Capítulo 15 - Era você

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Erika

Eu não podia estar alucinando, poderia? O que Roberta me falou... eu já tinha ouvido isso antes, inclusive no mesmo tom raivoso, transparecendo incompreensão... fazia muito tempo que não pensava naquela noite, naquela mulher... e aí do nada, a vejo em Roberta. Não me lembro com exatidão do seu rosto, mas a postura, as palavras, o tom de voz, tudo me remeteu àquele momento.

Isso não poderia ser real, poderia? Ela teria me falado algo, se bem que eu era muito diferente na época, muito provavelmente ela nem sequer lembra daquela noite... mas se ela lembrasse? Ela me falaria, não é? Não sei... meus deuses, tá tudo muito confuso!

Preciso organizar meus pensamentos, tento me acalmar, e por algum motivo, penso na noite em que passei na sua casa. Lembro dela me falar que há cinco anos encontrou alguém que estava procurando, não tinha percebido isso na hora, mas coincidentemente foi no mesmo tempo que ganhei uma bolsa pra faculdade, ela não poderia ter...

Claro que não, por que ela faria isso? Mas e todo aquele comportamento estranho ao me fazer mudar de casa e até de ir procurar um médico? Quem é que faz isso por um funcionário recém-contratado?

Achei estranho na época, mas não tinha explicação nenhuma, e pensando melhor, até o emprego foi estranho, escritórios como o dela não contratam pessoas sem experiência, e aí do nada, essa vaga chega nas mãos de Alice e eu simplesmente consigo o emprego.

Só que nada disso faz sentido, eu provavelmente tô juntando coisas aleatórias e tentando achar uma explicação. Devo estar ficando maluca, isso tudo pode ser só invenção da minha imaginação.

A minha cabeça está explodindo.

Quando percebo, já anoiteceu, passei horas andando e não cheguei a lugar nenhum. Pode ser tudo da minha cabeça, mas não tem outro jeito, tenho que conversar com Roberta e tirar isso a limpo.

— Erika! — Victor fala ao atender a porta.

— Oi, garoto, você está bem? — ele assente. — Victor, sua mãe está?

— Está sim — responde e depois fica me olhando. — Você não está bem, está? O que foi?

— Por que acha isso?

— A sua cara.

— Ah, muito bom saber que a minha cara está tão péssima assim. — digo, tentando descontrair e ele ri.

— Erika? — Roberta fala, aparecendo atrás de Victor.

— Oi, será que podemos conversar a sós? — pergunto e vejo que ela me estuda com o olhar.

— Claro, vamos até meu escritório. — abre passagem.

Ela começa a ir em direção do que imagino ser o escritório, então tento segui-la, mas Victor toca no meu braço, me fazendo parar.

— Vocês não vão brigar, vão? — ele pergunta, preocupado.

— Não se preocupe, só vamos conversar. — ele me olha com desconfiança. — Eu prometo pra você que não vou brigar, ok? Tá bom assim pra você? — bagunço seu cabelo e ele assente.

Entro no escritório e vejo que Roberta me olha de forma questionadora.

— Posso saber o que houve hoje mais cedo? Por que saiu daquele jeito?

— Era você, não era? A mulher daquela noite... — sou direta e ela faz uma expressão de surpresa.

Ela fica um tempo em silêncio, como se estivesse pensando em algo.

— Não pensei que lembraria.

Então tenho a confirmação que estava esperando, não era só viagem minha.

Minha SalvadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora