Erika
Merda, outro pesadelo... Não há um dia em que consiga dormir em paz, sem que meu passado me assombre. Também, não é qualquer pessoa que passa por tudo o que passei e consegue seguir adiante, mas prometi a mim mesma que iria continuar, e é assim que vivo, um dia de cada vez.
Vou me levantar, porém vejo que há um braço na minha cintura. Tento me lembrar de como chegamos na minha cama, mas acho que bebi demais; nem sequer lembro o nome dela...
Retiro o braço da mulher, me levanto e vou até a sala. Pego minha última garrafa de pinga, que já está na metade. Preciso lembrar de comprar mais... Sento no sofá e começo a beber. Se não consigo dormir, pelo menos posso aproveitar o resto da noite.
Acontece que, em pouco tempo, enfim sinto que estou começando a adormecer. Vou me deitando lentamente no sofá e apago.
***
— Ah, droga, Erika! Como consegue viver assim? — alguém grita perto de mim. Ao menos pareceu um grito, porque minha cabeça lateja, parecendo que vai explodir.
— Fala mais baixo — digo, e posso ouvir a pessoa bufar. — O que está fazendo aqui a essa hora da manhã, Alice?
— Checando se ainda está viva — ela fala, recolhendo algumas coisas do chão. — Como consegue viver nessa bagunça? Tem roupa espalhada pelo chão, pacotes e caixas de comida, garrafas de bebida — ela segura uma — e olhe que não são poucas. Como consegue beber tanto? Estamos no meio da semana e já está de ressaca! Não devia estar trabalhando?
— Muitas perguntas, não consigo raciocinar... — falo, tentando me sentar no sofá. Coloco as mãos na cabeça, que dor é essa?!
— Trabalho, Erika, não devia estar no trabalho?
— Eu me demiti. O dono era um escroto, não aguentava mais.
— Certo, assim como no bar há dois meses, na farmácia, nas diversas lojas...
— Pense pelo lado positivo: foi graças a essa minha rotatividade que a gente se conheceu — digo, lembrando-a do momento em que nos conhecemos, há uns anos, quando trabalhávamos como vendedoras. Depois que ela se formou, passou a dar aulas em escolas, enquanto eu continuo saltando de um emprego para outro.
— Você precisa parar em um emprego, e de preferência, em um mais estável e fixo.
— E como vou fazer isso?
— Que tal usar o seu diploma para variar? — fala, referindo-se ao meu diploma de direito, que consegui há pouquíssimo tempo.
— Não sei se consigo algo na área...
— Para isso você tem que tentar — ela chega perto de mim — eu sei que sua vida não foi fácil, mas tem que tentar deixar tudo no passado. Você não é mais uma garota, já é uma adulta. Tenta dar um jeito na sua vida, não sei se percebeu, mas está uma bagunça.
— Eu sei, eu sei, não precisa falar assim, "mãe" — destaco a última palavra para provocá-la.
Ela tem esse costume de sempre dizer o que tenho que fazer. Acho que por isso nunca tivemos nada; ela é bonita, mas não sentimos atração uma pela outra. Então nossa relação fica só no campo da amizade.
— Toma — ela me entrega um papel com o nome de um escritório, uma data e uma hora. — Quero que vá tomar um banho e passar uma maquiagem leve no rosto, precisa disfarçar essa ressaca. Aproveita e toma um café forte e veste a roupa que trouxe pra você.
— O que é isso?
— Você tem uma entrevista de emprego. Hoje, nesse horário e nesse escritório aí.
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Minha Salvadora
RomanceRomance Sáfico (Concluído) [Ainda não revisado] Há muitos anos, elas se encontraram uma única vez, durante uma das piores fases de suas vidas. A mais velha se lembra perfeitamente da outra, pois a observou ao longo dos anos, já que teve sua vida sa...