Capítulo 21 - Não sei mais o que quero

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Sarah

Acabo por despertar, mas sinto o meu corpo todo dormente, acredito que seja por conta da medicação pós-cirúrgica. Com muito esforço, abro os olhos e observo o quarto, me deparando com a visão de Letícia sentada na poltrona, de forma toda torta, provavelmente por ter caído no sono.

— O que ela está fazendo aqui? — tento me ajeitar na cama, porém sinto uma pontada de dor.

Emito um gemido, fazendo com que ela desperte. Letícia olha o que estou tentando fazer e logo dá um pulo da poltrona, ficando de pé.

— Ei, não pode fazer esforço. — diz, em um tom preocupado.

— O que está fazendo aqui? — pergunto, e ela fica me olhando por um tempo em silêncio.

— Checando se está viva. — abre um sorriso de lado.

— Sei... — falo, sem entender o seu real motivo de estar aqui. — Como foi o procedimento? Como está o garoto? — pergunto, me lembrando do transplante que deve ter ocorrido horas atrás.

— Foi um sucesso. — ela amplia o sorriso. — Victor está estável no momento, aparentemente o organismo dele está respondendo bem ao novo rim, mas tem que ficar em observação nos próximos dias, para termos certeza da aceitação real. Ainda está inconsciente, mas está bem... graças a você — diz, me lançando um olhar penetrante que me faz ficar completamente sem jeito. Isso não é muito fácil de se fazer. — Você está bem também, a médica disse que, por enquanto, deve ficar em repouso, mas logo se recuperará.

— Droga, eu devo estar horrível, pelo menos é assim que me sinto. — solto, pensando em como devo estar só o pó.

Vejo que Letícia franze a testa.

— Só pode estar brincando, né? Pessoas como você não ficam horríveis, nem se quisessem. Bem menos drama, viu.

— Até parece... — falo, em total descrença.

— Sabe, — ela começa a falar e se aproxima um pouco da cama, com um olhar fixo em meus lábios — eu poderia provar o meu argumento agora mesmo — para de se aproximar — mas ainda preciso do meu lábio inferior pra muitas coisas, então vou ficar quieta no meu canto. — diz e não consigo segurar um sorriso, lembrando da mordida que dei nela.

— Aparentemente, seus lábios estão recuperados, já que estava aos beijos com a sua chefe. — solto, me referindo ao momento que chegamos ao hospital e vi ela com Roberta.

— Ciúmes, ruiva? — fala, de forma maliciosa.

— Bem que você queria que fosse, não é? — digo, a provocando.

Sim, fiquei verde de ciúmes quando vi as duas juntas. A verdade é que essa garota mexe comigo desde a primeira vez que a vi, mas não admitiria isso.

— Mas sério, o que está fazendo aqui? — pergunto, desviando do assunto.

— Quis ficar de olho em você, precisava saber que estava bem.

— Passou a noite aqui? — ela só assente e dá de ombros. — Bem, agora que já viu que estou bem, está liberada de seja lá o que achou que precisava fazer por mim.

Não quero que ela fique aqui achando que tem alguma obrigação comigo, só porque doei o rim ao filho de Roberta.

— Eu não achei nada... só quero ter certeza que vai se recuperar bem. Quero ficar aqui como acompanhante, se estiver tudo bem por você — pede, me causando estranheza. Por que ela faria isso? — E mesmo que não queira, não vai adiantar de nada, porque mesmo que não deixe ficar no quarto, ficarei bem ali no corredor até que receba alta.

Minha SalvadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora