CAPÍTULO 17

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Helena
Dias atuais 


As tábuas velhas rangeram com o meu peso ao caminhar pela varanda. Estou em uma velha cabana no pico da floresta, onde podia ver quase toda a cidade e contava com uma vista privilegiada do mar à frente. Chegar aqui levava em torno de vinte e cinco minutos de caminhada, por uma pequena trilha onde espalhei alguns sensores de movimento. O interior era minúsculo, todos os ambientes conjugados e os móveis, mais velhos que a própria casa. Mas tinha tudo que eu precisava.

Preparei essa cabana na primeira vez que estive em Thunder Bay. Tinha esse costume, todo lugar que já trabalhei tinha algo parecido com isso, para caso eu fosse pega desprevenida e acabasse encurralada.

Vim para cá com Michael depois da festa de ontem e já podia sentir os efeitos de ter passado a noite em claro, transando loucamente.

Soprei o líquido fervendo na xícara e selecionei o número que precisava no telefone.

— Espero que valha a pena, Helena — a julgar seu tom de voz, ele me daria um soco pela tela se isso fosse possível. — Porque você acabou de impedir minha foda!

Engasguei, cuspindo o gole do café que havia acabado de colocar na boca.

— O que foi espectro — ele bufou uma risada. — Você não transa?

Limpei a boca com as costas da mão, tirando as gotas que escorriam ali.

— Sim Lucas, valerá a pena — depois de mais algumas tossidas, consegui finalizar. — E sim, eu transo.

Ouvi sua risada acalorada do outro lado e também sorri.

Lucas era um grande amigo, o único que sobrou do Brasil. Ele gerenciava o tráfico de drogas em São Paulo e comandava um dos maiores e mais organizado exército do submundo brasileiro. Nossos caminhos se cruzaram quando fui designada a eliminar seu rival. Ele contratou os serviços de Claus, que me enviou, mas tudo saiu do controle quando o alvo foi mais rápido, sequestrando Lucas e o torturando por cinco dias, até que eu achasse o esconderijo e o tirasse de lá. Nós acabamos ficando próximos após isso, e desde então, todo alvo que ele encomendava, exigia que fosse eu a executar.

Tenho ele como um irmão mais velho, já que conseguia ser tão irritante quanto.

— Mas não comigo, não é mesmo?

Lucas nunca se cansava de dar em cima de mim, na verdade, achava que já havia se tornado uma mania.

— Quem sabe na próxima vez — ri alto, imaginando o quão ruim seria.

— Diga logo, o que você aprontou dessa vez?

Meu sorriso sumiu e voltei para a vida real, onde quem eu amava, estava por um fio de não participar mais dela.

Amor

Fiz uma careta para a palavra que jamais imaginei estar entre meus pensamentos.

— Claus me traiu — resumi a história. — Me enviou às cegas para um antigo inimigo, sabendo que ele me reconheceria e me mataria assim que pusesse os olhos em mim.

Ele ficou silêncio, mas ouvi quando um vidro se quebrou.

— Eu vou matar aquele desgraçado! — Lucas berrou.

Ergui o rosto para o céu, deixando a luz fraca do dia que nascia, penetrar meus poros, tentando respirar e me manter calma.

— Eu farei isso, Lucas — minha voz era sombria. — Mas preciso da sua ajuda para impedir que ele mate algumas pessoas que me importo antes.

— Considere feito! Apenas me mande sua localização que estaremos aí o mais rápido possível!

Sorri com a ciência de que ele não me responderia outra coisa. Lucas nunca me negou nada, e se o fizesse, eu cortaria sua garganta. Já fiz muita merda para salvar seu traseiro.

Black Widow - Devil's Night Onde histórias criam vida. Descubra agora