CAPÍTULO 12

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Michael

Havia acabado de me despedir de Kai e me direcionar para a casa, quando o som de um carro esportivo a toda velocidade me chamou a atenção. Virei o pescoço, vendo a Lamborghini de Helena prestes a bater de frente em um caminhão e saí em disparada portão afora. O caminhão buzinou e ela pisou bruscamente no freio, fazendo o carro girar na pisa várias vezes.

Meu peito apertou e minhas pernas travaram, apenas com a possibilidade de perdê-la. Mas o carro simplesmente parou, atravessado na estrada. Corri até ela batendo na janela várias vezes, mas sem resposta. Estava prestes a quebrar o vidro quando ela abriu a porta, e o que vi, quase me pôs de joelhos.

Helena usava um vestido vermelho, ou o que sobrou dele. O tecido estava todo rasgado, deixando seus seios quase todo à mostra. De cabeça baixa e em silêncio, ela encarava fixamente o chão, com as mãos ao lado do corpo e os ombros caídos. Dei um passo em sua direção, notando pela luz fraca do poste na rua, o nariz e a boca cortados e o olho esquerdo com um grande hematoma roxo. Seus cabelos presos em um rabo de cavalo estavam bagunçados, com fios caindo sobre o rosto e grudando no sangue espalhado pela pele. Sem conseguir me mexer ainda, desci o olhar, acompanhando o líquido carmesim que parecia vir das costas, escorrendo pelos braços. Ela estava muito machucada e com sangue por todo o lugar, mas o que me tirou do sério, foi aquele que descia pelo meio das suas pernas.

Não, não posso acreditar nisso.

Comecei a tremer, agora nas minhas veias, corriam rios de lava ardente. Meu peito trazia consigo uma rachadura funda e um sentimento de incapacidade gigante que me sufocava. Meu olhos inundaram com lágrimas de puro ódio misturado com impotência e uma vontade absurda de riscar um fósforo agora e explodir a merda desse mundo, desde que pudesse concertar qualquer parte dela que se encontrava em ruínas ali dentro.

Helena respirava com dificuldade, puxando o ar de forma curta e rasa, os olhos vidrados ao longe, tão dilatados, que pouco do caramelo ficava visível. Pensei na forma como ela devia estar remoendo a situação, as cenas passando repetidas vezes na sua cabeça, torturando, massacrando e pisoteando sua alma. Precisava tirar ela desse transe. Levantei a mão com cuidado e afastei os fios de cabelo do seu rosto e ela trouxe os olhos aflitos para os meus.

— Quem fez isso com você?

Tudo que eu mais queria agora, era um nome. Só precisava de um maldito nome.

Ela contorceu o rosto e começou a balançar a cabeça freneticamente, à beira de um colapso. Passei um braço por trás dos seus joelhos e outro no meio das suas costas para pegá-la no colo, e no mesmo momento, senti o líquido quente tocar meu antebraço, em maior quantidade nesse local, assim como algo rígido e cortante preso na pele da sua coluna. Não tive tempo de cessar o movimento antes do seu grito desesperado de dor cortar o ar.

Eu nunca mais esquecerei esse som, o grito mais angustiante que já ouvi na vida, entrou pelos meus ouvidos e se aninhou em algum lugar na minha mente, e vai me atormentar nas noites mais frias.

Quando estava alcançando a porta, Trevor passou por ela com uma feição curiosa, como se viesse conferir que merda estava acontecendo. Mas assim que viu a mulher em meus braços, congelou. Os olhos do meu irmão disparam entre nós dois e ele pareceu prestes a desmaiar.

— Tire o carro dela do meio da rua e guarde na garagem — ordenei, passando apressado por ele e sem ouvir sua voz em resposta.

Subi as escadas o mais rápido que pude. Helena estava em silêncio, com o rosto afundado no meu pescoço e a mesma respiração entrecortada. Entrei no quarto, prestes a colocá-la na cama quando ela levantou a cabeça para protestar.

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