CAPÍTULO 14

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Michael
Um ano depois

Parei em frente ao jogador adversário com os dois braços esticados, fechando os espaços que ele teria para passar a bola.

“Estou aqui Michael.
Não quero mais ninguém”

O segundo que me distraí com a lembrança foi suficiente para ele encontrar um caminho e se livrar da minha marcação. Meu rosto esquentou e a raiva me cegou. Corri atrás dele com a visão embaçada, no momento que o alcancei, joguei meu ombro contra ele com toda força, fazendo com que caísse desajeitado no chão. Ofegante, olhando para ele gemendo e se contorcendo de dor ao aterrissar todo torto em cima do braço, ouvi o juiz apitar. Pelo canto do olho, o amarelo do cartão ao alto direcionado para mim, ficou nítido.

Meus olhos permaneciam presos no chão, o corpo vibrava e o ar faltava nos pulmões.

Que inferno

Eu não conseguia fazer mais nada. Não tinha um descanso, uma folga dos meus pensamentos. Quando a tormenta se encontrava dentro de nós, fugir era algo impossível.

—  Precisa de um tempo? — Matthew, o ala do time, perguntou.

— Estou bem.

— Tem certeza? — Insistiu — Já é sua quarta ou quinta falta, nesse ritmo será expulso.

Enxuguei o suor da testa e dei as costas, deixando ele para trás.

O jogo foi bom, ganhamos com uma diferença grande de pontos, então todos estavam relaxados e satisfeitos, rindo alto no vestiário. Menos eu, que não consegui entregar meu melhor hoje. Aliás, não vinha conseguindo há um tempo.

— Michael — o técnico me impediu de sair pela porta —, o que está acontecendo com você?

—  Nada. Hoje foi um dia ruim, só isso.

— Agora que você está a um passo da liga nacional, tem olheiros por toda parte, em cada um dos seus jogos — suas palavras eram duras, mas seu olhar paterno, de alguém que se preocupava genuinamente —, você não pode vacilar, garoto!

— Não vou!

— Use esses dias de férias para colocar a cabeça no lugar, é seu futuro que está em jogo aqui! — Ele apertou meu ombro em um gesto de apoio.

Confirmei com a cabeça e saí, mas sua voz atrás de mim me parou mais uma vez.

— Lembre-se Michael: só merece nossos sentimentos, quem se preocupa com eles.

No fim, ele estava certo. Mas não era como se eu pudesse ensinar meu coração sobre isso.

O basquete esteve presente na minha vida desde sempre. Era com ele que comemorava os dias mais felizes e onde afogava minhas frustrações nos mais difíceis. Mas agora, não tem tido mais serventia como fuga, principalmente quando estava há alguns dias de revisitar aquela cidade. Algo que tenho evitado nesse último ano, mas que já havia passado da hora de enfrentar. Meus pais estavam cansados de pedir uma visita e meus amigos cobravam minha presença, e a eles eu devia esse esforço. Então, nada mais justo que uma última devil's night para fechar com chave de ouro esse passado, ao bom e velho estilo dos cavaleiros.

Estava animado, excitado pela energia de caos e liberdade que somente aquelas máscaras entregavam. Mas ao mesmo tempo que desejava viver isso novamente, uma parte minha implorava para não ir a Thunder Bay e encerrar esse ciclo. Alguma parte que estava apegada demais naquele passado para conseguir soltar a corda.

Mesmo que ela já estivesse cortando a pele.

***

Era incrível o poder que dias nublados tinham em tornar tudo mais melancólico. Como se fosse possível a tormenta do meu peito ficar ainda pior.

Black Widow - Devil's Night Onde histórias criam vida. Descubra agora