CAPÍTULO 18

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Michael estava lá embaixo na quadra, podia ouvir a bola quicando daqui do quarto. Virei sonolenta para verificar o horário no relógio de cabeceira, 4:17 da manhã.

Que saco, Michael

Ele sempre fazia isso. Desde que os meninos foram presos uns meses atrás, ele não conseguia ter uma noite tranquila de sono, seu escape era o basquete.

Joguei a coberta para o lado e fui até lá.

Permaneci oculta no topo da escada, encostada na parede com os braços cruzados ao peito, admirando em silêncio. Michael estava sem camisa, usando um short branco com o número 98 em vermelho na lateral; folgado o suficiente para que a costura da sua cueca preta ficasse à mostra. Ele estava suado, o cabelo bagunçado e colado à testa. Várias gotas escorriam pelo seu corpo, deslizando no contorno dos músculos definidos.

Não importava quantas vezes eu visse, sempre me impressionava com a forma que sua mão quase fazia a bola desaparecer. Mordi o lábio, lembrando do quão gostoso era ter aquela mão grande em várias partes do meu corpo.

Michael parou no meio da quadra, batendo a bola no chão e passando por baixo de suas pernas, alternando entre elas habilidoso. Então disparou, quicando a bola rapidamente até agarrar com as duas mãos, saltando e enterrando na cesta. Ele soltou o aro e aterrissou no chão, apoiando as mãos no joelho e se inclinando, ofegante. Segurando um punhado do cabelo, arrancou alguns fios por ali.

Ele estava no limite.

Michael foi o único a ficar livre. Enquanto isso, seus amigos foram condenados há alguns anos de prisão e por coisas que fizeram juntos. Ele seguiu a vida, mesmo tendo culpa tanto quanto os outros. Ou pelo menos, era isso que os demais deviam imaginar. Ele estava longe de conseguir seguir com alguma coisa.

Damon levou a pior, já que não aceitou o acordo proposto pelo advogado da família Ashby, por pura e simples arrogância, pegou pena máxima por estupro. Winter o traiu, mais uma vez, testemunhando contra ele no tribunal. Aquela putinha que abriu as pernas de bom grado para ele, agora, afundava o garoto na merda que cavaram em conjunto. Michael precisou de muita paciência durante várias e várias semanas, para me convencer a não matar a adolescente.

Mas não diria que desisti, de fato.

Dentre todos, o garoto rebelde era quem me tirava o sono. O cara era cabeça dura e não aceitou nossa proteção, no lugar, enviou uma carta mandando Michael enfiar no rabo a ajuda. Apesar de cada pedacinho meu implorar para isso, não fui visitá-lo até hoje, achei melhor para Damon manter distância. Mas na semana passada, recebi a notícia que ele estava sendo mantido na solitária, desde o primeiro dia, e isso me fez sair de casa várias vezes em direção a penitenciária, mas acabei retornando no meio do caminho em todas elas. Covarde. Enfim, ele estava separado por ordens do diretor do presídio. Não tomava sol no mesmo horário que os outros, não comia no refeitório, não tinha contato com ninguém além dos carcereiros. Isso com certeza devia estar tornando a personalidade dele, que já era ruim o bastante, mil vezes pior. É claro que fiz minhas pesquisas sobre quem era esse homem e o motivo que teria em fazer isso com Damon, mas não achei nada que justificasse. O maldito estava limpo. Desde então, me esforcei para encontrar esse desgraçado, que conhecendo quem protegia Damon, fugiu. Porém, não tive sucesso. Ainda. Mas o farei, e quando colocar minhas mãos nele, o pedaço de bosta vai pagar com sangue!

Michael não sabia de nada disso, eu optei por não contar, ele já se sentia culpado o suficiente. Tanto que até hoje, não conversamos sobre nós dois ou sobre Damon e Rika, apenas seguimos nossos dias juntos, um dando suporte para o outro. Um mais perto do limite que o outro.

Desci as escadas em silêncio e peguei uma bola solta pela quadra. Michael não notou minha presença, então bati a bola algumas vezes no chão para chamar sua atenção. Ele se virou com o rosto retorcido, ainda respirando com dificuldade e perdido nas torturas que sua mente o colocava.

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