, apropriada para o momento - falou, com um tom animado.

Ele retira os fones que também estavam na sua calça de dormir e pluga no celular, me dando o lado direito. Instantaneamente, ouço a voz da AURORA invadindo meus ouvidos e tocando todo meu sistema nervoso, fazendo meu músculos relaxarem. Nossos joelhos estão se tocando e nenhum de nos se incomodou em retirar.

Nossos olhares estavam fixos no horizonte em nossa volta e ficamos assim à tarde toda. Olhando os pássaros, as nuvens, a beleza do mundo, enquanto ouvíamos Runaway.

E uma coisa não saia da minha cabeça "eu faria qualquer coisa para ter meus pais de volta."

***

"Trecho da música Runaway - AURORA"❤️

•E eu estava dançando na chuva
Eu me senti viva e eu não posso reclamar
Mas agora me leva para casa
Me leve pra casa onde eu pertenço
Eu não aguento mais

Sombras da Noite (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora