CAPÍTULO 24

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Michael 

— Anda cara, você precisa comer! — Kai apontou para o prato na minha frente.

Olhei para a comida gelada, no mesmo lugar que ele deixou horas atrás.

— Não enche!

Sentando-se na poltrona em frente ao sofá que estou, apoiou os cotovelos nos joelhos e inclinou o corpo para frente.

Ele estava tão exausto quanto eu. Não apenas por me acompanhar nas madrugadas à dentro, em que reviramos as informações que tínhamos vezes o suficiente para decorá-las. Mas também, se martirizando por não encontrar nada útil. Kai podia fingir o quanto quisesse, mas eu via em seus olhos o quanto sofria com a… com o sumiço de Helena. 

— Alguma novidade? — Gesticulou para o notebook no meu colo.

Fechei a tela, jogando o computador para o lado e pegando meu celular, conferindo se havia alguma notificação.

— Nada! — Bufei, arremessando o aparelho sobre a mesa de centro e deixando minhas costas caírem contra o encosto do sofá — O detetive Morse andou em círculos até agora e não chegou a lugar nenhum.

Kai se levantou, indo até o bar no canto e enchendo um copo.

Percebi que o movimento foi lento demais, mostrando uma hesitação em seguir com o que pretendia. Um modo de ocupar as mãos nervosas para continuar, seja lá o que pensava em fazer, ou falar.

— Sabe cara — sua voz foi baixa —, talvez você devesse aceitar.

Fechei as mãos em punhos e cerrei os dentes.

— Que porra você está falando?

Ele se virou, segurando o copo com uma mão e colocando a outra no bolso da calça. Seu olhar encontrou o meu, mas ele não foi capaz de sustentar a fúria que estava neles e rapidamente desviou os olhos. 

— Aceitar que ela se foi, cara! — Falou, quase sussurrando, mirando um canto qualquer no chão.

Levantei do sofá sentindo minha pele pinicando e o sangue correndo rápido, esquentando meu pescoço. O nó na garganta estava ali, onde fazia morada há mais tempo do que podia contar. Me sentia uma casca oca ambulante e estava tão familiarizado com essa sensação, que começava a achar que esse era meu estado normal.

— Nunca mais fale essa merda!!! — Gritei, sem perceber que a voz subiu tanto.

Dei as costas e subi as escadas, entrando no quarto de hóspedes e batendo a porta com força. Esse se tornou meu quarto, já que não conseguia mais sequer entrar naquela suíte. O cheiro dela parecia impregnado em cada tijolo daquele cômodo, como se fosse construído por ela. Tudo ali tinha algo seu e mesmo que eu tivesse mandado tirar todos os móveis e deixado o quarto com nada mais que o chão e as paredes, ela ainda estaria ali, marcada no lugar que a amei dia após dia. No lugar que absorveu nossos gemidos, nossas risadas, nossas lágrimas e nossos planos. Mesmo que ela evitasse os fazer, dizendo que o futuro não podia ser programado, ainda lembrava do quanto se empolgava com minhas divagações.

Morse encontrou o carro em que Helena e Lucas estavam logo depois que telefonei para ele, abandonado na estrada há 15 km de Dawson. Quando cheguei, me deparei com uma verdadeira cena de guerra. Vários cartuchos e cacos de vidro espalhados pelo chão, fumaça preta subindo de trás das árvores em direção ao céu nublado e pedaços de ferragens do carro batido.

Ao me aproximar, encontrei o veículo chocado de frente com uma árvore, pendendo de lado no barranco e completamente destruído, perfurado por tiros. O capô estava dobrado ao meio, e era dali que vinha a fumaça densa. A porta do carona arreganhada, deixava a bagunça de sangue visível mesmo de longe. Havia respingos por todo lado, mas a maior concentração era no banco onde havia uma poça vermelha enorme. Segui com o olhar o caminho carmesim pelo chão e estremeci no mesmo momento, com medo de me deparar com algo que não queria. As manchas eram contínuas, como se alguém ferido tivesse sido arrastado pela grama. Mas não havia ninguém ali. Kai e Will se espalharam pela mata e também não encontraram nada.

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⏰ Última atualização: Nov 18 ⏰

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