CAPÍTULO 10

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Damon

Acordei com um cheiro delicioso vindo do andar de baixo. Ainda estava na casa de Helena. Sentei na cama e passei os dedos sobre a palma ardida da minha mão, sorrindo abertamente por saber que ela ficará com minha marca por muito tempo.

Vesti meus jeans e desci as escadas, encontrando ela de costas para a bancada, cozinhando alguma coisa.

— Olhando assim, você até parece uma pessoa normal.

Ela deu um pulo, assustada, e eu ri da situação. Sim, ela parecia perfeitamente normal.

— O que foi Damon? — virou para me encarar. — Só porque matei alguém, enterrei e depois passei a noite fodendo, sou anormal?

Nós dois gargalhamos com o quanto isso soava ridículo.

— Senta, eu fiz ovos e bacon — avisou — Você toma café? Eu acabei de passar.

Encarei a mulher linda na minha frente, os cabelos castanhos tão longos, que eu perdia de vista. Seus olhos cor de mel pareciam conter constelações inteiras, e a boca rosada, guardava dentes brancos perfeitamente alinhados. A pele clara, macia e delicada, contrastava com as tatuagens brutas, e pela experiência que tenho com meu pai, sabia que algumas eram insígnias do submundo; conquistas de máfias marcadas na pele.

Não que precisasse delas para saber que Helena era perigosa, sua postura deixava isso muito claro.

Talvez fosse uma boa hora para tentar descobrir mais.

— Essa tatuagem significa sua primeira missão, não é?! — Apontei para a sua mão.

Ela travou com uma fatia de torrada a centímetros da boca.

— Você sabe que minha família vem de uma linhagem de mafiosos — tomei um gole de café. — Já conheço você o bastante para pensar que não tenha todo o histórico dos moradores dessa cidade!

Ela riu sem graça.

— Foi logo depois do fim do meu treinamento. Um teste para saber se eu tinha habilidade suficiente, e finalmente, fazer parte do submundo.

A primeira missão de um soldado ficava gravada na mão direita, demonstrando que matou pela primeira vez em prol da organização.

— Mas por que um lobo?

Ela tinha o rosto de um lobo negro tatuado com perfeição, e uma adaga da mesma cor, logo abaixo.

— Eu fui enviada sozinha para o Alasca, sem nada, apenas uma cabana lotada de armamentos e pouco suprimento. Ficava a 10km da civilização — seu olhar vagou, perdido em memórias. — Minha missão era identificar o esconderijo de um dos traidores da nossa organização, e acabar com sua vida.

Apoiei meus cotovelos na bancada inclinando o corpo para frente, totalmente interessado na história.

— Foi difícil encontrá-los! Demorou mais do que eu esperava, e acabei ficando lá por três meses após uma tempestade. A neve não permitia a viagem até a cidade, então, eu tive que sobreviver caçando e improvisando.

— Estilo vikings ein?! — Zombei.

Ela levantou o olhar e me ofereceu um meio sorriso. Recuei.

— Teria sido divertido, se os homens que eu procurava não me achassem primeiro — estalou a língua. — Eu era jovem e inexperiente. Eles me caçaram até eu me perder no meio da neve. Fiquei presa em uma caverna sem comida por sessenta dias, sobrevivendo de restos de animais mortos, carniças.

Puta merda, ela foi foda pra caralho.

— Até que uma noite, após dez dias sem comer, eu encarei meu fim — contorceu o rosto, encarando o mármore. — Estava deitada no chão da caverna, em frente a uma fogueira tímida, e pude sentir que meu corpo não queria mais viver. Meu estômago doía tanto pela fome, que eu gemia. Minha boca estava em carne viva pelo frio congelante e senti meu coração desacelerando lentamente, quase parando de bater.

Black Widow - Devil's Night Onde histórias criam vida. Descubra agora