Capítulo 7

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Saio do banho e me olho no espelho do banheiro temendo o que irei encontrar. Meus olhos estão muito inchados e vermelhos e meu rosto parece cansado. O luto é evidente como a luz do sol lá fora. Retiro-me do banheiro, pego meu celular na cama e olho as horas. Já está quase na hora do almoço, então decido descer para me juntar a todos. Visto uma calça jeans clara e um suéter preto. Ando em direção a porta o mais rápido possível e quando estou prestes a abri-la, escuto alguém batendo nela. Abro a porta, já estressada por toda hora vim um indivíduo aqui saber como estou. Odeio que sintam pena de mim.

- Vamos, eu vim acompanhar você para o almoço - disse Tiny.

- Tudo bem, mas eu posso ir... - Tiny passou o braço em volta do meu e me puxou, interrompendo-me da minha fala.

- Você vai adorar a sala de jantar, vai adorar as pessoas também, são bem simpáticas, algumas, na verdade - corrige - Mas você vai adorar do mesmo jeito, acredite.

Balanço a cabeça concordando, entretanto queria muito que ela falasse menos, ou simplesmente não falasse. Chegando na sala de jantar, percebo que algumas pessoas já estão comendo em uma mesa enorme e larga. Minha vó está na ponta como uma boa líder e todos, sem exceção, olham para mim quando entro no ambiente. Sinto-me desconfortável.

- Pessoal, essa é Carly, ela passará um período com a gente e espero que a recebam bem. Por favor, todos digam olá para ela - pede Abigail

Todos me dizem uma olá e depois desse constrangimento as pessoas voltam as suas atividades normais, porém algumas vezes os flagrava me olhando secretamente enquanto caminho até uma cadeira vaga. Olhos curiosos sobre o meu passado. Odeio ser observada.

Percebo também que Abigail não informou para eles que eu era sua neta, mas tudo bem, acredito que deve ser melhor assim, para nos duas. Tiny senta do meu lado direito, entretanto, percebo que há um local vazio do meu outro lado. Provavelmente alguém está atrasado.

- Desculpem o atraso pessoal - disse um rapaz.

Ele tem cabelos loiros com as pontas querendo enrolar e está meio bagunçado. Quando termina de falar, o rapaz sorri, fazendo com que covinhas belíssimas aparecessem. Ele ainda vestia um pijama, como se estivesse acabado de acordar.

- Cadê os modos Tate! - repreendeu-lhe Abigail - Temos uma pessoa nova!

- Que mal tem, já somos quase uma família, acho que não preciso me arrumar tanto para almoçar com meus irmãos não é mesmo - ironiza ele.

Todos se forçam a não rir, mas dava para ver o divertimento das pessoas com a retribuição de respostas deles dois. Abigail revira os olhos enquanto ele anda até mim e senta-se ao meu lado. Fico observando-o pegar o purê, um pouco de bife, arroz, mas em nenhum momento direciona o olhar para mim, como os outros estão fazendo. Para ele é como se eu estivesse sempre ali.

Aquela atitude me fez gostar um pouquinho dele. As outras pessoas me faziam sentir como se fosse um animal de zoológico, já ele me fazia sentir como se estivesse em casa.

- Prazer, sou Tate - assusto-me com sua fala repentina.

Ele está estendendo a mão e fala com a boca cheia de comida. Essa situação é meio engraçado, ele não demonstra nem um pouco de cavalheirismo, nem queria causar uma boa impressão.

- Prazer sou Carly!

Aperto sua mão e um formigamento estranho percorre meu braço.

Ele dá um sorriso de canto do rosto, fazendo uma covinha aparecer novamente e volta seu olhos escuros para a comida. Interessante saber que em tempos de dores, qualquer gentileza como essa, se torna um afago no coração despedaçado.  Passeio meus olhos para toda as pessoas presentes na mesa e reparo em uma menina ruiva, muito bonita, olhando para Tate com admiração, ao seu lado está um menino moreno gordinho e logo depois uma menina meio emo-gótica. No total são umas 7 pessoas, contando comigo e com Tiny. Nem me importo em saber seus nomes, pois sei que nas aulas descobrirei.

Todos acabamos de comer, porém não comi muito, mas comi o suficiente para eles não ficarem enchendo meu saco, perguntando se eu estava bem. As pessoas estão indo para a sala de estar assisti TV, é algo rotineiro de cada um deles, me explicou Tiny, mas eu não estava muito afim de atividade em grupo, estava mais afim de ficar sozinha. Vejo minha vó Abigail entrar em uma porta perto da escada, que deduzo ser, provavelmente, seu escritório.

Decido dá uma volta pelo quintal dá casa, indo pela porta dos fundos. Quando chego lá, noto uma árvore grande, como uma casa em cima. Uma casa na árvore. Eu nunca tinha visto uma de perto, era meu sonho quando criança ter uma. Caminho em direção a ela e vejo uma pequena escada feita de cordas. Subo sem pensar duas vezes.

Sombras da Noite (REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora