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A movimentação no pátio é sempre a mesma: rostos cansados, passos pesados, e a sensação de uma eternidade condenada a se repetir

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A movimentação no pátio é sempre a mesma: rostos cansados, passos pesados, e a sensação de uma eternidade condenada a se repetir. Enquanto fumo meu cigarro, sinto a raiva queimando dentro de mim, alimentada por cada segundo que passo neste inferno.

Ser traído pela Portia não foi exatamente uma surpresa. Eu sabia que ela não era confiável, que mais cedo ou mais tarde ela acabaria me apunhalando pelas costas. Desde criança, Portia nunca aceitou seu destino. Suas fugas frequentes deixavam meu pai furioso, mas ele sempre a trazia de volta, sem nunca explicar por quê.

No início, pensei que ele quisesse algo mais dela, talvez transformá-la em uma de suas esposas. Mas, com o passar do tempo, ficou claro que ele a via de forma diferente, como uma filha. Esse relacionamento entre eles me deixava perplexo e, por um tempo, considerei a possibilidade de matar Portia. Cheguei a planejar seu assassinato, detalhando cada passo para garantir que não houvesse falhas.

No entanto, a cada tentativa de pôr meu plano em prática, uma estranha afeição começou a crescer dentro de mim. Contra toda lógica e expectativa, comecei a me importar com ela. E agora, aqui estou eu, preso neste lugar, fumando e refletindo sobre como as coisas poderiam ter sido diferentes. Cada tragada no cigarro é um lembrete amargo de minha impotência e frustração.

Portia tem esse poder de nos encantar, seja com sua beleza, sua inteligência, ou simplesmente pelo seu jeito de ser. É quase magnético, irresistível. Quando a vi se envolvendo com o Tony, fui consumido por um ódio cego. Foi a primeira vez que senti o peso de sua traição. Mais uma vez eu quis matá-la, arrancar seu lindo rosto e transformá-la em ossos e sangue, porém, não poderia tocar nela nem se eu quisesse, no segundo que tentasse, meu pai faria o inferno subir a terra somente para descobrir quem teria sido o responsável por matar a pedra preciosa.

Então, fiz o que me pareceu mais lógico: tirei o adversário do caminho. Achei que, ao matar Tony, eu finalmente a teria só para mim. E, por um tempo, foi exatamente isso que aconteceu. Fechei os olhos para o que ela fazia, aceitando seu trabalho, mesmo sabendo que ela se envolvia com outros homens por dinheiro. Quis matar meu pai por colocá-la nessa situação, mas aceitava tudo porque, à noite, ela era minha. Não importava o que acontecia durante o dia.

Tudo mudou quando ela descobriu que estava grávida. Meu mundo parou quando ela disse que não tinha certeza se o bebê era meu. Mesmo assim, engoli meu orgulho e aceitei a gravidez com alegria. Lembro como se fosse ontem: meu pai fez um churrasco no quintal para comemorar a chegada do neto. Porém, quando ela perdeu o bebê ainda no ventre, algo se quebrou entre nós. Portia disse que não conseguia me olhar sem se lembrar do que havia perdido e que queria que fossemos apenas amigos.

Era uma grande mentira, uma desculpa esfarrapada. Mesmo assim, a deixei ir. Sabia que, cedo ou tarde, ela voltaria para mim. Sempre volta.

Nós nunca mais transamos depois que ela perdeu o bebê. Portia só me procurava quando precisava de favores, e às vezes me bloqueava da sua vida completamente, fingindo que eu não existia. Eu a observei de longe, vendo a menina se transformar em uma mulher. Amei-a em silêncio por todos esses anos, morrendo de ciúmes cada vez que ela se entregava a outro homem. Nenhum, porém, conseguiu me irritar tanto quanto Erick.

Despedida de solteiro vol.2Onde histórias criam vida. Descubra agora